sábado, 4 de dezembro de 2010

OS IRMÃOS MORAM AO LADO - II

Foto por Nikola Borissov

NA SEMANA PASSADA, como bem devem se lembrar, por conta da vizinhança entre uma oficina e uma casa do Senhor, não do senhor que me lê, mas do Senhor Mesmo, o Lá de Cima, coisas estranhas aconteceram: um casamento quase sai da esfera do Juiz de Paz e vai parar no Demlurb.
Mas, passado o stress, lixo recolhido, noivos em lua-de-mel, tudo voltou ao normal, dentro do possível.
Martelada pra cá, martelada pra lá. Era mais um daqueles dias em que nada dava certo. Até mesmo um freguês havia me dado “cano”. Disse que votaria e pagaria depois. Ficou no depois.
Estava, também, quase na hora dos meninos chegarem do colégio. Nesta época, a coisa estava bem mais apertada, pois minha esposa trabalhava em tempo integral, e eu procurava, na medida do possível, dar uma mãozinha. Nesta hora, um tanto ansioso, já percebia que eles já deveriam ter chegado.
E o calor que fazia neste dia? Em determinados horários, o local chega a ficar bem quentinho. Prá piorar ainda mais a situação, haviam entregado duas enceradeiras. E de parentes!
(Sabem como é, né?)
E lá estava eu: ralando, ralando, mas sem deixar de pensar, um só minuto, naquele monte de contas prá pagar.
Neste exato momento, aproxima-se do balcão, uma freguesa: era uma senhora muito simpática e simples, que aparentava uns sessenta e cinco a setenta anos, pouco mais ou menos.
- Boa tarde – disse ela. Custei, mas, enfim, resolvi aparecer! Já há algum tempo em que venho pensando em vir, mas só agora achei um tempinho! - concluiu.
- Antes tarde do que nunca! – respondi, em tom de brincadeira. Fiquei pensando: quem será esta mulher, meu Deus? Mas... em que posso servi-la?
- Falaram-me que você é dos bons! Que é só por as mãos, que o trem fica “bão” de novo!
- A gente faz o que pode, minha senhora; às vezes, até o que não pode, mas... no final, tudo dá certo! Se não consertar por bem, vai por mal mesmo! – eu ia brincando com ela, enquanto, segurava o martelo em uma das mãos.
- Você já faz este trabalho há quanto tempo?
- Já há uns vinte e poucos anos! – respondi.
- E sempre foi aqui? – indagava, enquanto seus olhos ficavam a percorrer cada centímetro da oficina.
- Não! Estou aqui, nos fundos, há pouco mais de três anos!
- Já houve caso da coisa não dar certo? – indagou, com os olhos um pouco arregalados.
- Claro! - respondi. Ninguém é perfeito! A gente faz o que pode! Mas, procure não se preocupar, pois sempre dou uma pequena garantia daquilo que faço! “Mas... somente, do que faço!” E destaquei bem esta última frase, como se tivesse pronunciado as aspas. O fato é que, entre tantas interrogações e duvidas, comecei mesmo é a ficar desconfiado.
Ou esta senhora é perfeccionista, maluca ou é mal pagadora, pensei. Seria uma fiscal? Pelo menos, meus tributos estão em ordem!
O interrogatório continuou:
- Quais os dias da semana e os horários de funcionamento?
- De segunda a sábado! Só dou uma pequena pausa para almoçar! Do contrário, a concorrência nos engole! – continuei brincando, mas com uma pulga atrás da orelha.
- E não é que você tem razão? Só que eu conheço, são mais de trinta! Dizem até que, neste meio, tem muitos charlatães!
Pensei: esta mulher está querendo que eu dê uma de dedo duro. Resumi:
- De certa forma, a senhora tem razão, mas, que eu saiba, aqui em São João, sou apenas eu e mais dois!
- De confiança? Até pode ser! – prontamente me respondeu!
- E o que a gente tem que trazer? - continuou a perguntar.
O que é que ela quer dizer com isto? Mas, não perdi a classe:
- Não se preocupe, minha senhora! O material é por minha conta! Depois, é tudo incluído!
Seja o que for que ela queria, parecia ter ficado satisfeita, e emendou:
- Achei o local aqui meio escondido, mas começarei a indicá-lo agora para outros amigos!
- Quanto mais, melhor! Principalmente agora, nesta crise! – retruquei, mas a minha vontade já era de chorar. Imaginem: eu, cheio de serviço, e vem esta criatura, com esta conversinha mole, me interrogando como numa entrevista de emprego, fazendo observações, críticas e, no final, dizendo que ia recomendar os meus serviços. Será que ela vai me assaltar?
Leiam, NA PRÓXIMA SEMANA, o desfecho desta estranha conversa. É bem mais sinistro do que parece, podem ter certeza!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

Um comentário:

  1. Suspense no ar. Irmanados num só pensamento vamos esperar este desenrolar que tanto promete.

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL