sexta-feira, 17 de junho de 2011

TIRO DE GUERRA 04-151

Foto de Suzana Fontes publicada no blog www.fotolog.com.br/suzanafontes/85708395.

Capítulo 6 - A Batalha Havaiana

- Atirador 18, do Tiro de Guerra 04-151! - eu me apresentei, mas minha cabeça ficava martelando “cadê o 39?”, “cadê o 39?”.
- Cadê o 39? – perguntou o Sargento.
Gelei. Se eu falo que ele não chegou, eu teria que ter informado antes. Se eu falo que ele chegou, ele vai mandar chamar.
- É o seguinte, sargento... ele... – mas, desta vez, a sorte me sorriu, e também o 39, que chegou com uma garrafinha na mão e na maior tranquilidade, apesar do atraso.
- Dezoito, disse o sargento, você sabe que tem que estar todo mundo fardado na hora do arreamento da bandeira, não é? Eu concordei. Pois é, mas eu quero todos fardados depois do almoço, porque o Diretor do Tiro de Guerra, o Dr. José de Castro Azevedo, vem nos fazer uma visita aqui à tarde.
Eu conhecia o Dr. José de Azevedo, era, além de 2º Tenente, o Juiz de Direito da cidade, uma pessoa que a minha mãe definia como “bonachão” e eu achava que era gordo. Mais tarde, descobri que se tratava de uma pessoa que tem uma bondade natural. E o adjetivo fazia jus à pessoa. Mas, como nosso comandante já era estudante de Direito, imaginei que ele iria querer fazer bonito com o Juiz, e fiquei mais preocupado ainda.
- Ô, 18! – chamou novamente o Sargento, tome estas colchas, são novinhas, e amanhã, antes de passar a guarda para o 31, estenda nas camas. Mas, olhe só, EM HIPÓTESE ALGUMA, vocês devem usar estas roupas de cama. É só para ficar nas camas amanhã!
- Sim, senhor.
Feita toda essa preleção, iniciamos o serviço, com aquelas tarefas de rotina: varrer o pátio, limpar os banheiros, arrumar a sala do Sargento.
Quando chegou a hora do almoço, já estava quase tudo pronto, e fui liberando os atiradores para irem almoçar em casa, mas que retornassem com as fardas, que, a esta altura, já deveria estar lavadas e passadas. O 12 e o 15 foram primeiro e, quando voltaram, fomos eu e o 39.
Quando eu retornei, todos já estavam na sede, e, como já eram quase três da tarde, pedi que vestíssemos as fardas, pois receberíamos a visita do Diretor do Tiro de Guerra. Fomos para o banheiro, vestimos as fardas, e fui conferir se a sala de instrução estava de acordo, para não darmos vexame.
Os três atiradores vieram, todos com as fardas passadinhas, mas uma coisa me chamou a atenção: o 39 estava de farda, mas calçado com uma sandália Havaiana!
- Cadê o seu coturno, 39? – perguntei, um tanto apreensivo.
- Uai, ficou lá em casa, 18! Você disse que era pra trazer a farda, aí eu trusse.
Uma notícia desse tipo não podia ser pior (o cara morava lá nas Casas Populares), mas, em se tratando de Tiro, sempre pode piorar:
- 18! 18! – veio correndo o 15 – O home tá chegando aí com o tal juiz, já estão subindo as escadas.
Se, pelo menos, naquele tempo, as sandálias Havaianas tivessem a fama que têm hoje, talvez eu até pudesse impressionar os meus chefes, mas, como apresentar uma guarnição com um cara de farda e chinelo?
Escutei a porta da frente se abrindo. E agora?
Leiam, na próxima semana, a estratégia para sair desta emboscada. E mais: pancadaria, ataque à sede, e um acidente que jamais deveria ter acontecido. Não percam!

(Crônica: Jorge Marin / Ideia original: Serjão Missiaggia)

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