sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

CONSELHOS DE MÃE PARA 2017


Festas de final de ano são momentos raros para encontrar familiares que não vemos há muito tempo, rever amigos e até vislumbrar antigos amores mal resolvidos.

Em tudo isso, no entanto, uma coisa é certa: mudamos. E mudamos de uma forma irreversível, de forma que, do que fomos, pouco ou nada resta, a não ser o desejo de que o tempo agora passe tão devagar como passou outrora, em uma determinada hora que, achamos nós, fomos felizes, ou perto disso.

E, porque tudo é novidade, não há como escapar dos conselhos. As pessoas com as quais não convivemos aproximam-se cheias de novas teorias. Àquelas tradicionais (Não vai casar? Não vai ter filhos? Já aposentou?) juntam-se outras, das quais separei alguns exemplos para compartilhar, só para compartilhar.

Na ceia de Natal, que neste ano foi domingueira, uma amiga apresentou-me uma teoria extraordinária. Segundo ela, a crise moral e afetiva em que vivemos deve-se, unicamente, à forma com a qual passamos a criar nossos filhos.

Diz ela:
- O mundo, meu amigo, é amargo, cruel e implacável. Quando eu era criança, minha mãe sempre me tratou muito bem e, pelo fato de eu ter tudo na mão, ser tratada como uma princesa, sofri muito no meu casamento. Meu marido, como você sabe, e a família dele também, me trataram como um cachorro, não da forma como se tratam os cachorros hoje, mas como os cachorros eram tratados naquele tempo.

Continua:
- Por isso, trato minha filha, agora que meu marido me deixou, da mesma forma que eles me tratavam. Não dou moleza pra ela! Trato-a com rispidez, não faço as vontades dela, não dou muito carinho e acho que ela já tem idade pra fazer os serviços da casa, pois estou cansada. De ter sofrido tanto porque minha mãe fez todas as minhas vontades.

Comendo minha sobremesa, fico analisando: a menina tem 12 anos. Segundo a teoria que estou aprendendo agora, a coisa deve funcionar assim: se o mundo é um inferno, vamos tratar de transformar a vida dos filhos num inferno porque assim, quando eles forem para o mundo, não irão estranhar.

Devo estar muito velho, pois fiquei tão apavorado com a ideia que nem terminei meu pudim. Saí dali preocupado que algum político possa ter ouvido essa conversa, e resolva criar uma PEC com essas ideias. Pensando bem, pode ser até que já tenha criado.

Mas, como a festa não para, a maioria nem sofre. Feliz 2017!

Crônica: Jorge Marin

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