Arte digital por Paolo Domeniconi
Alguns e-mails e comentários vêm questionando esta abordagem sobre a violência. Eliminá-la em nós não nos tornaria vulneráveis demais? Ou: será que a raiva não faz parte da natureza humana, da mesma forma que a necessidade de oxigênio? Ora, ao fazermos estas afirmações, estamos justificando a raiva e, consequentemente, a violência em nós. Se queremos, sinceramente, resolver este problema, não podemos encará-lo, nem justificando-o, nem condenando-o. Não adianta tentarmos solucionar velhos problemas não resolvidos, utilizando os mesmos métodos que sempre usamos, e esperar soluções diferentes.
Há necessidade de aprender. Aprender como olhar, sem julgar e sem condenar. E isto não se aplica apenas à violência, mas também como olhar a nós mesmos, aos nossos companheiros e companheiras, aos nossos filhos. É preciso também saber ouvir. Isto fica claro, por exemplo, quando estamos numa campanha eleitoral e, ao invés de sermos objetivos, ficamos todo o tempo julgando os políticos, de acordo com as nossas preferências, de acordo com os nossos afetos.
Este hábito de justificar e condenar também não é uma característica humana: é uma peça da estrutura social na qual vivemos, e serve para nos condicionar. Para que, no lugar de questionar os “mestres” que nos governam, fiquemos o tempo todo dizendo: “ele fez isso por causa disso” ou “ele não devia ter feito isso”. Enquanto condenamos e justificamos, o mal se instala.
Para aprender esse novo olhar, é fundamental termos a capacidade de mergulhar na questão. E, para ir fundo, é preciso estar com o nosso instrumento (a mente) bem afinado. O fantástico Walter Franco já dizia que “viver é afinar o instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro, a toda hora, a todo momento”. Se a nossa visão vai até ali, na tela de plasma de nossa TV, então não dá pra mergulhar mesmo.
Mas, como é que eu posso adquirir este tipo de visão? Como é que eu faço para olhar para as coisas de forma desapaixonada? Primeiro, é preciso querer, mas é preciso querer muito, da mesma forma como desejamos um copo d’água após uma caminhada no sol. E também eliminar aquela sensação de segurança que todos temos: ah, mas comigo não vai acontecer, nem com a minha família. Sabem aquela sensação, da música do Raul Seixas, de estar sentado “no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”?. Pois é...
Quero voltar ao assunto, e lembrar que o tema principal aqui é: violência tem solução? Isto é, eu consigo eliminar a violência que está dentro de mim? Não se trata aqui de dizer: poxa, mas você aprendeu tudo isto e não fez nada. Ou: por que você não mudou? Esta cobrança seria, ela mesma, mais uma forma de violência. Esta crônica não tem objetivo de convencer ninguém a mudar de comportamento. Cada um tem a sua própria visão de vida e esta visão é um assunto muito particular.
Muita gente já incorporou a violência como parte do dia a dia. Por causa do terremoto no Japão, temos visto imagens das explosões das duas bombas atômicas, e o que podemos perceber é que nem aquele horror foi capaz de aproximar os seres humanos. Pelo contrário, a quantidade de tribos hoje é imensamente maior do que há sessenta e seis anos atrás.
Bem, mas, e quanto àqueles que se preocupam? Que querem se ver livres da violência de uma vez por todas? O que fazer? Só analisar, sozinhos ou com a ajuda de um profissional, sem nenhuma atitude, não resolve. Vamos imaginar que estamos deitados em nossa cama, tranquilos, quando passa, de repente, sobre a coberta, um escorpião (a violência). É claro que só vamos vê-lo se estivermos despertos. E aí? Ficamos nos questionando: será que é venenoso? Mas o escorpião também não parte do ecossistema? Ou, simplesmente, saltamos feito loucos, e saímos em busca de uma vassoura?
(continua)
(Crônica: Jorge Marin)
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