quinta-feira, 17 de junho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 2

Depois da vitória do México sobre a França, vou lá na casa do Tio Pitombo pra ver a versão dele, mas ele não esqueceu nosso papo sobre as copas e já me espera com a pergunta engatilhada:

“Você queria falar sobre o Maracanaço outro dia, lembra?. Olha aqui.” E vem trazendo um livro antigo. A capa, meio amarelada pelo tempo, informa: A história maravilhosa da Copa do Mundo e o autor, nada mais nada menos, do que o próprio Jules Rimet. O tio já traz as páginas marcadas e eu leio:
"Ao término do jogo, eu deveria entregar a Copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora (naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão. Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados, com a Copa debaixo do braço."

O tio interrompe minha leitura e fala: “Acho que ele resolveu voltar pro vestiário, com medo de roubarem a taça, mas aí apareceu o Obdulio Varela e pegou a amarelinha mais que depressa. Vê aí no livro o que é que o Jules falou pra ele.” Leio: “ "Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas felicitações".

Tio Pitombo resmunga: “A taça era nossa, mas foram fazer papeata: só na missa de manhã, que o Flávio Costa obrigou todo mundo a assistir, foram duas horas, de pé. Fora os cumprimentos antecipados e as politicagens. Além disso, a seleção ficava concentrada no Joá e decidiu ir pra São Januário, campo do Vasco. Se, pelo menos, fosse pra General Severiano, a história poderia ter sido outra!
Da mesma forma que eu falei que a copa de 34 foi armada pra Itália ganhar, esta de 50 era toda pra nós. Veja só: por causa da guerra, não teve copa, nem em 42 e nem em 46. Como a Europa estava toda arrasada, aceitaram a proposta do Brasil. E, para melhorar o negócio pra nós, várias seleções desistiram de vir, depois de classificadas: França, Turquia, Portugal, Índia e Birmânia. A Escócia, quando soube que a Inglaterra viria, desistiu também. O Japão estava ocupado. A Alemanha também, além do processo de divisão em Alemanha Ocidental e Oriental. A Itália veio, dizem que a FIFA custeou a viagem, mas, para facilitar ainda mais a nossa vida, o time tinha sofrido uma baixa terrível, pois o time inteiro do Torino, que era a base da Azurra, sofreu um acidente aéreo em 1949, em que todos morreram. Esta data ainda hoje é lembrada na Itália, no dia 4 de maio, como a Tragédia de Superga, que era o nome da basílica na qual o avião bateu.
Bom, mas tirando a tristeza da Itália de lado, aqui era tudo alegria: nosso time tinha Zizinho, Barbosa, Bauer e Ademir, o Queixada, que acabou como artilheiro da Copa, e jogávamos no Maracanã novinho em folha. O Brasil arrebentou: 4 a 0 no México, 2 a 2 com a Suíça (mas aqui a gente tem que lembrar que, como o jogo foi no Pacaembu, só jogaram paulistas na Seleção, até hoje eu não entendi porquê), depois foi 2 a 0 na Iugoslávia. Como a copa só tinha 13 participantes, a final foi decidida num quadrangular entre Brasil, Suécia, Espanha e Uruguai.

O Brasil mandou 7 a 1 na Suécia, o Uruguai empatou em 2 a 2 com a Espanha, o Brasil arrasou a Espanha por 6 a 1 e o Uruguai foi jogar com a Suécia. Se empatasse, o Brasil seria campeão antecipado: a Suécia fez 1 a 0 logo aos cinco minutos, o Uruguai empatou com o Ghiggia aos 39 do primeiro tempo, mas a Suécia fez 2 a 1 um minuto depois. No intervalo, éramos campeões antecipados. Foi assim até os 32 do segundo tempo, quando o Uruguai empatou de novo. Continuávamos campeões. Mas aí, aos 40 do segundo tempo, este jogo foi no Pacaembu, um tal Miguez virou: 3 a 2 pro Uruguai.
Aí, no dia 16 de julho, com o Maracanã lotado, dizem que estava tão cheio que as 200.000 pessoas tinham que ficar de pé e de lado pra caber, aconteceu aquela desgraceira: 0 a 0 no primeiro tempo; Friaça fez 1 a 0 pra nós logo aos 2 minutos do segundo tempo, Schiaffino empatou aos 21 e o danado do Ghiggia virou aos 34. Resultado: Uruguai bicampeão e nós chupando o dedo.”

O velho levanta e sai em direção à cozinha. Semana que vem, eu vou provocar mais. Sei que ele é fã do húngaro Puskas, além de vibrar com o nosso bicampeonato em 1962. Aguardem.

(Artigo - Jorge Marin)

Um comentário:

  1. Jorge! Parabéns!
    Legal esta oportunidade que estamos tendo de conhecermos tantos fatos interessantes das primeiras Copas do Mundo. Riquezas de detalhes que me fizeram sentir também o que o povo brasileiro passou naquela triste final de 1950.

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