quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A POESIA, PRA QUE SERVE?

Ilustração de Paulo Uequed

O ano era 1974, ou 75, e saíamos, eu e meu amigo Gilberto, pela noite sanjoanense. Naqueles tempos, depois da meia-noite, as ruas pareciam cenário de algum filme de terror. Devia ser junho e, no meio daquela friagem, o assunto continuava e não acabava: era a poesia. Pensávamos que éramos poetas, talvez até fôssemos. Mas mergulhávamos com tanto entusiasmo naquele ofício que parecia que a vida ficava em segundo plano.
Alguns dias depois, o Serjão estava na minha casa, com um violão. Tinha uma melodia, mas faltava a letra. Era para um desses festivais e, novamente, lá estava ela, a poesia.
Apaixonados, às vezes pegávamos alguns guardanapos e, vendo a eleita (que termo antigo!) passar, rabiscávamos alguns versos. E, nas mídias da época, pipocavam os poetas: Neruda, Vinícius, Ferreira Goulart, João Cabral, além do Drummond, que era obrigatório.
Aí o século acabou e começou esse aí, que vocês estão vivendo, e eu me pergunto: cadê aquela poesia toda e, afinal de contas, pra que é que ela servia mesmo?
Sei que os românticos vão objetar: ah, mas a poesia é uma coisa muito boa, serve pra gente dizer que ama o outro, e coisa e tal, e um mundo sem poesia seria um mundo bárbaro. Vem um saudosista e diz: hoje, os carinhas só querem saber de transar com as meninas. O fato é que nós também só queríamos transar com as meninas; só que, hoje, os caras mandam torpedos (vão mais fundo) e nós, coitados, mandávamos versos.
Veio aqui em Juiz de Fora, há alguns anos, esta mulher maravilhosa chamada Adélia Prado. Prado, como vocês sabem, é um campo florido e, no caso da Adélia, não tem como fugir da poesia. Pois bem, esta poetisa (hoje dizem poeta também, mas eu aprendi assim no Grupo Escolar Dona Judith Mendonça)... esta poetisa disse que a poesia é uma forma de representar um determinado objeto ou pessoa para os leitores. E deu o exemplo de um cara que escreveu de uma forma tão fantástica sobre a lua, que o Carlos Drummond de Andrade acabou de ler a poesia, e saiu correndo para ver a lua real lá no céu. Será que aquela pedra estéril lá em cima é tudo isto que o cara falou? Se era ou se não era não vem ao caso, mas a verdade é que o Drummond percebeu que a poesia fez com que ele olhasse para o céu, o que ele não vinha fazendo com frequência.
Então podemos anotar aqui uma finalidade da poesia: fazer o maior poeta do país olhar para o céu. Já é alguma coisa, mas, voltando à poesia apaixonada, podemos dizer também que ela serve para representar a pessoa amada, no caso do amor romântico. Traduzindo para os mais jovens, vamos esclarecer que o amor romântico é um tipo antigo de amor, onde as pessoas não ficavam. Dessa forma, podemos arriscar a dizer que poesia é movida por um desejo não realizado. Sim, porque se rola realizar o desejo, quem é que vai parar para escrever uma poesia?
Eu provoco, faço pouco dela, mas sei que ela continua por aí, nos blogs, twitteres e outros cenários da rede. Parametrização da histeria, ou simplesmente metáfora do desejo? Como dizia o velho Carlos, “se procurar bem, você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.”

(Crônica: Jorge Marin)

Um comentário:

  1. EU SEI QUE SOU UM SONHADOR A MAIS,
    DONO DE SONHOS, ENCANTOS, CANÇOES, ILUSOES E UMA FLOR.

    Dizer o que deste grande poeta chamado Jorge Marin?

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL