quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS
“Quando você faz um desejo a uma estrela, não importa quem seja, tudo o que o seu coração desejar virá até você. E, se seu coração estiver nos seus sonhos, nenhum pedido é exagerado. Se você dirigi-lo a uma estrela, como os sonhadores fazem.”
Esta musiquinha antiga, do desenho animado Pinóquio, é o ponto de partida do novo trabalho de Woody Allen. Mas, quem pensa que o filme tem a ver com morte (pois o nome original em inglês é “Você vai encontrar um estranho moreno alto”), está enganado, assim como quem esperar qualquer coisa. O próprio narrador sabe que os personagens são problemáticos, mas conta tudo com uma certa displicência, e como se, afinal de contas, soubesse de antemão, o quão sem significado a vida de todos, inclusive a nossa, é na realidade.
Rodado na cidade de Londres, nos dias atuais, apesar da aparência altamente romântica proporcionada pela fotografia magnífica do húngaro Vilmos Zsigmond, o filme acompanha a vida de pessoas comuns, que fazem coisas normais, com problemas corriqueiros.
Uma frase solta, dita pela personagem Sally (Naomi Watts) parece dar o tom do filme: “às vezes uma ilusão vale mais do que medicamentos.” Sua mãe Helena (a excelente Gemma Jones, que muitos conhecemos como a Madame Pomfrey do Harry Potter) está aporrinhando a vida, dela e de seu marido Roy (Josh Brolin). Helena tentou suicídio, após ser chutada pelo seu marido Alfie (Anthony Hopkins) e, a partir daí, até porque paga o aluguel, resolve visitar a filha todos os dias para reclamar. Sally resolve, então, encorajá-la a freqüentar uma cartomante, uma trambiqueira chamada Cristal (Pauline Collins). A estratégia funciona, em parte: Helena deixar de ir diariamente à casa da filha para reclamar, e passar a ir, também diariamente, para falar das previsões de Cristal e, de quebra, tomar todo o álcool que puder encontrar pelo caminho.
O marido Alfie, um coroa com ideais de eterna juventude, também está tendo seus problemas, pois, após se casar com uma prestadora de favores sexuais mediante remuneração previamente negociada (se é que vocês entendem o meu politicamente correto) chamada Charmaine (Lucy Punch, muito louca), começa a ver que o seu desejo começa a trazer algumas consequências a ponto de, pior que a solução adotada pela esposa, ele resolve até... reatar o antigo casamento.
O outro casal também está tendo seus próprios dilemas. Roy, um romancista que não consegue emplacar um segundo romance, está desejando sua vizinha de frente, uma estudante de música. Enquanto sua esposa, está desejando ser cortejada pelo seu chefe. Poderíamos dizer que este sentimento é uma coisa imprópria para pessoas casadas, não fossem os objetos de desejo, respectivamente, a belíssima atriz portuguesa Freida Pinto (que uma vez foi a menina Latika, do filme “Quem quer ser um milionário?”) e o bonitão Antonio Banderas que, mesmo aos cinquenta anos, dispara muitos corações, além de ser a voz do Gato de Botas do Shrek.
Parece que esta busca da felicidade é o que leva os personagens a suas enrascadas. Roy, além de cortejar a vizinha, resolve roubar o romance de um amigo, Henry Strangler, que ele julga ter morrido num acidente de carro, mas a coisa parece não ser assim tão simples. E a própria decisão de Sally, de entregar a mãe aos cuidados de uma pilantra, acaba interferindo na sua busca de realização profissional.
Vamos percebendo aos poucos que a tal busca da felicidade, embora legítima, tem sempre um preço a ser pago, que pode ser muito alto às vezes. Mas, tudo isto é demonstrado sutilmente, sem moralismo, sem filosofia e até mesmo sem muita emoção.
Helena acaba não encontrando o tal moreno alto, bonito e sensual, mas se apaixona, afinal de contas, por um baixinho branco, careca e barrigudo. Dono de uma loja de livros esotéricos, este Jonathan (Roger Ashton-Griffiths) parece ser bem melhor do que a ilusão, ou os medicamentos.
Quando termina o filme, uma adolescente, do meu lado, pergunta, indignada; “o que é que eu vim fazer neste filme?”. Não falo nada, vou saindo de mansinho, mas eu sei o que eu vim, e consegui fazer: assistir um filme de Woody Allen. Inodoro como um remédio homeopático, mas, algumas vezes, estranhamente eficaz.
(Crítica: Jorge Marin)
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