quarta-feira, 22 de junho de 2011

NUM QUINTAL QUALQUER DE SÃO JOÃO

Foto de Vale da Neblina (PB) disponível em flicker.com

Normalmente, tento não ser saudosista, porque há uma tendência a se pensar nos tempos antigos como “bons tempos” e até uma ideia – falsa – de pensar que antigamente as pessoas eram melhores, quando, na realidade, talvez nós é que fôssemos mais felizes porque mais jovens, mais entusiastas e mais energéticos.
Mas, nos últimos dias, tenho sido vítima do que minha mulher chama de ataque de nostalgia, e tenho me lembrado de detalhes incríveis do quintal da minha casa de menino. Confesso que tenho pena das crianças e dos jovens dos dias de hoje porque nada, mas nada mesmo, pode se comparar à explosão de vida que eram os quintais do nosso tempo de infância.
Tínhamos um pé de limão que é até uma indelicadeza chamá-lo assim porque, de fato, era um enorme limoeiro, com galhos enrodilhados e espinhos enormes e, pensando nele hoje, era como se fosse uma galáxia, pois abrigava, em suas flores, uma colônia de abelhas que ali retiravam o pólen e conviviam pacificamente conosco. Não exagero quando digo galáxia: quem se aproximasse podia ouvir o zumbido constante das abelhas e sua movimentação frenética.
Mas a explosão de vida não parava por aí: tínhamos uma goiabeira, umas oito mangueiras, além de um pé de limão-mexerica, de jabuticaba, fruta do conde, carambola, amora, pitanga, laranja, lima, e mais bananeiras, além de outras árvores bobas, que não davam nenhum tipo de fruto. Sem contar a horta, com couve, alface, tomate, abóbora, cebolinha, chuchu, jiló, inhame, e salsa, hortelã, camomila e outro tanto de ervas que eram usadas para tratar dos mais diversos tipos de doença.
Do outro lado, no quintal do meu padrinho, Manoel Florindo, que foi o sacristão do Padre Trajano, ficavam as criações: galinhas de todos os tipos e, às vezes, um pequeno chiqueirinho, com uma leitoa. O meu padrinho passava as tardes esculpindo, em madeira, os mais diversos brinquedos e utensílios. Fazia tabuleiros de dama, carrinhos – até mesmo grandes para a gente dirigir, resta-um, bilboquê e um sem número de espadas, tudo entalhado, lixado e polido.
Este post está parecendo uma redação escolar, mas, lembrar de tudo isso, me remete ao meu tempo de criança, tempo em que não precisávamos desejar, porque tínhamos tudo: arco e flecha, bola, atiradeira, bodoque, jogo de botão de tampinha de relógio, coleção de papel de cigarro pra fazer cinto e até índio de brinde do Toddy.
Chego com meu filho da escola e, ainda com o quintal na cabeça, ele me pede pra ir numa destas lanchonetes de fast food. Aproveito que, inspirado, fiz umas compras, e pergunto se ele sabe a diferença entre laranja e mexerica. Ele diz que não. Peço que ele se sente à mesa, e começo a exibir minhas preciosidades: isto aqui é uma mexerica, isto é uma tangerina, uma ponkan, uma laranja campista, e esta última uma laranja pera natal. Ele se encanta: como não tinha intimidade, achava que tudo era laranja. Ensino a descascar uma mexerica. Depois descasco uma laranja, peço para girar a casca enquanto falamos o alfabeto; digo que, quando a casca se romper, guardar a letra, pois essa será a inicial do nome da sua futura mulher. Por um momento, consigo conquistar a audiência, batendo Ben 10 e até o Chaves.
A mãe dele pergunta o que estamos fazendo e ele responde: o pai tá dando uma aula de cítricos, mamãe!
Ainda penso que achar o que não se procura é mais fácil do que procurar o que já se perdeu...

(Crônica: Jorge Marin)

3 comentários:

  1. Meu amigo,
    E o incrível pezinho de maçã que ficava logo ali na entrada da cozinha, bem ao lado de uma roseira? Por sinal, era o único pé de maça da região. Lembro-me bem da dedicação dispensada por dona Olga e o Sr. Irénio com eles. Eu achava super interessante quando os via colocar, com muito carinho, algumas pedras de gelo para amenizar o calor.
    Triste é ver que hoje não se pensa duas vezes pra derrubar uma arvore.
    abraços
    Serjão

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  2. Verdadeira riqueza esta de poder conviver dentro de casa, todos os dias, com a natureza e com as pessoas a quem se ama!
    Se não podemos ter quintais, vale a pena o esforço de aproveitar as praças e parques disponíveis com a família e os amigos.
    Um abraço.
    Sylvio.

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  3. Amigo Jorge,tentei resistir,não comentar sobre o quintal de minha casa,mas não teve jeito.Tenho que confessar: a saudade é muito grande,difícil de esconder.Nosso quintal era enorme,parecia de uma fazenda.Tínhamos criação de galinhas,coelhos,perus,cabritos,leitão.Os cães eram um capítulo à parte : Pic,Perí e Rex eram a alegria da casa.Tínhamos no quintal frutas como figo,pêssego,caqui,côco,abacaxi,laranja,tangerina,mexerica,amora e muitas outras.No entanto,o que fazia mais sucesso era o grande forno,junto ao fogão a lenha que tínhamos numa coberta .Meu pai gostava de colocar ,todos os anos,perus e leitões para assar,na época de Natal e fim de ano.Era bom demais...No entanto,ficou apenas a saudade!Nilson Magno Baptista.

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