"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.
Nenhum destino biológico, psíquico, econômico, define a forma que a fêmea
humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora
esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o
feminino".
Coloco, de propósito, essa frase de Simone
Beauvoir, que foi uma das questões do último Enem, e que, estranhamente, foi
considerada por muita gente como ofensiva, demoníaca, e até mesmo como um
convite para a homossexualidade, o que, se for mesmo (embora eu ache exatamente
o contrário), não vejo problema alguma, já que convite aceita quem quer.
Pois bem, mas essa polêmica suscitou outros
desdobramentos, como é o caso da proibição, pelo Congresso Nacional, de
qualquer tipo de referência, dentro das escolas, sobre gênero e orientação
sexual. Ou seja, homens se beijam nas novelas, moças desfilam abraçadas nos
shoppings, as paradas gays existem em todas as grandes cidades brasileiras,
mas, na hora em que as crianças perguntarem para as professoras, elas estão
proibidas, pelos nossos congressistas, de falar. Se surge um menino efeminado
na classe, então, é um deus-nos-acuda: vai pra sala da coordenadora e, de lá,
direto para o psicólogo!
Eu também não sou partidário dessa história de
vídeos “educativos” que o pessoal chamou pejorativamente de “kit gay”, onde uma
série de filmezinhos ridículos deveriam ser mostrados às crianças, com um
conteúdo de clara apologia a uma “superioridade” homossexual.
Sou de um tempo, e esse tempo é agora, em que
homem é homem e mulher é mulher. Mas isso não significa que eu vá ignorar as
inúmeras orientações sexuais das pessoas. O gênero, até o final dos tempos, vai
continuar sendo “menino” e “menina”. Agora, se o menino vai ficar com outro
menino, ou com duas meninas, ou com um extraterrestre, isso é um assunto da
ordem da intimidade daquelas pessoas.
Muitos leitores e leitoras do Blog se casaram
virgens; alguns hoje acham isso ridículo, outros citam como exemplo para seus
filhos e filhas. Padres e freiras renunciam à sua sexualidade e a sublimam pois
este é um voto para servir à sua vocação religiosa. Ou seja, são também opções
sexuais, mas todo mundo acha “normal”, embora a maioria das pessoas faça sexo
(pelo menos, é o que eu acho).
Penso que a preocupação exagerada com esse
assunto “sexo” pode ser bem reveladora de alguma insegurança, algum medão
recalcado, ou só falta de serviço mesmo. Tenho um filho em idade escolar e acho
que o esclarecimento deve ser proporcional à dúvida, mas a omissão da
informação causa a curiosidade que, em tempos de Internet, pode ser esclarecida
de variadas formas, muitas delas perigosas e preconceituosas.
“É preciso erguer o povo à altura da cultura e
não rebaixar a cultura ao nível do povo." Mais uma da Simone!
Crônica: Jorge Marin
Foto: Alassea Ancalimon, disponível em http://www.deviantart.com/art/Choices-IV-298373581.
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