quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

TEMPOS REMOTOS


Enquanto deitado confortavelmente no velho sofá de minha casa com um controle remoto nas mãos, fiquei a imaginar como seria hilário se, no tempo daqueles televisores antigos, já existissem os famosos suportes de girovisão. E que dificuldade seria para acessá-las, haja vista que muitas televisões, como a que tenho em meu quarto, encontra-se posicionada quase no teto. Por sinal, muitos entendidos dizem que esta ociosidade diante da parafernália dos eletrônicos, em muito vem contribuindo com a obesidade. Mas isso é já outro assunto.

Voltando então àquelas velhas e românticas televisões à válvula (quase sempre Philco ou Philips), quem não se recorda do esforço físico que éramos submetidos para poder controlá-las. Em muitas casas, inclusive na minha, havia até um revezamento pré-combinado para que não cansasse uma só pessoa. Disputar no par ou ímpar era também muito comum entre os membros da família, principalmente para ver quem, naquela noite, seria o contemplado pra levantar menos vezes.

E como éramos pacientes naquela época, não?  Ao ligá-las, obrigatoriamente, tínhamos que esperar que aquecessem suas válvulas por pelos menos dois a três minutos. Somente depois que começava a aparecer som e imagem. Alguns entendidos diziam que seria prudente, depois de duas horas funcionando, desligá-las por, pelo menos dez minutos, para que assim, dando uma boa esfriada em suas válvulas, não viessem a queimar.

Logo depois de aquecidas, uma primeira levantada do sofá de imediato sempre acontecia, e isso se dava em razão da necessidade de se fazer os primeiros ajustes na sintonia fina. Geralmente, esse procedimento era realizado ao se girar uma daquelas imensas “rodelas” que quase sempre se encontrava sobre o seletor de canais. O negócio era girar pra esquerda, girar pra direita, até que, finalmente, melhorasse aquele incômodo chuvisco. 

Épocas em que a energia elétrica variava muito, fazendo com que as faixas de convergência nos tirassem muitas vezes do sofá, e do sério também. E, para aquelas residências que não possuíam os enormes estabilizadores de energia, é que a coisa ficava ainda mais cansativa. Lá em casa, corrigir o vertical era minha responsabilidade, enquanto o horizontal sempre ficava por conta de minha irmã.

Uma levantadinha básica pra se ajustar o volume sempre acontecia, sendo que quase nunca para se mexer no brilho e contraste. Se um vento forte nos pegasse de surpresa, o negócio era dar uma pequena torcedela no cano externo da antena pra redirecioná-la melhor com a torre. Chuva com relâmpagos então era um deus nos acuda, pois, provavelmente, ficaria tudo fora do ar por pelo menos três dias. Subir nessas montanhas num período em que nem estrada existia direito não era fácil não. O Sr. João, com seu famoso jipe, e o Sr. Tavinho que o digam.

Sorte nossa que, naquele tempo, somente o sinal de dois canais de televisão chegava à cidade, sendo um deles a TV Tupi e outro a TV Rio, mas mesmo assim, tínhamos obrigatoriamente que nos levantar para girar uma pequena chaveta, quase sempre afixada na parede, usada para inverter as antenas e com isso sintonizar o outro canal.

Ô vida cansativa ver televisão naquele tempo, sô! Pelo menos, tudo isso acontecia em meio expediente, pois, na maioria das casas, os televisores eram ligados somente depois das dezoito horas.

Crônica: Serjão Missiaggia

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