Anteontem,
vinha eu da minha caminhada escutando Overjoy nos fones, quando um baruiada me
assustou ao atravessar a rua: um comboio de caminhões vinha descendo com as
buzinas acionadas ao mesmo tempo, com várias faixas e gritos. Como a greve dos
caminhoneiros já parecia estar se resolvendo, estranhei e fiquei lendo as
faixas. A maioria delas pedia, em letras garrafais INTERVENÇÃO MILITAR JÁ.
Pensei
comigo: deve ter alguma coisa errada com as informações, porque o que foi
noticiado é que o Presidente da República é que havia solicitado uma
intervenção militar CONTRA os caminhoneiros. Alguém não deve ter entendido o recado
ou eu é que não estou entendendo nada.
Fato é
que, vira e mexe, tem sempre alguém na vizinhança, no Face ou nos botecos
pedindo a tal da “intervenção militar”, como se fosse a solução definitiva para
TODOS os nossos problemas.
Eu, que
já vivenciei uma intervenção militar, de 1964 a 1985, fico pensando por qual
motivo as pessoas entendem que este tipo de ação é a solução política mais
adequada. Afinal, o que qualifica os militares a serem assim tão superiores
para limpar a sujeira dos políticos? Não seria mais lógico pedir uma
intervenção GARIzal? Ou mesmo uma intervenção pastoral para exorcizar todas as
diabruras dos NOSSOS representantes. Aliás, se são nossos representantes,
talvez alguns de nós talvez devêssemos ser higienizados também ANTES de votar
nas próximas eleições.
Acho tão
esdrúxula a ideia de intervenção militar que fico imaginando a seguinte cena:
num domingo qualquer, no Maracanã, jogam Flamengo e Fluminense. De repente, os
jogadores começam a se agredir e a “fazer cera” pra retardar o jogo. Aí o que
fazemos? Pedimos àqueles seguranças que ficam à beira do campo pra fazer uma
intervenção, expulsarem todos os jogadores, vestirem os uniformes e jogarem
PARA nós.
Percebam
que há nessa atitude dois vícios bem reveladores do porquê a coisa não vai
funcionar: primeiramente, com algumas pouquíssimas exceções, os seguranças não
terão a COMPETÊNCIA e a HABILIDADE necessárias para terminar o Fla x Flu, por
piores que sejam os atletas expulsos. Em segundo lugar, queremos que aqueles
“salvadores” entrem em campo não porque acreditamos que eles salvarão o
espetáculo, mas sim porque somos PREGUIÇOSOS e queremos, na maioria das vezes,
que alguém resolva os problemas que nada mais são do que consequências das
NOSSAS más escolhas.
Democracia
é um regime político que a maioria de nós diz que é o melhor. Mas democracia é
uma coisa muito CHATINHA, porque dá trabalho, tem muita gente dando pitaco, tem
que ter paciência, tem que ouvir o outro. Aí é mais fácil mandar os hômi ir lá
dar umas pancadas. Só que “os hômi” de hoje são bem mais inteligentes. Que o
diga o general Villas Bôas quando convocado pelo presidente Temer para resolver
a questão da greve: algo do tipo assim “não sou babá de vocês”.
Crônica:
Jorge Marin
Charge : Laerte, disponível em
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/1599219566452182-charges-maio-2018#foto-1601758175493054
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/1599219566452182-charges-maio-2018#foto-1601758175493054
Muito bom Jorge!!!
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