Festas de
final de ano são momentos raros para encontrar familiares que não vemos há
muito tempo, rever amigos e até vislumbrar antigos amores mal resolvidos.
Em tudo
isso, no entanto, uma coisa é certa: mudamos. E mudamos de uma forma
irreversível, de forma que, do que fomos, pouco ou nada resta, a não ser o
desejo de que o tempo agora passe tão devagar como passou outrora, em uma
determinada hora que, achamos nós, fomos felizes, ou perto disso.
E, porque
tudo é novidade, não há como escapar dos conselhos. As pessoas com as quais não
convivemos aproximam-se cheias de novas teorias. Àquelas tradicionais (Não vai
casar? Não vai ter filhos? Já aposentou?) juntam-se outras, das quais separei
alguns exemplos para compartilhar, só para compartilhar.
Na ceia
de Natal, que neste ano foi domingueira, uma amiga apresentou-me uma teoria
extraordinária. Segundo ela, a crise moral e afetiva em que vivemos deve-se,
unicamente, à forma com a qual passamos a criar nossos filhos.
Diz ela:
- O
mundo, meu amigo, é amargo, cruel e implacável. Quando eu era criança, minha
mãe sempre me tratou muito bem e, pelo fato de eu ter tudo na mão, ser tratada
como uma princesa, sofri muito no meu casamento. Meu marido, como você sabe, e
a família dele também, me trataram como um cachorro, não da forma como se
tratam os cachorros hoje, mas como os cachorros eram tratados naquele tempo.
Continua:
- Por
isso, trato minha filha, agora que meu marido me deixou, da mesma forma que
eles me tratavam. Não dou moleza pra ela! Trato-a com rispidez, não faço as
vontades dela, não dou muito carinho e acho que ela já tem idade pra fazer os
serviços da casa, pois estou cansada. De ter sofrido tanto porque minha mãe fez
todas as minhas vontades.
Comendo
minha sobremesa, fico analisando: a menina tem 12 anos. Segundo a teoria que
estou aprendendo agora, a coisa deve funcionar assim: se o mundo é um inferno,
vamos tratar de transformar a vida dos filhos num inferno porque assim, quando
eles forem para o mundo, não irão estranhar.
Devo
estar muito velho, pois fiquei tão apavorado com a ideia que nem terminei meu
pudim. Saí dali preocupado que algum político possa ter ouvido essa conversa, e
resolva criar uma PEC com essas ideias. Pensando bem, pode ser até que já tenha
criado.
Mas, como
a festa não para, a maioria nem sofre. Feliz 2017!
Crônica:
Jorge Marin
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