Arte digital por Noe V.
Capítulo 3
NA SEMANA PASSADA, focamos os jovens como responsáveis pela “barulhada”. É verdade que crianças e adolescentes já fazem aquela arruaça natural, e que os jovens, que pensam que são gente grande, também adoram fazer as suas anarquias nas portas de boteco, até mesmo pra chamar a atenção, e dizer: “vejam, olha que legal eu aqui no boteco!” (já tivemos disso também).
Hoje, no entanto, vamos deixar claro que o barulho, aquele infernal mesmo, que tira qualquer um sério é provocado, na sua maior parte, pelos adultos, pelos crescidinhos, pelos cavalões.
Senão, vejamos: e as motos sem silencioso? O negócio é retirar tudo aquilo que possa impedir que o escapamento libere barulho. Depois, em alta velocidade, saem em disparada pela rua acelerando desnecessariamente só para aumentar, ainda mais, a agressão aos que estão próximos. E põe barulho e velocidade nisso!!!
Outro barulho produzido por gente grande são os carros de propaganda. Estas banheiras sonoras já ultrapassaram, e muito, os limites de som. Lógico que nem todos, pois alguns deles são profissionais capacitados, cadastrados e conscientes.
Mas é preciso que fique claro o fato de que o silêncio é um DIREITO do cidadão. Ao contrário do que alguns barulhentos possam pensar, a poluição sonora não é somente um problema de desconforto acústico. Não, o excesso de ruído é, hoje, um dos principais problemas ambientais das cidades e uma grande preocupação para as autoridades responsáveis pela saúde pública. Na semana passada, falamos aqui sobre os perigos da perda de audição, mas esta é apenas uma, entre as inúmeras conseqüências que podem advir da poluição sonora. Entre estas, estão a diminuição da capacidade de comunicação e memorização, insônia, envelhecimento prematuro, distúrbios neurológicos, cardíacos, circulatórios e gástricos.
Por isso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) passou a considerar a poluição sonora como uma das três prioridades ecológicas para a próxima década. E mais: lembram-se de que falamos no nível de segurança de 85 decibéis? Pois a OMS afirma, com todas as letras, que o ruído acima de 70 decibéis pode causar dano à saúde, e que aquele acima de 85 decibéis já começa a danificar o sistema auditivo. Podemos pensar: mas, felizmente, isto só ocorre durante o dia, pois, à noite, dormimos e não percebemos nada, certo? Errado! O ouvido é o único sentido que não descansa durante o sono, ou seja, mesmo que não acordemos com a barulhada, nosso cérebro vai estar sendo sacudido e perturbado.
Quem tiver interesse em conhecer os detalhes jurídicos sobre este assunto, basta pesquisar a Resolução 001 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Esta resolução tem “apenas” 21 anos e adota padrões técnicos estabelecidos pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, nas NBR (Normas Brasileiras Regulamentares) de número 10.151 e 10.152. Para se ter uma idéia, esta última fixa em 50 decibéis o nível máximo de ruído de um restaurante.
Esse conselho, logo em seguida, editou a Resolução 002, que instituiu o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora – Silêncio. Alguém já ouviu falar? Certamente que não, pois uma das coisas mais difíceis, hoje em dia, é ouvir o silêncio. De qualquer forma, vale a pena, aproveitar, e fazer uma visitinha ao site do Ibama, no endereço http://www.ibama.gov.br/silencio/home.htm .
Na próxima semana, encerramos esta matéria, mas é muito importante que esta reflexão se faça de forma clara e sincera. Não precisamos ficar com vergonha, ou sem graça, de dizer que o excesso de barulho e o descaso das pessoas (dos perpetradores às autoridades) estão acabando, criminosamente, com a nossa paz.
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
Bons tempos em que podíamos dizer:
ResponderExcluir“MEU OUVIDO NÃO É PINICO”