A coisa,
às vezes, começa como uma brincadeira, mas há quem leve a sério, e até se
orgulhe. É assim: a pessoa coloca na sua linha do tempo do Facebook uma
definição sobre si mesma dizendo que é sincera.
Pessoas
se orgulham de ser sinceras. “Quando percebo alguém agindo errado, eu falo
mesmo. Na lata! Doa a quem doer.” E saem por aí, pelo mundo afora, denunciando
às pessoas “erradas”, os seus pecados.
Mas, fico
me perguntando, o que são as pessoas “erradas”? E, se existem pessoas erradas,
devem existir, naturalmente, as pessoas certas. E este conceito de “pessoa
certa” me assusta muito. E por dois motivos: primeiramente, porque se existe
mesmo uma pessoa certa (seja lá o que for isso), então essa criatura não seria
um ser humano, mas um santo, uma entidade sobrenatural. Por outro lado, se não
existe nenhuma pessoa certa, hipótese que me parece mais plausível, então a
pessoa que se acha “certa” é psicótica, ou então mal-intencionada, mentirosa, o
que não tem nenhum problema para mim, desde que essa pessoa não queira me
convencer das suas mentiras.
Vivemos
num mundo de transformações absurdamente rápidas. Quando crianças, em São João
Nepomuceno, confessávamos os nossos pecados. Apesar da pouca idade, tínhamos o
conhecimento do que não podíamos fazer. E, como quase tudo, ou tudo, o que dava
prazer era proibido, ajoelhávamos no confessionário, e íamos desfiando o nosso
rosário de culpas.
Hoje,
mesmo entre católicos, fica até difícil explicar o que é um confessionário.
Entretanto, se a culpa é pouca, o perdão também é escasso. E temos que lidar
com conflitos, neuroses e bipolaridades.
No
entanto, alguns se arriscam, dizem-se bem-intencionados, e imaginam, dentro da
sua sinceridade absoluta que, se fosse possível eliminar todos os culpados
pelos “erros” do mundo, a vida na Terra seria melhor, muito melhor.
Mas,
quando indagados sobre quem são os responsáveis pelos erros do mundo,
normalmente falam dos políticos corruptos, pleonasmo que indica um grupo de
pessoas que, no caso do Brasil, fomos nós mesmos que elegemos.
Então, já
que é pra ser sincero, vamos reconhecer: essas pessoas corruptas, mentirosas,
enganadoras e safadas que ocupam a maioria dos cargos públicos do país foram
escolhidas por nós; são, portanto, a nossa cara. E aí?
Sei lá. À
medida que envelheço, vou duvidando cada vez mais das pessoas ditas sinceras.
Sinceridade assim, “na lata”, me soa às vezes como falta de educação.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Radu Sigheti, disponível em http://www.lfpress.com/2013/12/15/roger-waters-compares-israel-to-nazi-germany
Falou tudo ao afirmar que "se a culpa é pouca, o perdão também é escasso".
ResponderExcluirAcredito que aqueles que têm por hábito se perceber com constância acabam, inevitavelmente, tendo mais compaixão com seus erros e dos outros, pois percebem como cometemos equívocos sem esta intenção ou mesmo se esforçando para não fazê-los. Fica assim mais fácil ter um pouco de empatia com os deslizes alheios, não confundindo aqui esta atitude com a tolerância a tudo, mas sim uma reprovação mais realista e menos moralista daquilo que nos incomoda nos outros.
Sinceridade sem o refinamento da noção da educação é agressão dissimulada!