sexta-feira, 1 de junho de 2018

DESENHANDO A INTERVENÇÃO MILITAR



Anteontem, vinha eu da minha caminhada escutando Overjoy nos fones, quando um baruiada me assustou ao atravessar a rua: um comboio de caminhões vinha descendo com as buzinas acionadas ao mesmo tempo, com várias faixas e gritos. Como a greve dos caminhoneiros já parecia estar se resolvendo, estranhei e fiquei lendo as faixas. A maioria delas pedia, em letras garrafais INTERVENÇÃO MILITAR JÁ.

Pensei comigo: deve ter alguma coisa errada com as informações, porque o que foi noticiado é que o Presidente da República é que havia solicitado uma intervenção militar CONTRA os caminhoneiros. Alguém não deve ter entendido o recado ou eu é que não estou entendendo nada.

Fato é que, vira e mexe, tem sempre alguém na vizinhança, no Face ou nos botecos pedindo a tal da “intervenção militar”, como se fosse a solução definitiva para TODOS os nossos problemas.

Eu, que já vivenciei uma intervenção militar, de 1964 a 1985, fico pensando por qual motivo as pessoas entendem que este tipo de ação é a solução política mais adequada. Afinal, o que qualifica os militares a serem assim tão superiores para limpar a sujeira dos políticos? Não seria mais lógico pedir uma intervenção GARIzal? Ou mesmo uma intervenção pastoral para exorcizar todas as diabruras dos NOSSOS representantes. Aliás, se são nossos representantes, talvez alguns de nós talvez devêssemos ser higienizados também ANTES de votar nas próximas eleições.

Acho tão esdrúxula a ideia de intervenção militar que fico imaginando a seguinte cena: num domingo qualquer, no Maracanã, jogam Flamengo e Fluminense. De repente, os jogadores começam a se agredir e a “fazer cera” pra retardar o jogo. Aí o que fazemos? Pedimos àqueles seguranças que ficam à beira do campo pra fazer uma intervenção, expulsarem todos os jogadores, vestirem os uniformes e jogarem PARA nós.

Percebam que há nessa atitude dois vícios bem reveladores do porquê a coisa não vai funcionar: primeiramente, com algumas pouquíssimas exceções, os seguranças não terão a COMPETÊNCIA e a HABILIDADE necessárias para terminar o Fla x Flu, por piores que sejam os atletas expulsos. Em segundo lugar, queremos que aqueles “salvadores” entrem em campo não porque acreditamos que eles salvarão o espetáculo, mas sim porque somos PREGUIÇOSOS e queremos, na maioria das vezes, que alguém resolva os problemas que nada mais são do que consequências das NOSSAS más escolhas.

Democracia é um regime político que a maioria de nós diz que é o melhor. Mas democracia é uma coisa muito CHATINHA, porque dá trabalho, tem muita gente dando pitaco, tem que ter paciência, tem que ouvir o outro. Aí é mais fácil mandar os hômi ir lá dar umas pancadas. Só que “os hômi” de hoje são bem mais inteligentes. Que o diga o general Villas Bôas quando convocado pelo presidente Temer para resolver a questão da greve: algo do tipo assim “não sou babá de vocês”.

Crônica: Jorge Marin

Um comentário:

BRIGADU, GENTE!

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