quarta-feira, 30 de março de 2011

SUCESSO NA VIDA OU VIDA DE SUCESSO?

Arte digital por Michael Vincent Manalo

Começo, depois de meio século de vida, a fazer natação. Não sei o que é mais engraçado: um homem começar a fazer, já com uma idade madura, algo que deveria ter feito quando criança, ou ouvir as gargalhadas do meu filho, quando fica sabendo dos apertos que estou passando, enquanto ele, do alto dos seus cinco anos, já está quase nadando na segunda aula.
Minha mulher me questiona: por que esse “deveria ter feito”? Começo a pensar no assunto. Na sala de espera da academia, algumas senhoras conversam. “Eu não deveria ter deixado meu marido me dominar dessa forma”, diz uma delas, e continua: “eu tinha passado em primeiro lugar num concurso muito importante, mas, por causa dele, fui obrigada a desistir da nomeação. Daí, fiquei só me anulando, tive depressão. Ah, mas Deus sabe o que faz”. A outra mulher também reclama que, quando nasceu sua segunda filha, foi “obrigada” a deixar de lecionar e abandonou sua “carreira”, o que obriga o marido a trabalhar “como um louco” para poder manter a família.
Quando captamos um assunto, parece que as coisas vão se intercalando e, chegando em casa, leio o comentário do Sylvio sobre o post da violência. Diz ele: “uma violência que me parece cada vez mais comum é a que cometemos contra nós mesmos, quando nos conformamos passivamente em viver uma vida que nos desagrada, sem alegrias ou expectativas a curto prazo que façam valer a pena sair da cama para viver mais um dia ao invés de apenas existir mais um dia.”
Percebendo tanta mágoa e tanto ressentimento, eu vejo que estas pessoas (eu incluído) estamos em conflito, às vezes numa luta constante. Mas, numa luta contra o quê? Contra o “que deveria ter sido”. Ao vivermos nossas vidas, vamos construindo relações, mas não são relações reais: são relações com imagens ideais. Idealizamos, como no caso das mulheres, um cônjuge. E queremos que aquela pessoa seja exatamente da forma como nós a criamos na mente. Mas a pessoa é o que é, não o que gostaríamos que ela fosse.
O passo seguinte é criar uma situação ideal do que gostaríamos de ser na vida, e isso geralmente inclui: dinheiro, posição, prestígio, porque achamos que só as pessoas que possuem esses atributos é que são respeitadas pela sociedade. E o pior é que, na maioria das vezes, isso é verdade. Mas, da mesma forma que o parceiro é o que é, nós também só podemos ser o que somos. Desta forma, se colocamos metas muito altas para nossas realizações, vivemos frustrados.
Aí vem a parte mais louca, mas, curiosamente, uma situação que é difícil um ser humano não vivenciar nos dias de hoje: ora, se eu não consigo conquistar tudo aquilo que eu deveria ter conquistado, então a culpa é do meu parceiro que não é, nem de longe, aquilo que eu gostaria que ele fosse.
A outra ainda vem e diz que Deus sabe o que faz. Como se fosse dele, ou Dele, a culpa pelas nossas escolhas. Justamente Ele que nos dá o livre arbítrio. Ora, podemos escolher entre viver uma carreira profissional promissora e de sucesso, ou em abrir mão disto para ter uma vida familiar enriquecedora e feliz. Uma vez feita a escolha, não podemos, se quisermos ser saudáveis, ficar nessa morrinha de querer ir fazer carreira e reclamar que não tem tempo para os filhos, ou ficar em casa e reclamar que não tem independência financeira.
Tentando ser igual a uma pessoa que nós julgamos ter sucesso, ou viver uma situação ideal, o que estamos fazendo é tentar transformar em realidade, uma ficção. Pois estas nossas idealizações não passam disso: uma bela ficção (às vezes até não tão bela assim). Lembrando que, ao tentar mudar esta situação, e agir de outra forma, estamos criando outra ficção. O que fazer, então? “Nada”, diz minha instrutora, interrompendo minhas divagações durante a aula. “Para de pensar, e age, meu filho!”

(Crônica: Jorge Marin)

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