sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

NÃO ACREDITO EM PESSOAS SINCERAS


A coisa, às vezes, começa como uma brincadeira, mas há quem leve a sério, e até se orgulhe. É assim: a pessoa coloca na sua linha do tempo do Facebook uma definição sobre si mesma dizendo que é sincera.

Pessoas se orgulham de ser sinceras. “Quando percebo alguém agindo errado, eu falo mesmo. Na lata! Doa a quem doer.” E saem por aí, pelo mundo afora, denunciando às pessoas “erradas”, os seus pecados.

Mas, fico me perguntando, o que são as pessoas “erradas”? E, se existem pessoas erradas, devem existir, naturalmente, as pessoas certas. E este conceito de “pessoa certa” me assusta muito. E por dois motivos: primeiramente, porque se existe mesmo uma pessoa certa (seja lá o que for isso), então essa criatura não seria um ser humano, mas um santo, uma entidade sobrenatural. Por outro lado, se não existe nenhuma pessoa certa, hipótese que me parece mais plausível, então a pessoa que se acha “certa” é psicótica, ou então mal-intencionada, mentirosa, o que não tem nenhum problema para mim, desde que essa pessoa não queira me convencer das suas mentiras.

Vivemos num mundo de transformações absurdamente rápidas. Quando crianças, em São João Nepomuceno, confessávamos os nossos pecados. Apesar da pouca idade, tínhamos o conhecimento do que não podíamos fazer. E, como quase tudo, ou tudo, o que dava prazer era proibido, ajoelhávamos no confessionário, e íamos desfiando o nosso rosário de culpas.

Hoje, mesmo entre católicos, fica até difícil explicar o que é um confessionário. Entretanto, se a culpa é pouca, o perdão também é escasso. E temos que lidar com conflitos, neuroses e bipolaridades.

No entanto, alguns se arriscam, dizem-se bem-intencionados, e imaginam, dentro da sua sinceridade absoluta que, se fosse possível eliminar todos os culpados pelos “erros” do mundo, a vida na Terra seria melhor, muito melhor.

Mas, quando indagados sobre quem são os responsáveis pelos erros do mundo, normalmente falam dos políticos corruptos, pleonasmo que indica um grupo de pessoas que, no caso do Brasil, fomos nós mesmos que elegemos.

Então, já que é pra ser sincero, vamos reconhecer: essas pessoas corruptas, mentirosas, enganadoras e safadas que ocupam a maioria dos cargos públicos do país foram escolhidas por nós; são, portanto, a nossa cara. E aí?

Sei lá. À medida que envelheço, vou duvidando cada vez mais das pessoas ditas sinceras. Sinceridade assim, “na lata”, me soa às vezes como falta de educação.

Crônica: Jorge Marin

Um comentário:

  1. Falou tudo ao afirmar que "se a culpa é pouca, o perdão também é escasso".
    Acredito que aqueles que têm por hábito se perceber com constância acabam, inevitavelmente, tendo mais compaixão com seus erros e dos outros, pois percebem como cometemos equívocos sem esta intenção ou mesmo se esforçando para não fazê-los. Fica assim mais fácil ter um pouco de empatia com os deslizes alheios, não confundindo aqui esta atitude com a tolerância a tudo, mas sim uma reprovação mais realista e menos moralista daquilo que nos incomoda nos outros.
    Sinceridade sem o refinamento da noção da educação é agressão dissimulada!

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