sexta-feira, 4 de maio de 2018

VOLTAR A SER CRIANÇA... VALE A PENA???



Passeando pela cidade onde morei logo que deixei São João pela primeira vez, percebo em minha jornada traços de infantilidade, dos quais sempre me orgulhava (pensando em coisas como criatividade e brincadeiras), mas que, olhados daqui dos meus atuais sessentanos pra lá, francamente me assustaram.

Não é a primeira vez que me deparo com essa minha porção criança. Quando fiz análise, essa infantilidade “do mal” já me incomodara: talvez seja aquilo que Freud chamou de complexo de Édipo, e que ficou popularizado como “transar com a mãe”, mas que na verdade tem a ver com aquelas questões familiares que ficam, sem querer, coladas em nós e que vamos carregando pela vida afora, igual àqueles bilhetinhos escritos “me chuta” que levávamos sem saber para o recreio.

Sei que muita gente não vai gostar do que vou dizer, mas esse apego excessivo à infantilidade é doença, doença psíquica que nos atrapalha muito em lidar com dois temas fundamentais: a raiva e o amor.

O pequeno demoniozinho que somos quando pequenos lida com a raiva na base da explosão: gritos, esperneios e tentativa de destruição de tudo e de todos que se colocam entre nós e nossos objetos de desejo. Aí vêm os pais, ralham (não pode, minino, é feio!) e até batem, antes ostensivamente, hoje escondido.

De tanto não pode e não pode, desde correr até droga e sexo, a gente afinal não sabe mais o que pode. Embora queiramos negar, não tem como não sentir raiva. Para controlá-la seria necessário um mecanismo que fosse capaz de direcionar a sua força para corrigir as supostas injustiças que a causaram, mas ninguém ou quase ninguém ensina isso. Só querem saber de reprimir.

O resultado dessa dinâmica é um bando de crianças boazinhas e bem comportadas, na realidade um exército de pobres coitados que passam o resto da vida mendigando amor e negando a raiva, e sendo abusados, e tendo úlceras, e prisões de ventre, e outros males.

No outro lado, existem aquelas crianças rebeldes, brigonas, violentas, hoje diagnosticadas com todos os tipos de transtornos possíveis nos manuais de psiquiatria. Presos a uma vingança contra quem lhe causou a raiva, essas crianças também permanecem crianças a vida inteira e, da mesma forma que as bocós, jamais conseguem crescer no sentido pleno da palavra. São também pobres coitadas: criadoras de caso, barraqueiras e sendo evitadas até por vendedores de telemarketing.

Sobre o amor então, eu nem vou me estender muito. Só digo que para saber amar é preciso, antes de tudo, saber administrar a raiva, porque a gente tem raiva, sim, de quem ama! Imaginem só aquele docinho de pessoa amando. Vai se ferrar por inteiro. E o revoltado? Esse (ou essa) aí só vai levar pancada. Ou não.

Depois de todos esses pensamentos só sei de uma coisa: criança nunca mais!

Crônica: Jorge Marin

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