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Capítulo 3 - O resgate do Soldado Raio (ou do raio do soldado)
NO ÚLTIMO CAPÍTULO, como bem recordam, estava eu, na esperança de poder passar o serviço e curtir a minha merecida festa de aniversário, quando um colega, movido a resíduos de frango com quiabo, invadiu a brancura dos banheiros. Percebendo que a guerra química começara, esperei. Como a coisa tomou um rumo destruidor, tive, como comandante da guarda, que intervir.
Ai não teve mesmo jeito. Com um pedaço de toalha camuflando o nariz, avancei de encontro ao fogo cruzado e, perigosamente, me aproximei daquela trincheira mortal. Comecei a implorar pela rendição do amigo-inimigo, insistindo que arriasse logo a munição e deixasse meu vaso em paz. Pensei em arrombar a porta, pois alguém já havia gritado, lá fora, que o sargento já estava subindo as escadas. A esta altura do campeonato, os gases letais já haviam arrasado meio quarteirão e, literalmente, provocado uma evacuação em massa da tropa, ou seja: evacuaram todos, da sala para o pátio, restando, na linha de frente somente eu, o 40 e o cheiro. No desespero, cheguei a pensar numa ação evasiva pelos flancos, mas um pequeno basculante impediria o êxito da retirada.
Meu Deus! E se o home chega aqui agora, pensava eu, enquanto o 40 não parava de bombardear o meu vaso. Como se não bastasse, ainda tive que ficar escutando o danado praticar, numa voz trêmula e em alto e bom som, aquela oração do atirador. Lembram?
“Empunhei o fuzil pelo delgaaaaaaaaado, coloquei no cavaaaaado do ooooombro...” Segundo ele, tratava-se de uma técnica de guerra, que usava sempre nos momentos de cólicas rebeldes. Pra mim, parecia mais uma forma de tortura.
Enquanto isso, não aguentando mais aquele odor insuportável, e que vinha acompanhado da bendita oração do atirador, abandonei, por momentos, a linha de frente, e fui lá fora no pátio, tentar convencer o resto da turma a se reorganizar e retornar novamente aos seus postos. E, para minha sorte, foi o que aconteceu.
Mas, quando tudo parecia resolvido, eis que meu amigo aliviado aponta a cara no corredor e diz:
- Obrigado 37, você me salvou! Só que tem uma coisa: joguei tanto papel que entupi a privada!
Ih, danou tudo! Lá se foi o meu aniversário!
Naquela altura da batalha, o negócio era enfiar a mão e tentar desentupir de qualquer jeito. Nada seria pior do que dobrar a guarda e, justamente no dia da minha festa!
Nisso, escutei estacionar o Fusquinha do Sargento próximo à sede. Gelei de vez. A seguir, escuto o barulho do trinco do portão se abrindo. Agora só mesmo São Raimundo pra me salvar, imaginei. Deixei o banheiro de lado e, como se nada tivesse acontecido, fui, mais que depressa, ao encontro do meu superior, para me apresentar. Tudo acompanhado pelos olhares assustado dos demais. Um verdadeiro ensaio para possíveis traumas de guerra.
É tudo ou nada, pensava comigo mesmo, enquanto caminhava ao encontro do meu destino que, naquele caso, era o Sargento.
Após recebê-lo no corredor de entrada, fui, de imediato, lascando aquela continência e dizendo a célebre e famosa frase:
- Atirador 37, do TG 04 151! Serviço sem Alteração!
As pernas tremiam, pois sabia que teria que conduzi-lo, em revista, a cada setor da sede.
Na guerra, quando perdemos um membro, ou perdemos algum sentido, muitas vezes a melhor solução é esquecer. E assim fiz: não existe banheiro, não existe banheiro, não existe banheiro. Até que...
Não percam, na próxima semana, mais uma batalha...
(Crônica – Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
ÊTA TEMPO BOM DO TIDIGUERRA
ResponderExcluirAGENTE ERA FELIZ E NÃO SABIA