sexta-feira, 18 de maio de 2018

QUEM TEM MEDO DA CABELEIRA DO ZEZÉ???


Desde Sansão essa questão de cabelo representa um problemão. Quando a traiçoeira Dalila (na Bíblia, sempre tem uma mulher que ferra com o homem) descobriu que os cabelos eram a fonte da força do guerreiro hebreu, usou a sedução para cortar-lhe as madeixas e entregá-lo aos seus parentes filisteus.

O tempo passou até que, nos anos 60s, quando eu era menino, a questão do cabelo foi finalmente RESOLVIDA: homem cortava o cabelo bem curtinho, com as laterais acima das orelhas, e a mulher, única variação sexual então disponível, deixava os cabelos compridos. A coisa era tão prática que, para vocês terem uma ideia da facilidade dos tratamentos capilares, o meu cabelo era cortado pelo “seu” Aristides que mesclava seu ofício de barbeiro com o de castrador de porcos. Muito chique.

Tudo funcionou muito bem até que... no final daquela década, uns tais de Beatles começaram a deixar o cabelo crescer acima das orelhas e as costeletas longas. Mas a situação começou a ficar mais complicada para nós, homens tosados, quando os garotos (na época eram garotos mesmo) dos Rolling Stones começaram a deixar os cabelos na altura dos ombros!

Isso parecia uma heresia numa época em que uma das diferenças mais evidentes entre homens e mulheres era o comprimento dos cabelos. João Roberto Kelly, compositor carioca não perdoou e lascou a marchinha carnavalesca Cabeleira do Zezé (Será que ele é? Será que ele é?).

Aí vocês imaginam a confusão na minha cabeça. Eu estava começando a me interessar por meninas e, ao mesmo tempo, queria ser cantor de rock. Vejam o dilema: se eu deixasse o cabelo crescer, iria virar bicha e não poderia ficar com as meninas. Se eu cortasse o cabelo curtinho, não ia ser cantor.

No meu caso, a arte bateu mais forte e resolvi deixar o cabelo crescer até os ombros, mas, como previsto, não consegui arranjar nenhuma namorada, embora não notasse sinais claros de bichice a não ser uma vontade às vezes incontrolável de dançar igual aos Secos & Molhados que, mais tarde descobri, outros colegas também partilhavam.

Morrendo de medo daquela ambiguidade sexual, cortei os cabelos bem baixinhos, mas continuei sem namorada. Quarenta anos depois, surgiu na análise uma terrível explicação: eu era um tremendo vacilão.

Ao começar a ficar careca, passei a utilizar uma substância química celebrada pelos médicos como miraculosa para crescer cabelo, mas que trazia o risco tanto de causar o desinteresse sexual quanto a impotência. Ou seja, ou eu não teria vontade, ou, se tivesse, não iria rolar. Foi aí que eu pirei de vez com essa história de cabelo.

A última vez que usei cabelo até os ombros foi num desfile do Bloco do Barril. Maquiado de Ney Matogrosso, vestido de Dalila e cantando Cabeleira do Zezé. Foi libertador. Arrumei três namoradas.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : acervo do autor

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