Frame do filme Full Metal Jack (Nascido para Matar), de Stanley Kubrick
Capítulo 1 - De guarda
Fim de mais um dia de instrução, e eu, fatigado, morrendo de fome, via meu nome ser estampado na escala do quadro-negro da sala de instrução do Tiro de Guerra.
Não acredito! Logo hoje? E justamente na véspera do meu aniversário?
Pra piorar ainda mais a situação, era uma sexta-feira, e uma pequena festa já havia sido programada por parentes, amigos e namorada.
Bem! Nem tudo estava perdido, pensei! Pelo menos, estamos na véspera e não no dia.
E assim, muito a contragosto, lá pelas cinco e trinta da tarde, vesti a velha farda, calcei meu coturno, firmei o manual pelo sovaco, peguei meu pão com queijo e minha garrafa térmica de chá-mate e me mandei em direção à avenida. Enquanto descia em direção a sede, tentava ir conversando comigo mesmo, tentando me consolar na justificativa de que meu aniversário seria mesmo no outro dia.
E que noite cansativa foi aquela! Coincidentemente, fui premiado com a companhia de três irmãos atiradores (sentinelas) que faziam de tudo, inclusive nada. Por sinal, verdadeiros amigos que ficarão guardados com muito carinho na lembrança.
Foi uma das noites mais frias que passei, pois, enquanto ali cumpria meus deveres de Cabo da Guarda, já quase congelado, via o dia amanhecer.
Havíamos trabalhado na faxina até pouco mais das onze da noite, pois nada poderia sair errado. Como todo atirador que se preza, sabíamos de antemão que, antes mesmo do dia clarear, salvo em caso de guerra, lá estaria nosso garboso comandante, a passar em revista a tropa, ou melhor, o dedo, em cada centímetro dos móveis à procura de vestígios de poeira. Dobrar a guarda em caso de alguma alteração no serviço, nos fazia tremer na base. Era complicado para nós, principalmente se estivéssemos no comando. Administrar a limpeza da sede, especialmente quando tínhamos a companhia de alguns atiradores que só queriam mesmo era bagunçar, dava mesmo vontade de chorar. As horas iam se passando, o cansaço só aumentando e o serviço não rendia.
E se um daqueles três vasos sanitários do banheiro não ficasse brilhando como espelho e cheirando a Pinho Sol? Aí é que a coisa ficava feia pro nosso lado. Isso para não falar que ainda tínhamos que fazer a limpeza da área externa: varrer o passeio, regar as árvores da rua, molhar com um regador a calçada, dar um trato no pátio, limpar a secretaria e a sala do Sargento (essa então!).
Mas, confesso que minha preocupação maior sempre foi com aquele bendito banheiro e seus três imponentes vasos. Já cheguei até a sonhar com eles. Certa vez, um Cabo da Guarda chegou a passar quase que a noite toda acordado, apenas para ficar vigiando uma possível sabotagem dos atiradores. Era muito comum alguns abdicarem de consultar a alça de mira na hora de encarar o vaso, e errar o alvo de propósito, só pra sacanear. No outro dia era aquele cheiro de banheiro biológico tendo que ser limpo às pressas e em poucos minutos. Isso nunca aconteceu em minha guarda, mas reinava a expectativa de que um dia isso poderia acontecer.
Nossa missão era manter, tanto a parte interna, quanto a externa da sede impecavelmente limpas e, se possível, melhor do que nossa própria casa. E isto quase sempre acontecia.
Até que... naquela fatídica manhã do meu aniversário...
(continua)
(Crônica: Serjão Missiaggia)
Oi galera tudo bem, só quem passou pelo tiro sabe o que é isso, sempre tem algo p/ contar. Na minha época aconteceu um fato marcante, tinha uma turma que não estudava p/ as provas e só tirava nota boa, é pq descobriram onde ficavam as provas, aí era so alegria, mas um belo dia caiu no nosso plantão um colega que só tiva nota baixa, resolvemos passar a prova do dia seguinte pra ele, mas alertamos, não responde todas, deixa algumas erradas p/ o sub-tenente não desconfiar, bobagem a criatura fez toda prova, passado uns dias, veio a entrega das provas, e o sub, chamou atirador nº tal vamos ver se vc estudou mesmo pra acertar tudo, vou lhe fazer umas perguntas pra ver se sabe mesmo, foi uma, duas, tres e, parou zero pra vc e guarda neste fim de semana.
ResponderExcluirUm outro caso foi numa sexta feira dia de pelada no campo do bota, um colega chegou com a cabeça, sombracelhas raspadas com navalhas, ficamos dando tapas na cabeça dele, até quando o sub chegou e perguntou pq ele fez aquilo, o mesmo respondeu: sub, peguei chato, aí raspei tudo. Um abraço, Edalmo. +++++++++