Buscando
meu filho no colégio pela última vez no ano, chega, junto com o alívio, uma
certa tristeza por passar dois meses longe do burburinho, das conversas e da
efervescência da juventude.
Outro
fenômeno que me encanta, e até mesmo intriga, é a manifestação multicor, por
vezes também barulhenta, ou dramática das mães que vêm buscar seus filhos. Umas
falam dos cuidados com o acompanhamento dos deveres, outras falam das falhas da
escola, outras contam das atividades extraclasse. Um traço comum é que quase todas
tentam, ao seu modo, demonstrar o tamanho do seu amor materno e da sua
dedicação apaixonada aos filhos. Noto que algumas, envergonhadas, não conseguem
demonstrar seu amor com aquela veemência que as outras demonstram.
Fico
pensando: será que existe mesmo essa coisa que os religiosos e alguns
psicanalistas de primeira hora tentaram nos vender, o AMOR MATERNO, natural,
normal e incondicional?
A esse
respeito, a escritora (e milionária) francesa Elisabeth Badinter afirma que o
amor materno tal qual o conhecemos hoje foi, na verdade, INVENTADO no século
XIX. Então quer dizer que as mães não amavam seus filhos antes? Umas amavam,
outras não. O ponto de partida para o controverso livro da autora francesa, ela
mesma mãe de três filhos, foi uma investigação feita pelo chefe de polícia de
Paris em 1780 que demonstrou que, das 21.000 crianças nascidas na capital
francesa naquele ano, apenas 1.000 eram amamentadas pelas mães e outras 1.000, por
amas de leite contratadas.
O fato é
que 19.000 crianças eram enviadas para o campo, onde as chamadas “amas
mercenárias” criavam os recém-nascidos que, ao atingirem a idade de 5 anos,
eram devolvidos às suas mães biológicas. Isto é, se sobrevivessem.
Ora, mas
o que isso tem a ver com as mães do século XXI? Muita coisa. As mães de hoje,
embora mergulhadas em informações, ainda sentem culpa quando percebem que não
possuem o tal instinto materno. Muitas mães piram ao descobrir que não são mães
suficientemente boas, sendo este conceito uma coisa meio esotérica, assim como
suficientemente magras.
Outra constatação,
reconfortante, é saber que um conceito absolutamente fictício, que é o instinto
materno, consegue se materializar aprendido socialmente, a ponto de a maioria
das mães atuais (e também os pais) só conseguirem ser felizes se os seus filhos
o são.
Seguindo
essa linha de raciocínio, poderíamos conjeturar que, se introjetássemos a
gentileza, por exemplo, nos comportamentos das pessoas, daqui a uns trezentos
anos essa prática seria considerada “normal” e o mundo, um lugar melhor para se
viver.
Ou até
mesmo, quem sabe, dizer àquelas mães da porta do colégio que elas podem, sim,
ter preguiça (e até raiva) de ter que aguentar aquela criança chata e
barulhenta. Ah, não se esqueçam de que os pais poderiam também ser convocados a
aprender o tal instinto materno. Alguns, aliás, já o fizeram.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://mamehame.wordpress.com/2014/07/13/instinto-materno-nao-existe/
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