sexta-feira, 30 de julho de 2010

NELY GONÇALVES: LENDA VIVA DA CULTURA SANJOANENSE



Capítulo 3 – Pobremas com a pareiage

Não falamos ainda da terrível tarefa chamada “descarregar a aparelhagem”. Fico só lembrando como ralávamos para fazer aquilo de que mais gostávamos. Antigamente, tudo era muito difícil e trabalhoso.
Chegávamos à sede do Operário por volta das cinco da tarde. Subíamos e descíamos aquela escadaria pelo menos umas vinte vezes, carregando sobre os ombros nossa aparelhagem que, milimetricamente, era ajeitada numa Kombi. Devido ao pouco espaço que havia no veiculo, nem todos tinham a sorte de ir sentados; sendo assim, enquanto alguns iam confortavelmente ajeitados na poltrona, outros simplesmente tinham mesmo que se sujeitar a ir espremidos no meio daquela parafernália. Uma performance de causar inveja a muito faquir!
Nesta época, algumas estradas ainda não eram asfaltadas e isso nos maltratava pra caramba. Eram buracos, e poeira que não acabava mais. Ao chegarmos ao destino, ainda tínhamos que descarregar tudo, fazer a montagem no palco, afinar os instrumentos e sapecar aquele baile.
E assim, lá pelas cinco da manhã, quando já estávamos no bagaço, ao terminar o baile, ainda tínhamos que fazer todo o processo de volta. Nossas últimas energias se esgotavam naquele sobes e desces, ao descarregarmos a aparelhagem de volta no Operário.
Finalmente, fumávamos o último cigarrinho, comentávamos algum fato interessante e nos despedíamos. Já no outro dia, com certeza, haveria ensaio.
Quantas e quantas vezes chegamos a esconder Nely na oficina, por causa de algumas pessoas “inconvenientes”, que vinham até mesmo de outras cidades à sua procura.
Teve um sábado que, devido ao conserto de um aparelho, ficamos quase que um dia inteiro, nos divertindo com ela na oficina do Silvio Heleno. Quando, já escurecendo, eu me dirigia tranquilamente para casa, fui interceptados por dois sujeitos, ao passar em frente o portão dos fundos do Mangueira, e estes dois “malas”, ao me reconhecerem, queriam a todo custo saber o paradeiro da Nely. Em um tom um tanto quanto ameaçador, me perguntaram:
- Tem visto a Nely? Já procuramos ela por toda a cidade e não encontramos! ..
Eu, de antemão, já sabendo do que se tratava, fui também logo questionando:
- A Nely? – E, a seguir, dando uma breve olhada para o horizonte, coloquei a mão no queixo, fiquei pensando por alguns segundos e respondi: Não! E sabem de uma coisa? Também não a tenho visto já faz um bom tempo! Desconfio até que tenha se mudado da cidade! - concluí.
Final da história: decepcionados e irritados, entraram no carro e partiram.
Esta história ainda chegou a se repetir por várias outras vezes, mas se diferenciou das anteriores pelo fato de que o esconderijo, desta feita, teria sido no guarda-roupa de seu quarto. Lembram daquele ditado: “DEVO NÃO NEGO PAGO QUANDO PUDER”? Pois é...

A compra de nossa tumbadora também deu o que falar.
Ainda não tínhamos uma, mas o Serginho sim. “E nois tava de ôio nela!”
Nesta época, o conjunto Som Livre, se não estou enganado, havia terminado e, como íamos fazer um grande baile no Operário, resolvemos pedir a ele o instrumento emprestado. Como não poderia deixar de ser, eu, juntamente com o Zé, teríamos sido escalados para ir a sua casa, com a missão de pedir a ele a dita cuja emprestada. Serginho sempre foi famoso pelo zelo com seus instrumentos; sendo assim, tanto eu como o Zé, partiríamos para esta difícil empreitada, com as pernas tremendo.
Zé havia me jurado que era somente pra eu começar a fazer o pedido pois, em seguida, ele resolveria o resto. E o bobo aqui acreditou.
E fomos nós!
Assim como combinado, ao chegarmos na casa do Serginho, comecei de imediato a engabelar com aquelas manjadas preliminares. Minha intenção era dar um tempo a mais para que o Zé, pelo fato de conhecê-lo melhor, se manifestasse logo e ditasse o ritmo do pedido. Sabem como é, papo de percussionistas tem que ter ritmo.
Enquanto isso, eu ficava somente me apoiando naquele argumento fajuto de que, se me adaptasse ao instrumento, iríamos comprá-lo. Mentirinha cabeluda! Idéia da Nely!
À medida que eu ia me enrolando, o Zé mais calado ficava. Parecia que havia tomado um choque de 2.000 mil volts. Eu já nem tinha mais o que falar e o Zé, cada vez mais mudo e assustado, não mexia um fio de cabelo. Pra falar a verdade, aquele cabelo não mexia nunca. Enfim, depois de muito pensar e mesmo que ainda mostrando certa insatisfação, Serginho, resolveu nos emprestar a tal tumbadora. Seu único pedido seria que, incondicionalmente, a trouxéssemos de volta logo após o termino do baile.
E assim não foi! Ficamos com ela quase um mês, e ainda de sobra, a levaríamos em três cidades. Tudo escondido.
Mas um final feliz veio acontecer pois, por incrível que pareça, compramos a danada alguns dias depois.
NA PRÓXIMA SEMANA: Mar de Espanha, o Remake.

(Crônica - Serjão Missiaggia)

2 comentários:

  1. Muito boa esta idéia do guarda roupa.
    Só não sei se hoje, após ganhar alguns quilinhos, nossa negritude conseguiria colocar em prática esta idéia maluca.
    Se bem que existem os duplex. Ahhhhhhhh
    E salve nossa eterna Nely!

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  2. Ter coragem de recrutar essa galera do Pytomba não é pra qualquer um não!
    Acho que um maluco é que cheirava o outrokkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    E muitas palmas pra você Nely.

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BRIGADU, GENTE!

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