Lendo a
poesia do meu parceiro Serjão na quarta-feira, comecei a me sentir um pouco mal
comigo. Calejado pelos quase sessenta anos de vida, confessei pra minha esposa,
após a leitura, que a fantasia anda um pouco ausente da minha alma ultimamente.
Percebi,
na argumentação poética do amigo, que, mais do que um dia santo, há a magia.
Magia que existe, com direito a Papai Noel e renas, à medida em que vamos nos
tornando crianças novamente.
Gente,
juro que eu até tento voltar a ser criança. Mas confesso que isso me assusta um
pouco. Afinal, até mesmo pela limitação física, acho muito difícil “voltar” a
ser criança. E, mais do que imaginar um velho barrigudo brincando de
pique-pega, me aterroriza a ideia de expressar minhas emoções infantis, pois
isto é o que minha analista chama constantemente de neurose.
Antes que
me acusem de ser desmancha-prazeres ou coroa amargo, peço que raciocinem
comigo: afinal de contas, qual é o propósito de juntar todos os familiares numa
grande ceia de natal nos dias atuais? Manter a tradição? Agradar à bisa? Quem
sabe até aplacar a culpa de não ter visitado os pais pelo menos algumas vezes
no ano?
Percebam
que meu objetivo aqui não é ser (mais um) chato trazendo uma teorização para a
ceia da família. Já chega os partidários discursando, os bêbados pentelhando e
os reprimidos extravasando seus recalques.
O que
quero dizer é: sejam, sim, crianças! Mas não crianças birrentas, crianças
ciumentas, crianças carentes de afeto, crianças teimosas e egoístas. E,
principalmente, não exijam que os outros escutem vocês, como se apenas os seus
problemas existissem, as suas dificuldades fossem as maiores e as suas questões
fossem as mais importantes.
Nesse
natal, que é um dia que CONVENCIONAMOS ser uma data de celebração, busquemos a
alegria. Que não precisa ser NECESSARIAMENTE com aqueles membros da família com
os quais raramente nos encontramos (a não ser na festa e nos enterros). Para
que o natal seja uma festa supostamente amorosa, que a celebremos com as
pessoas que amamos. De verdade.
Que bom
seria se eu pudesse passar o natal com meus amigos de infância. Porque a
memória sozinha não dá conta da bobeira que seria. Então fica aí a dica: vão,
se for o seu desejo, na tradicional festa de família, mas levem, em nome da
fantasia, aquele amigo maluco, ou aquela amiga idiota. Se for pra sermos
crianças, que sejamos LEVADOS!
Ah, e uma
última dica: Papai Noel continua existindo. O problema é que ser bonzinho não
garante mais os melhores presentes.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://pequenamasgrandemulher.blogspot.com.br/2012/06/voltar-ser-crianca.html
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