Foto publicada na revista Planeta número 442
Capítulo 1
Esta fábula já deve ser de conhecimento da maioria das pessoas, pois, com frequência, circula pela Internet. Um escorpião, bonitão, e de voz doce e aveludada pede carona a um sapo para atravessar o rio. O sapo argumenta:
- Sai pra lá, malandro. Cê acha que eu vou dar mole pra você? Assim que subir nas minhas costas, você vai me ferroar e soltar seu veneno em mim.
O escorpião não se abalou e argumentou que estava mudado, era outro aracnídeo, e, de mais a mais, se ferroasse o amigo, iriam os dois para o fundo do rio. Tranquilizado pela lábia mansa do escorpião, eis que nosso amigo sapão topou atravessar o escorpião.
Quando estavam chegando do outro lado, o escorpião lascou uma ferroada nas costas do sapo e, enquanto esse sentia os efeitos do veneno e afundava, o escorpião saltou todo serelepe na outra margem. O sapo, sempre de boa fé, ainda perguntou qual era o motivo de tanta crueldade, e, antes de mergulhar completamente, ouviu o escorpião dizendo, sorridente:
- Porque essa é minha natureza!
Outro dia, veio uma senhora, que mora aqui perto, até minha casa, me pedindo uns “conselhos” pra lidar com o seu filho que estava passando por problemas. Eu nunca dou conselhos, mas, às vezes, as normas de boa vizinhança, indicam que devemos ouvir as pessoas. E assim, fiquei escutando ela dizer como o filho, um “menino” de 29 anos, estava tendo problemas. Acho que ele está usando drogas, sabe? Porque, normalmente, ele é uma pessoa muito boa. Carinhoso comigo, um amor. Mas tem os amigos, o senhor entende, as más companhias. Outro dia, eles estavam num barzinho desses aí e teve uma briga e o Ronaldinho (nome fictício) resolveu separar. Resultado: acabou preso, disseram que ele bateu com o capacete da moto na cabeça de um rapaz, que teve que levar uns pontos. Ele foi preso, mas é por causa dos outros, que foram embora e deixaram ele na mão.
Contou que, para pagar o advogado, ele acabou tendo que vender a televisão de LCD da irmã, que ela não concordou e, sem querer, ele acabou empurrando ela e parece que ela machucou o braço. Mas não quebrou não, sabe? Eu pedi pra ela não dar queixa porque senão ele iria voltar direto pra cadeia.
Coitado, no serviço, acabaram não aceitando ele de volta. E ainda deu azar porque o banco veio e tomou a moto dele. Eles não entendem que ele depende daquela moto para sobreviver. Aí eu vim aqui, conversar com o senhor, porque ele diz que não vem de jeito nenhum, porque o pessoal aproveita que ele é um rapaz de bem, e fica fazendo um monte de sacanagem com ele. O que é que o senhor acha?
Eu acho que eu não gostaria de receber o seu filho aqui na minha casa, digo, tranquilo e sincero. E a senhora vá com Deus, que Ele a ilumine!
Gente, é enorme a quantidade de pessoas que convivem com esses seres, rotulados pela psiquiatria como portadoras do Transtorno de Personalidade Antissocial, ou perversos, ou sacanas, ou “espertos”. São aqueles colegas ou conhecidos que pedem dinheiro emprestado e não pagam, esquecem de devolver coisas emprestadas, usam algum tipo de droga ilícita e, eventualmente, cometem algum tipo de delito. Coisa boba, dizem.
(continua)
(Crônica: Jorge Marin)
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