Mais uma
vez pego carona na postagem do meu parceiro Serjão que, de forma brilhante,
falou na quarta-feira passada sobre o dilema de ter que escolher entre o
PROGRESSO e a QUALIDADE DE VIDA, como se fossem coisas excludentes e que a
existência de um eliminaria, automaticamente, o outro.
O mais
curioso é que, por uma dessas coincidências que quem trabalha com arte sabe que
não existem, na foto ilustrativa daquela matéria, aparecem dois aposentados, um
dos quais, o sr. Bráulio, pai do nosso amigo Carlos Eduardo Fajardo, aparece
todo lépido e faceiro sentadinho num jornal para não sujar sua roupa sempre
impecável, à sombra de uma frondosa árvore e, o que é mais importante, no
frescor dos seus 91 anos bem vividos.
Aí, como
dizia meu pai (amigo do sr. Bráulio), fiquei encasquetado com a seguinte ideia:
será que esse moço, quase centenário, tem essa vida boa porque se dá ao luxo de
sentar à sombra dessa árvore, ou será que a existência da árvore proporcionaria
a todos que ali se refestelassem uma vida boa?
Foi aí
que eu resolvi mexer no angu que o Serjão tão bem serviu e descobri uma outra
coisa: as pessoas não têm qualidade de vida, muitas vezes, ou até mesmo na
maioria das vezes, PORQUE NÃO SABEM O QUE É VIDA BOA.
Saio aqui
pelo bairro perguntando para meus colegas aposentados e recebo as mais
diferentes respostas: uns dizem que vida boa é ir para uma praia, tomar todas
as geladas possíveis, curtir a mulherada e, no outro dia, fazer tudo isso de
novo.
Outros
dizem que vida boa é ganhar na mega da virada e ter sempre muito, muito
dinheiro e gastar à vontade. Há também quem diga que vida boa é ter uma mulher
que não reclame e, de quebra, seja bonita e órfã de mãe.
Mas, quem
chega aos sessenta sabe, e aos noventa mais ainda, que todas essas coisas
citadas NÃO podem ser sinônimas de boa vida, isto por um motivo muito simples:
ou porque acabam logo ou porque são impossíveis de serem atingidas.
Pensem
bem: ninguém suportaria, por mais praiano que seja, uma dieta de 365 dias de
sol, mar e cerveja, nem que seja por motivo de saúde ou clima. Então, quando um
dos dois fatores acabar com a festa, a pessoa se torna triste. No caso do
dinheiro, há duas tristezas que todo bancário conhece bem: a angústia de não
perder e o pânico de ter perdido.
Ora, se a
vida boa não puder ser realizada pelas coisas finitas e transitórias, como
então ter uma ótima qualidade de vida? Aí remeto o olhar de todos vocês àquela
foto publicada na quarta-feira. No olhar tranquilo daqueles homens, no riso
calmo, na fala mansa e no respeito, há uma pista: viver bem é a mesma coisa que
SE RELACIONAR BEM, com amigos ou não, com a natureza sempre, e com tudo em si que
ficou do tempo de menino e vai ficando, ficando, e vai ficar.
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Pim
van den Heuven, disponível em https://farm3.staticflickr.com/2895/14132998023_4f79c1090b_b.jpg
Tá anotado: conseguir se relacionar bem com a natureza (a sua, dos outros e do planeta)...
ResponderExcluirPS: Chato ficar repetindo isso, mas que imagens lindas as que ilustram as postagens deste blog, sejam as fotos feitas pelo Serjão (o paparazzi da sensibilidade) ou as que você, Jorge, garimpa na Net!
Brigadu, cumpadi Sylvio, mas, em termos de foto, nada se compara a um álbum chamado "Trens Mineiros" lá do Flickr. Aquilo sim é trem de primeira qualidade. Abração!
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