Na Rua
Domingos Henriques de Gusmão, por volta das onze da noite de sábado, o alarido
era insuportável: vozes, garrafas, risadas e até um eventual alto-falante
tocando músicas daquele ano de 1975.
Coloridos,
cabeludos, questionadores e um tanto amortecidos pela cerveja que bebíamos
mesmo sem gostar muito, juntávamo-nos dentro, fora, do lado e na calçada em
frente à Lanchonete Joia. O Zé Luiz tentava, em vão, atender a todos os
pedidos, preparar as batidas e controlar um caixa impossível.
Poucos carros
passavam. Algumas motos. A fumaceira dos inúmeros cigarros pareceria hoje
insuportável. Mas, apesar da chuva fina, da lama dos paralelepípedos e dos
óculos embaçados, era muito bom.
Na varanda
da casa chique ao lado, um homem respeitável fumava o seu cigarro (Minister?),
e tentava conversar com uma senhora. Outras pessoas chegavam e saíam daquela
cena que poderia ser descrita como ridícula ou inútil, visto que qualquer
diálogo ali, em frente ao nosso inferno, era totalmente impossível.
Ainda
assim, numa situação que eu, hoje em dia, jamais poderia suportar, o médico
ria. Era uma risada alta, vinda do fundo do peito, que, se fosse emitida ali
fora, até teria alguma chance de aparecer na nossa muvuca.
Lógico
que, mesmo ele, com a sua paciência inesgotável e sua fleuma britânica, não
aguentou a concorrência, e foi logo depois dormir. Era o tipo de família que
devia ir cedo à missa.
Quarenta
anos depois, fico pensando como é que o Dr. Nagib fazia para nos suportar ali
em frente à casa dele, colocando copos descartáveis nos muros, jogando bituca
de cigarro no jardim e falando palavrões até as duas, três da manhã.
Sei que a
fineza e a educação dele jamais permitiram expressar, pelo menos pra nós, como
aquela situação era ruim. Mas era muito bom!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Serjão Missiaggia
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