quinta-feira, 29 de julho de 2010

PRESIDENTE, EU QUERO DAR UMA PALMADA!



Frequentemente aqui no blog, sentimos uma certa mágoa, ou desconforto, pois a geração Pytomba, ou seja, aqueles que nasceram no final dos anos 50, início de 60, viveram a parte melhor de suas vidas em um grande hiato, isto é, entre o nada e o tudo, entre a ditadura e a liberalidade desenfreada, entre a virgindade e a pílula grátis, entre o flower power e o politicamente correto. A sensação é de que entramos numa fila, para ir num show gratuito do Jimmy Hendrix mas, na hora de entrar, descobrimos que, na verdade, trata-se de um comício do José Serra.
E, para mostrar que a decepção não é apenas com tucanos, vou falar de um projeto do Presidente Lula, enviado no início do mês ao Congresso que, mediante alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente, introduz a proibição do castigo físico em crianças. Na verdade, estabelece que pais, professores e demais cuidadores de crianças (que hoje são muitos) ficam proibidos de beliscar, empurrar ou mesmo aplicar as chamadas palmadas pedagógicas em menores de idade.
Para nós, da geração Pytomba, a coisa ainda fica meio tranqüila, porque a maioria de nós tem filhos já na adolescência, no mínimo. Mas, a lei se aplica também aos adolescentes, e certamente aos nossos netos. Aí, nos perguntamos:
- Poxa, mas eu apanhei pra caramba, e agora, que é minha vez de bater, é crime?
Na verdade, nem uma coisa, nem outra: a maioria dos brasileiros já apanhou dos pais quando criança (72% segundo a Folha de São Paulo) mas não foi esta tragédia que o Lula pode pensar e, da mesma forma, não estamos pleiteando o direito de espancar nossos filhos. O que não devemos admitir é a interferência do estado num assunto tão particular porque, se é verdade que há excessos, e eles existem mesmo, já temos um Código Penal, que prevê penas de 1 a 4 anos para quem “abusa dos meios de correção ou disciplina”. Se as pessoas cometem barbáries contra seus filhos, apesar desta criminalização existente, não será uma nova lei, com características invasivas, que vai impedi-los.
No entanto, aprovada o projeto presidencial, o que vai se ver é um batalhão de “fiscais do Lula” iniciando uma caça às bruxas (afinal, as mães batem mais que os pais) e um denuncismo irresponsável. E, com a polícia preparada que temos, fico imaginando uma guarnição investigando minha casa e reportando-se ao superior:
- Alô, tenente! O meliante (eu) evadiu-se em direção à padaria do bairro e a vítima está trocando a fraldinha para se submeter ao exame de corpo de delito no IML.
Já imaginaram também o que farão as crianças? Porque, queiram ou não, as crianças não têm a capacidade de aprender o que nós ensinamos assim de primeira, e mais: elas adoram desafiar e provocar. As pestinhas vão ligar pro 190 o dia inteiro:
- Puliça, ó: meu pai me bateu no bumbum. Vem depressa, e traz pra mim um babalu de morango, tá?
Esta questão da intervenção do estado numa dinâmica familiar é um assunto muito complexo e delicado, para ser decidido assim, só na forma da lei. Cito o exemplo do agricultor preso, no início desta semana, na cidade de Pinheiro no Maranhão, sob a acusação de estupro de suas filhas, com as quais teve oito filhos-netos. A princípio, não há o que se questionar, afinal o próprio perpetrador confessou o crime. Mas somos obrigados a perguntar: por que só agora, quando ele expulsou sua esposa de casa, e quinze anos depois, o caso foi denunciado à polícia? Uma das filhas, grávida de dois meses, tem 29 anos! Ou seja, embora o abuso de menores, filhos ou não, seja crime, o incesto não é. Tínhamos, desta forma, um acordo familiar, uma dinâmica na qual os fatos ocorriam com a concordância, ou pelo menos a omissão, da família inteira, já que estamos falando de, pelo menos, doze pessoas coabitando numa casa, num lar se é que podemos chamá-lo assim, mas todos livres para ir e vir.
Portanto, meus amigos, cuidado com a bocarra do estado, pois, continuando nesta linha de raciocínio, uma possível presidenta petista poderá encaminhar um projeto de lei, determinando que, no ato sexual, as mulheres deverão ficar sempre por cima. Já pensaram o trabalho da fiscalização?
E, já que não podemos deixar o estado totalmente alheio e ocioso, que tal nos proibirem de pagar mensalidades escolares, fornecendo aos nossos filhos, boas escolas com ensino de qualidade? Que tal o presidente nos proibir de pagar planos de saúde, oferecendo atendimento médico eficiente aos nossos filhos?
Um bom começo, presidente, seria mandar a Receita Federal aceitar deduções com a escola de nossos filhos, que ultrapassarem o atual limite de R$ 225,75!

(Crônica - Jorge Marin)

3 comentários:

  1. COMUNGAMOS COM RESPEITO E OPINIÃO SOBRE ESSA LEI.
    O GOVERNO SE METER NUM PROBLEMA PURAMENTE PARETAL É O FIM! PARABÉNS!!!

    ResponderExcluir
  2. Sylvio disse:
    Como é característica sua, meu amigo Jorge, o assunto foi tratado com sabedoria e humor. Concordo com você: apanhei prá caramba e agora que é minha vez de bater o negócio vira crime?! Que sacanagem! Minha filha, agora com 20 anos, só apanhou de mim duas vezes, mesmo assim usei apenas a mão para dar um único tapa e já achei na época que o recado estava compreendido... Se soubesse que seria proibido teria feito mais vezes, mesmo sem motivo, e justificaria como o Jânio: fi-lo porque qui-lo! Minha mãe é que sabia viver: me escovou com a mão, depois o chinelo, evoluindo para o correão (geralmente usava o mais próximo, mas nos momentos de maior inspiração – pela gravidade do crime – usava sempre um correão todo feito em bolas plásticas coloridas estilo ‘dancing days’ com uma enorme fivela redonda de metal e rodava aquele negócio em cima de mim como se fosse uma arma medieval, inclusive usando a fivela na ponta). Até que um dia, quando ela foi trabalhar, eu no auge dos meus 11 anos peguei o “correão vilão” e o enterrei no quintal da minha casa para nunca mais voltar. Além disso, tinha as sessões de pimenta na boca quando fala palavrão, que mais tarde descobri que ela esperava uns 5 minutos e disfarçadamente mandava a empregada me dar um copo de leite gelado para amenizar a ardência (método este que não se mostrou eficiente, pois continuei com a “boca suja” até os vinte e poucos, quando parei de falar palavrões porque amadureci ou cansei, não sei...). E olha que minha mãe, para o contexto da época, era moderada, pois foram muitas as vezes em que estávamos jogando futebol na rua e, geralmente no horário do almoço ou janta, após chamar o pimpolho várias vezes, vinha a mãe de algum dos meus amigos descendo a vassoura, pedaço de mangueira (de água) ou broto de bambu como incentivo para o rebento se apresentar na refeição (e quem falasse algo levava também). Outras mães ou pais obrigavam os filhos, depois de apanhar, a sair imediatamente após de “short” (que nos anos 70 fazia jus ao nome) na rua, mesmo no inverno, podendo voltar para casa somente depois de uma hora no mínimo, para mostrar as pernas e braços com as marcas de chinelo ou correão e ouvir dos amigos as inevitáveis perguntas “apanhou por quê” como parte do processo educacional, onde a criança, ao explicar o(s) motivo(s) tinha uma nova oportunidade para reflexões e debates com outras opiniões. Como a turma tinha de dez a vinte crianças, que iam se encontrando aos poucos, eram muitas as chances de segurar o choro na rua e esfriar a cabeça enquanto esfriavam também as lambadas, que começavam a doer ainda mais. E apesar de tudo isso, nem eu nem nenhum dos meus amigos nos tornamos psicopatas ou mais violentos do que nos permite nossa condição de animal social. Então quer saber de uma coisa: só porque agora é proibido bater, me deu vontade! Amanhã mesmo vou comprar um correão e esperarei meus netos aparecerem para revogar estas leis desnecessárias e mostrar como se forja um caráter à antiga.

    ResponderExcluir
  3. Sylvio disse:
    Como é característica sua, meu amigo Jorge, o assunto foi tratado com sabedoria e humor. Concordo com você: apanhei prá caramba e agora que é minha vez de bater o negócio vira crime?! Sacanagem! Minha filha, agora com 20 anos, só apanhou de mim duas vezes, mesmo assim usei apenas a mão para dar um único tapa e já achei na época que o recado estava compreendido... Se soubesse que seria proibido teria feito mais vezes, mesmo sem motivo, e justificaria como o Jânio: fi-lo porque qui-lo! Minha mãe é que sabia viver: me escovou com a mão, depois o chinelo, evoluindo para o correão (geralmente usava o mais próximo, mas nos momentos de maior inspiração – pela gravidade do crime – usava sempre um correão todo feito em bolas plásticas coloridas estilo ‘dancing days’ com uma enorme fivela redonda de metal e rodava aquele negócio em cima de mim como se fosse uma arma medieval, inclusive usando a fivela na ponta). Até que em um dia, quando ela foi trabalhar, eu no auge dos meus 11 anos peguei o “correão vilão” e o enterrei no quintal da minha casa para nunca mais voltar. Além disso, tinha as sessões de pimenta na boca quando fala palavrão, que bem mais tarde descobri que ela esperava uns 5 minutos e disfarçadamente mandava a empregada me dar um copo de leite gelado para amenizar a ardência (método este que não se mostrou eficiente, pois continuei com a “boca suja” até os vinte e poucos, quando parei de falar palavrões porque amadureci ou cansei, não sei...). E olha que minha mãe, para o contexto da época, era moderada, pois foram muitas as vezes em que estávamos jogando futebol na rua e, geralmente no horário do almoço ou janta, após chamar o pimpolho várias vezes, vinha a mãe de algum dos meus amigos descendo a vassoura, pedaço de mangueira (de água) ou broto de bambu como incentivo para o rebento se apresentar na refeição (e quem falasse algo levava também). Outras mães e pais obrigavam os filhos, depois de apanhar, a sair imediatamente para a rua de “short” (que nos anos 70 faziam jus ao nome), mesmo no inverno, podendo voltar para casa somente depois de uma hora no mínimo, para mostrar as pernas e braços com as marcas de chinelo ou correão e ouvir dos amigos as inevitáveis perguntas “apanhou por quê” como parte do processo educacional, onde a criança, ao explicar o(s) motivo(s) tinha uma nova oportunidade para reflexões e debates com outras opiniões. Como a turma tinha de dez a vinte crianças, que iam se encontrando aos poucos, eram muitas as chances de segurar o choro na rua e esfriar a cabeça enquanto esfriavam também as lambadas, que começavam a doer ainda mais. E apesar de tudo isso, nem eu nem nenhum dos meus amigos nos tornamos psicopatas ou mais violentos do que nos permite nossa condição de animal social. Então quer saber de uma coisa: só porque agora é proibido bater, me deu vontade! Amanhã mesmo vou comprar um correão e esperarei meus netos aparecerem para revogar estas leis desnecessárias e mostrar como se forja um caráter à antiga.

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL