sexta-feira, 4 de março de 2011

ESCUTANDO O SILÊNCIO

Arte digital por Joshua Neshavok

Capítulo 1

E o garnisezinho Pavarote, mais uma vez, me desperta com suas primeiras cacarejadas. Foi no domingo passado: acordei mais cedo e, já um tanto enjoado de ficar na cama, resolvi aproveitar aquele momento de alvorecer para dar uma chegada no computador. Era uma típica manhã de verão e um lindo céu, totalmente azul, começava a trazer consigo tímidos raios de sol.
Há muito que eu não despertava com um dia tão inspirador, e até mesmo nosso pé de caqui amanhecera congestionado de pássaros. E eram muitos, e de várias espécies que, cantando numa sonoridade bela, traziam muita paz e muita poesia ao momento.
Lá fora, ouvia-se o barulho de folhas mortas sendo arrastadas pelo varredor de rua que, trabalhando alegremente, ia tentando assoviar canções de Roberto Carlos. Alguém, montando um cavalo de trotar cadenciado e lento, começava a passar em frente à minha janela enquanto, ao longe, os sinos da Igreja, em dobrados ritmados e constantes, chamavam os fiéis para a missa.
Uma verdadeira sinfonia a nos transmitir alegria e serenidade.
Interior tem dessas coisas. Que bom que ainda seja assim!

Neste momento, minhas janelas começaram a tremer! Uma pressão sonora estranha, vinda de um veículo que começava passar em frente a minha casa, fez acordarem, assustados, todos da família. Aquele ruído estranho, que mais parecia o estrondo de um trovão, acabava de invadir a privacidade de um espaço que, até então, eu imaginava ser só meu.

Antes que alguém pense que se trata apenas de um coroa chato reclamando do barulho, lembro que anos tocando em bandas me ensinaram alguma coisa sobre som e, principalmente, sobre o que é suportável e o que não é. Como sabemos, a potência do som é medida em decibéis e existe um nível considerado seguro para os nossos ouvidos, que é 85 decibéis. Para termos uma ideia do que isso significa, vamos lembrar que um toque normal de telefone é igual a 30 decibéis; uma conversa normal (sem briga), 60 decibéis; uma sirene de ambulância, 120, que é mais ou menos o mesmo que apresentam esses carros de som.
Cinquenta e cinco decibéis já são considerados como uma fonte sonora incômoda, entre 60 e 75 já há stress físico. E as doenças resultantes dessa agressão ambiental não se limitam aos ouvidos, mas atingem vários outros sintomas, como pressão alta (chegando ao infarto) e úlceras do aparelho digestivo.

Voltando à minha (antes calma) casinha, fui até a janela observar o impacto daquele estrondo no (antes tranquilo) domingo: a pressão sonora foi tamanha, que fez disparar o alarme de dois carros que estavam estacionados na calçada. Os sons se misturaram e o caos se instalou.
Já não pude mais escutar o silêncio, ou melhor, silenciaram os pássaros, o trote vagaroso do cavalo, os sinos da Igreja, as canções assobiadas e até o cantar do galinho. Silenciaram não. O débil mental que promoveu toda a balbúrdia conseguiu acabar com tudo, até com a minha inspiração.
E assim, o silêncio se perdeu ante os apelos frenéticos de motores e alto-falantes que, desvairadamente, começavam a desfilar pela rua, brincando de fazer barulho e a correr contra o tempo.
Desliguei o PC e fui tomar meu café!
NA SEMANA QUE VEM, quando o barulho acabar, vamos continuar esta prosa.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

5 comentários:

  1. Não podemos esquecer que dentro de muitas casas moram crianças, idosos e até pessoas acamadas. Mais ficará ainda de bom tamanho se não estacionarem bem debaixo das janelas. (Dizem que há uma lei municipal proibindo excessos desse tipo) E enquanto isso? Tudo normal? Continuamos Zen- Zen paciência pra nada.

    ResponderExcluir
  2. Oi Tio Serjão, faço idéia de como deve estar sua janela nesses dias de folia! Eu mesma já fiz bagunça, (sem auto falantes) ai na frente de sua casa, com Saulo, Andersen, Marisa, Anne e muitos outros da família! Confesso que sinto saudades desses tempos, mas não dos carros de som! Aqui em SP, por incrível que possa parecer, ouço os pássaros, minhas cadelas e a ausência do zumzum de fundo que sempre existe nessa mega cidade!
    Adorei o texto, quero passar mais por aqui!
    Beijo grande

    Tathi

    ResponderExcluir
  3. Amigo Jorge,
    Parará...tarará.... tum... tum... tum....tumtumtum... quéquéquéquéqué... pararará... parará... i!i!i!i!iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... esse o barulho que acabou de passar aqui numa camionete com possante som na carroceria... Não sei por qual motivo não põem esses decibéis mentais na cadeia. Abraços, muito bom o texto. Brandão

    ResponderExcluir
  4. Com os devidos respeitos acho que seria mais apropriado se a medida de potencia desses tipos de som fosse o DECIDEBEIS

    ResponderExcluir
  5. Do jeito que a coisa vai caminhando muito em breve irão retirar as sirenes das ambulâncias e viaturas policiais para que possam dessa forma sobressair diante do excesso de barulho. Acho que assim chamarão mais a atenção.
    (Por Zeleno)

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL