Depois de um longo e
tenebroso inverno, venho eu passeando pelas ruas do bairro com a camisa gloriosa
do meu Botafogo, quando sou cercado por um “arrastão” de aposentados que, assim
como eu, adoram jogar conversar fora e falar mal dos outros.
A princípio, pensei que
iriam me congratular pela conquista do campeonato carioca ou fazer aquela
piadinha ridícula sobre o cheiro de naftalina, mas aqui o assunto foi outro.
Mais sério. Eles vieram me zoar, e me cobrar, porque o “meu candidato” foi
preso.
Antes de continuar, quero
esclarecer que, embora sejam termos fora de moda, ainda me apego muito nos
conceitos de “conservador” e “progressista”, no qual me defino sempre como progressista
(que, normalmente, é associado à esquerda). E isso por quê? Porque considero que
a situação aviltante em que se encontram os cidadãos, principalmente os idosos
e aposentados, não é algo que se queira CONSERVAR. Daí que jamais me considero
conservador, como os meus (muy) amigos se definem.
Hoje, aos sessenta anos,
sou uma pessoa bem mais prática. Assim, ao invés de explicar que, pelo fato de
defender ideias ditas esquerdistas, não tenho que seguir nenhum tipo de cartilha,
resolvo, simplesmente, olhar para todos eles e, com ternura, dizer:
- Meus companheiros, por
que vocês não vão para a pqp? - E aí saem todos assustados com a minha reação.
E ainda me chamam de antidemocrático, pois, como se afirmam apolíticos, dizem
não entender como uma pessoa como eu pode ter posições políticas.
E é sobre isso que eu
quero falar. Sobre a política. Hoje achamos que a política é uma forma de criticar
o outro. Se me identificam como “petralha”, recebo (recebi de verdade) dezenas
de gozações e xingamentos quando o Lula foi preso. Se, por outro lado, sou
conservador, que hoje chamam de “liberal”, me chamam de “coxinha”, “zumbi da
Rede Globo” ou coisas do tipo.
Na Grécia Antiga, o
suposto berço da democracia, esta se referia à vida boa na cidade (polis), e os cidadãos que se preocupavam
e trabalhavam pelo bem-estar de suas comunidades eram chamados de politikos, ao passo que aqueles que se
diziam apolíticos e estavam preocupados apenas com as suas vidas eram chamados
de idiotes, porque focados no eu (id).
Dessa forma, sou, sim, um
político, pois a única preocupação que tenho na vida é o bem-estar, meu, da
minha família, dos meus vizinhos, da comunidade em que vivo. E não é só da boca
pra fora, ou do mimimi, ou do cochicho atrás da porta. Se tiram o ônibus do bairro,
imediatamente vou até o Secretário de Trânsito e questiono. Se querem barrar
uma lei que é boa para os cidadãos, vou lá na Câmara dos Vereadores e a
defendo.
Porque, enquanto ficarmos
aqui pelas ruas, botecos e facebooks, nos acusando de ser comunistas ou
nazistas, uma quadrilha faz o que quer da nação e, se continuarmos nessa
lengalenga odiosa, uns contra os outros, isso também vai acontecer em nossas
cidades. Daqui a pouco, chega a eleição e, distraídos com nossas guerrinhas de
ego, acabamos engolindo os mesmos sapos de sempre.
Vamos acordar, gente.
Porque idiota não tinha só na Grécia não!
Crônica: Jorge Marin
Foto : Humberto Nicoline/Câmara Municipal JF
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