sexta-feira, 25 de março de 2011

ESCUTANDO O SILÊNCIO - FINAL

Arte digital por Max Mitenkov

Na semana passada, falamos sobre algumas aspectos jurídicos e técnicos sobre a poluição sonora. Sim, porque não podemos esquecer que som em excesso também é poluição e, conforme os especialistas, dependendo da potência, chega a causar danos até a mesmo no sistema nervoso central. Se não estou enganado, existe uma lei municipal, baseada naquela resolução do CONAMA que citamos no último post, que limita o número de decibéis em várias atividades municipais. Como não temos o tal decibelímetro para fiscalizar, e o bom senso de alguns nem sempre prevalece, só nos resta mesmo deixar de lado aquele gostoso e relaxante bate papo num banco de alguma pracinha ou esquina, e procurar ficar dentro de casa.
Existem locais nos quais, “vira e mexe”, dispara o alarme à noite (e de dia também). E, se é no final de semana, não aparece uma santa alma pra desligar. Depois dizem, com toda naturalidade, que foi apenas um passarinho que entrou pelo basculante e passou em frente ao alarme. Isto depois que os moradores da rua inteira, muito dos quais trabalhadores, crianças e idosos, ficaram acordados a noite toda. Só isso. Ainda bem que sou jovem!
Coitada da moradora de um prédio, que teve que implorar quase que de joelhos, para que fosse desativado o sinal de entrada e saída de veículos, pelo menos pela madrugada. Coitada! Coincidentemente, o sinal ficava próximo à sua janela. Não era brincadeira não!
Na nossa época, brincar com barulho era sinônimo de estalinho, bombinha, cabeça de nego ou, dependendo da ocasião e na pior das hipóteses, até mesmo foguete. Dizem as boas línguas que, acima disso, somente se via acontecer com uma turma ali nas proximidades do posto de gasolina, mais exatamente no terreiro da casa dos Picorone na Praça Floriano Peixoto. Por sinal, alguém já viu praça ali?
Hoje, ao ver um desses explosivos, que livremente são vendidos no comércio, e que estão quase sempre nas mãos de crianças, fico estarrecido. Simplesmente, estão usando uma coisa que mais parece trouxinhas de foguetes e que, quase sempre, vão terminar dentro de alguma varanda, quadras de futebol, garagens etc. Uma explosão superpotente e perigosíssima.
Palavra de Pitombense!!!
Pra terminar, ocorreram alguns comentários que um sino de igreja veio a ser incômodo para algumas pessoas. Aí fiquei pensando: daqui a pouco poderá ser um abaixo-assinado contra o cacarejar do meu galo, o canto das maritacas, o som das folhas que estão sendo varridas ao amanhecer ou, quem sabe, até com meu som do Roupa Nova.
Por aí se vê que excessos, de qualquer lado, devem ser evitados. Mas é preciso que todos aqueles que se sintam prejudicados protestem, procurem as autoridades, cobrem de seus políticos (existe um projeto de lei – é o PL-1024/2003 – que trata da poluição sonora e está há onze anos parado na Câmara dos Deputados) e, principalmente, que não desistam do seu direito de ter paz. Afinal, todos devem estar lembrados que aqueles que se incomodavam há vinte anos atrás, com a fumaça dos cigarros, podem frequentar qualquer recinto público nos dias de hoje, com a certeza de não serem obrigados a fumar passivamente. Não só porque é proibido por lei, mas também porque a sociedade se reeducou.
Cidadania dá trabalho, mas vale a pena. Como diz o Millôr Fernandes, “ninguém sabe o que você ouve, mas todo mundo ouve muito bem o que você fala.”

Uma Nota: quanto ao excesso de barulho urbano, gostaria apenas de dizer que jamais passou pela minha cabeça generalizar. Reconheço que a maioria desses fatos que vêm acontecendo na cidade, é oriunda daqueles que só querem mesmo agitar. Alguns profissionais do som, muito dos quais meus amigos, são pessoas sérias, competentes e éticas, que, com seus trabalhos, procuram de uma maneira digna e honesta, respeitando acima de tudo o próximo, ganhar o pão de cada dia.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

3 comentários:

  1. Agente sem perceber acaba acostumando com esse excesso de barulho. Pena que cidades do interior ditas pequenas, têm também que passar por isso. Dizem que é o progresso. Acho apenas que com medidas simples e sensatas poderíamos pelo menos tentar amenizar a situação preservando desta forma a qualidade de vida de seus habitantes?

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  2. Amigo Jorge,num passado remoto existiu,sim,a Praça Floriano Peixoto,mas com autorização da administração pública,na época,construiu-se alí um posto de gasolina e,mais tarde,a Rodoviária.Com relação ao barulho que se fazia na nossa época de adolescência,aquilo era ¨pinto¨comparando-se com o que acontece hoje na nossa ex-Garbosa.Abraço.

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  3. ACREDITO QUE BARULHOS PROVOCADOS POR DETERMINADAS PESSOAS É QUASE SEMPRE PROPORCIONAL AO SEU VAZIO INTERIOR.
    POR ZELENO

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