quarta-feira, 25 de maio de 2016

NOSSO INTERIOR - PARTE 1


Interessante dizer que, além deste título ter uma dupla interpretação, por coincidência, ambos se encaixam perfeitamente no sentido desta croniqueta. Acredito até que a felicidade de um está intrinsecamente ligada ao outro. Mas, o interior no qual irei agora me referir não é nosso interior pessoal, e sim ao interiorzão mesmo. Aquele onde moramos e onde, quase sempre, acontecem situações que fatalmente não aconteceriam em centros maiores.

Pra começo de conversa, aqui podemos nos considerar reis. Entre umas e outras coisas, pelo menos na terrinha, sou conhecido como o pai de dois belos filhos, e ser casado com a filha do famoso Barroso Goleiro. Sou aquela persona que, apesar de ter no currículo apenas o segundo grau (incompleto), poderá dizer tranquilamente e sem chance de ser chamado de louco, que foi baterista do mitológico conjunto Pitomba. Mas como seria explicar isso debaixo dos arranha-céus?

Voltando ao nosso interiorzão, não precisaria ir muito longe pra catalogar algumas situações interessantes:

Já ao sair na varanda de minha casa, de imediato, me deparo com a barbearia de um amigo com suas duas gaiolas penduradas na porta. Nelas, dois fantásticos canários belgas, num interrupto e sonoro cantar, vão dando um show à parte. Verdadeiros coadjuvantes atuando, enquanto cabelos e barbas vão sendo cortadas. Também dois banquinhos de madeira permanecem posicionados estrategicamente do lado de fora no passeio. A intenção é agradar aqueles que, não querendo ficar dentro do recinto a discutir futebol, política, pescaria e outros assuntos mais, optam mesmo por ficar vendo a banda passar.

Dias atrás, ao encontrar na rua com o profissional que faz a leitura dos hidrômetros, fui questionado sobre minha conta de água. Estava assustado pelos números alcançados naquele mês, que, segundo ele, teriam ultrapassado em muito os valores da minha média. Graças a este encontro é que fui descobrir que minha boia já estava quebrada há vários dias. Essa preocupação dele, juntamente com nosso diálogo, seriam pouco prováveis numa capital qualquer.

Domingo passado, fui ao campo de futebol e fiquei admirado quando um dos auxiliares, após levantar a bandeira assinalando impedimento do time da casa, encostou-se ao alambrado e, mesmo com o jogo em andamento, ficou a explicar aos torcedores irados, os motivos que o teria levado a anular o lance. No Maracanã, isso seria simplesmente suicídio.

Na padaria, somente entro quando o Fogão ganha. Já deixei meu recado dizendo que, em caso de alguma derrota, estarei temporariamente comprando na co-irmã ao lado. Isso pra não falar que, no quadro de funcionários da concorrência, tem sempre um botafoguense a mais. Porém, onde tenho o hábito de comprar, além de o proprietário ser flamenguista, de dez funcionários, nove são mengo. Aí fica difícil!

Não raramente, podemos também curtir na padaria o inocente tanger da viola de uma das figuras mais queridas e folclóricas da cidade. Sentadinho num canto do balcão, vai recebendo cada freguês como se estivesse na sala de sua casa. Brinco sempre com o pessoal dizendo que é dia de couvert.  E, quando o balconista da padaria ainda vira pra você e diz pra voltar depois, que sairá um pão quentinho? Provavelmente, se este ato de cortesia tivesse acontecido em um centro maior, esse funcionário estaria no olho rua, e o coitado do violeiro já teria dado adeus à sua viola.

Mas, enquanto fico aguardando o pão sair quentinho do forno, aproveito pra dar uma chegadinha no chaveiro que fica bem em frente à padaria. Bons papos rolam ali, mas o que mais me intriga é o seu misterioso esmeril. Confesso que sinto cheiro de algo meio sobrenatural no ar. Tentarei explicar o inexplicável. Alguém já viu algum esmeril continuar rodando, depois de desligado, por sete minutos e quinze segundos? O do meu amigo fica, e eu sou testemunha. No verão, chegou ao absurdo recorde de quase oito minutos. Não tem explicação! O meu esmeril não consegue ultrapassar um minuto. Seria algum daqueles rolamentos antigos que não fabricam mais? Enquanto vamos estudando esse fenômeno, já estamos programando uma competição de esmeril pra breve. Faremos uma chamada na net pra expor regulamento e data para inscrição. Então que fiquem atentos todos aqueles que têm esmeril em casa.
Continuaremos os causos na semana que vem. Enquanto isso, vamos curtindo os bezerrinhos atravessarem tranquilos e educadamente a faixa de pedestres de uma cidade do interior. 

Crônica e foto: Serjão Missiaggia                                                                                                                            

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