sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
OS IRMÃOS MORAM AO LADO - FINAL
NA SEMANA PASSADA, como bem recordam, uma irmã, possivelmente uma ovelha desgarrada, veio ter à minha oficina, procurando o reino de Deus. Se não estou enganado, há uma passagem bíblica, em Mateus, onde Cristo afirma que “o reino dos céus é semelhante a um negociante.” Mas lá fala num negociante de pérolas e, com muito custo, a mulher percebeu que o meu negócio é outro.
Como estava recebendo peregrinos em busca de verdes pastagens, o meu medo era de que um dos meus fregueses entrasse, por engano, na casa do Senhor, e pudesse causar algum transtorno. A dúvida, a abominação e o ranger de dentes só cessaram quando um irmão, meu conhecido, contou o seguinte causo.
E eis que, numa tarde calorenta, quando estava ocorrendo um culto, e exatamente na hora da exaltação, entra um senhor pela porta e, para espanto dos presentes, pergunta, num brado que, segundo meu amigo, “assemelhava-se à trombeta do arcanjo”:
- É aqui que dá um jeito nas coisas?
O silêncio foi geral, e, um a um, todos se viraram para trás, na direção da porta. O pastor não se escandalizou e, com a calma e atitude decidida, própria dos pastores, convidou o homem a entrar e, dirigindo-se a todos, acalmou-os:
- Lembrem-se de João: “Em verdade, em verdade vos digo: quem receber aquele que eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou”.
O homem estava encantado com aquele tanto de funcionários e, no mesmo tom do pastor, declarou:
- Desculpa, gente. Eu não conheço o João, mas tem um detalhe muito importante: se for para pegar, eu vou querer pra hoje. Esse calor infernal está me matando!
O pastor exultou:
- Aleluia! Aleluia! Acabe de entrar, irmão! Veio no lugar certo! Este calor, no corpo, não é coisa do bem! Está escrito: arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor.
O freguês ouviu a palavra “refrigério” e se animou, mas, pensando se tratar de geladeira, quis deixar as coisas bem claras:
- Eu não sou tão exigente assim, pessoal. Eu não quero gelar nada. E, brincando, concluiu: eu só quero mesmo é um ventinho!
Mas o pastor estava impossível:
- João disse que “o vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.”
- Só um minutinho – respondeu o visitante, todo feliz. E saiu correndo pela porta.
O pastor continuou seu ministério:
- Volta, irmão, a tua fé te salvou. Volta!
E eis, que carregando um grande ventilador, aqueles de pedestal, volta o “convertido”, todo sorridente e animado:
- Entrega lá pro João, gente. Eu tenho certeza que ele vai dar um jeito.
Quem acha que os evangélicos são carrancudos, é porque não escutou a gargalhada que se seguiu.
Enfim, foram amigos verdadeiros que conheci e que, neste lugar, não mais se encontram. Confesso que cheguei, muitas vezes, a passar por momentos bem estressantes devido ao volume dos aparelhos e, principalmente, pela proximidade do meu quarto com o local.
Foi quando resolvi trazer o pastor aqui em casa, na hora do culto, e, da escada da cozinha, lhe mostrei o que estávamos passando. A reação dele foi surpreendente: pessoa finíssima, e de grande sensibilidade, virou-se para mim e afirmou:
- Estamos aqui pelas famílias e não contra elas.
E assim, solidário comigo, veio a pedir, dias depois, que fechassem com tijolos, todas as janelas que ficavam para meu lado. O local ficou um pouco mais abafado pra eles, mas continuaram felizes, pois sabiam que estariam, em muito, me ajudando.
Hoje o barulho se foi, mas, com certeza, as amizades permaneceram.
E, agora que eles não estão mais por aqui, posso citar um santo de quem gosto muito, o Agostinho: “a compreensão é a recompensa da fé.” Amém!
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
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É isto aí Irmão! Muito legal quando encontramos harmonia naqueles momentos que nos parecia perdido.
ResponderExcluirGloria por esta convivência que hoje é lembrada de uma maneira suave, respeitosa e muito divertida.
Por Zeleno
Respeito sobremaneira qualquer tipo de manifestação a Deus, pois cada religião tem sua característica. Apenas acho que dependendo do grau de intensidade dos instrumentos deveria ser exigido por lei que se fizessem uma proteção acústica.
ResponderExcluirPaz e bem
Fui testemunha de todos os momentos vividos e nunca poderia omitir em elogiar a maneira como foi conduzida toda situação, onde prevaleceu o respeito, verdade e acima de tudo muito bom humor.
ResponderExcluirEste é o Serjão!!!!!!!
Pois é, meu caro.
ResponderExcluirVocê e toda a sua gentileza.
O final dessa história não poderia ser mesmo outro.
Parabéns meu amigo.
A gente continua se divertindo muito com você.
Beijo.
Sônia.
O encontro da fé com a “presença de espírito”, unidos pela educação e respeito, não poderia deixar de ter um final feliz. Situações como estas, que poderiam ser fonte de aborrecimentos e problemas, quando conduzidas pelos envolvidos com humor e inteligência, acabam por se tornar “causos” agradáveis de lembrar e contar.
ResponderExcluirSylvio.
Maravilha Serjão!
ResponderExcluirA longanimidade, a benignidade, é sem duvidas a diferença aos olhos de Deus.
Há lugar para todos em qualquer lugar e o Santo católico, foi importante como é nesta citação “a compreensão é a recompensa da fé.”
A sabedoria não é dada a todos, mas todos podem ser sabedores que ela pode ser conquistada e, assim praticada.
Que Deus o ilumine e abençõe em nome de Jesus.