sexta-feira, 3 de junho de 2011

TIRO DE GUERRA 04-151

Foto publicada no blog parlapatonices.blogspot.com

Na semana passada, a situação não podia ser mais caótica: era o dia do meu aniversário e eu estava tentando me livrar da guarda. Mas, aquele dia não era especial apenas porque eu já estava atingindo a marca de 19 anos (tô ficando velho, eu pensava), mas, principalmente, porque o Tiro de Guerra estaria sendo vistoriado por um representante do Ministério do Exército. Ou seja, tudo teria que estar na mais perfeita ordem. E estava. A não ser por um pequeno detalhe: banheiro entupido. Só isso. Quem serviu o Tiro de Guerra, sabe bem o que acontece se o banheiro não está em ordem. Imaginem no dia em que o homi lá de cima vinha!
Bem, mas o “nosso” homi chegou. Sem saber o que fazer, e começando, eu mesmo, a sentir uma dor de barriga, me apresentei, e começamos a fazer a vistoria.
Naquele dia, o Sargento estava especialmente bem arrumado, até o perfume estava diferente e, estranhamente, estava bem humorado (até quando? – pensei). Após verificar a guarita, o corredor de entrada, a secretaria e sua sala, começou a se dirigir em direção ao... banheiro! Caminhando ao lado dele, eu ia fazendo a apresentação de cada cômodo da sede. Teve um momento em que eu pensei que ia começar a chorar, quando, de repente, me lembrei que, de praxe e para simples averiguação, ele costumava dar sempre uma puxada naquelas cordinhas dos vasos. Imaginem o retorno daquela aguaceira fedorenta nos seus pés! Não quero nem pensar.
À medida em que nos aproximávamos do banheiro, minhas pernas tremiam ainda mais. Uma discreta vontade de também visitar aquela trincheira salvadora só ia aumentando.
Foi aí que tive uma brilhante ideia: procurei entrar no banheiro antes dele e me posicionei bem em frente à porta daquele que seria o vaso recém-bombardeado. Algo me dizia que ele iria averiguar os outros dois, mas não iria me pedir licença pra inspecionar aquele no qual eu estava. E não deu outra! Ao passar por mim, dirigiu-se aos outros dois puxando, de imediato, a cordinha de descarga. Foi quando atinei que teria me estrepado de vez, pois, de tão nervoso e apressado não havia percebido que, ao me posicionar, havia me enganado e ficado perfilado NA PORTA ERRADA. Já era tarde demais!
Fechei os olhos. Só escutei o barulho da descarga e a sensação de que algo iria transbordar a qualquer momento.
Mas, para minha sorte, ele, neste dia, foi super-rápido e se retirou rapidinho, nem mesmo observando o funcionamento das privadas. Enquanto fui saindo por último, ainda pude escutar aquele aguaceiro começando a escorrer pelo banheiro. Fechei a porta mais do que depressa e deixei a coisa detonar sozinha lá dentro.
A seguir nos dirigimos para o pátio. Ao perfilarmos para a chamada, pude perceber que o 40 havia desaparecido. Alguém, naquele momento, cochichou ao meu ouvido que ele havia se dirigido a um posto avançado, e que teria se entrincheirado no terreno baldio ao lado, bem debaixo de uma goiabeira. Minhas lições de grupo de combate haviam dado certo, pensei.
Para finalizar esta crônica, gostaria de dizer que fui um dos felizardos em ter tido a oportunidade de servir o Tiro de Guerra. Ali, conheci amigos verdadeiros (Irmãos de Guerra), tive meus primeiros contatos com uma disciplina rígida que, por sinal, muito veio me ser benéfica no futuro. Solidifiquei meu respeito à hierarquia, sem deixar de lutar pelos meus direitos e acertos. Pratiquei o dom da humildade, nos momentos de baixar a cabeça e apenas escutar.
Presto aqui também uma singela homenagem ao nosso eterno comandante, Capitão José Carlos Matildes dos Reis, pra nós sempre Sargento, que, por longos anos, soube conduzir, com muita dedicação, honradez e amor, nosso inesquecível TG 04-151
Aos meus irmãos de guerra que se espalharam por este Brasil a fora deixo meu caloroso abraço. Com certeza, cada um de vocês guarda na mochila muitas histórias pra contar.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

4 comentários:

  1. Neste ano de 75 aconteceu um fato também muito interessante.
    Era uma manha de sábado e haveria naquele dia Grupo de Combate. O local como todos ainda deverão se lembrar era naquela montanha que ficava no caminho para os Núcleos.
    E assim saindo em marcha e cantando vários hinos passamos próximo ao asilo e começamos a subir aquela cansativa estradinha.
    Mal havíamos acabado de chegar quando extremamente exaustos e suados vimos surgir nosso amigo Gercizinho, estacionando sorrateiramente seu famoso Jipão debaixo de uns arbustos. De farda impecavelmente limpa parecia que estava chegando pra um piquenique.
    O Sargento fingindo se alienar daquele fato, por sinal um tanto pitoresco, iniciou normalmente os exercícios de combate e como se nada tivesse acontecendo, deixou que o 14 se juntasse ao resto da tropa. Após o termino daquelas cansativas manobras quando, já estávamos literalmente no bagaço, fomos instruídos a entrar em forma e assim como na vinda retornarmos novamente marchando e cantando até a sede.
    O cansaço era tanto que já tinha atirador até andando pra traz.
    Após chegarmos, ainda mais exaustos e famintos, antes que canalizássemos nossas ultimas energias para começar subir a avenida, o Sargento perguntou em alto e bom som pra tropa: “Por acaso aquele Jipe que ficou camuflado lá em cima era de algum de vocês?”
    E lá se foi o Gerci, P da vida, solitariamente e quase arrastando de cansaço, fazer todo o percurso de volta e assim resgatar seu Jipão no meio do mato.
    Bons tempos!!!

    Atirador “40”

    ResponderExcluir
  2. Essa quem contou foi o meu saudoso pai:
    Teve uma noite que havia caído um temporal na cidade e o local de instruções virou puro barro.
    Enquanto todos os atiradores estavam enlameados rolando pelo chão eis que aparece nosso inesquecível Caxambu todo arrumadinho debaixo de guarda chuva, sapato engraxado e impecavelmente vestido querendo saber se haveria instrução.

    ResponderExcluir
  3. Rege a lenda que certa vez o Tiro de Guerra foi fazer uma caminhada até Roça Grande e pra descansar fizeram uma breve parada no trevo pra rapidamente recolocar as mochilas e continuar a caminhada.
    Pouco mais adiante observaram que havia sumido um atirador mas mesmo assim seguiram em frente.
    So depois quando já estavam retornando é que foram deparar com o tal atirador que ainda no trevo tentava a todo custo recolocar a mochila nas costas.
    Por Zeleno

    ResponderExcluir
  4. Nilson Magno Baptista4 de junho de 2011 às 15:19

    Caro Serjão,gosto demais de suas crônicas pitorescas e bem humoradas.Sua veia literária e seus comentários jocosos e hilariantes ,assim como as opiniões acertadas do Jorge Marin sobre o cotidiano das pessoas são certamente o motivo do grande sucesso alcançado pelo blog.Parabéns aos dois grandes pytombenses.Forte abraço.

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL