Pra
terminar, e ainda lembrando algumas passagens pitorescas de nosso inusitado grêmio
literário, não tive como esquecer quando, certa vez, fomos convidados a fazer
uma apresentação para a turma da primeira série. Chique, não? Se bem que não
teríamos que andar muito, pois a tal sala ficava bem do outro lado do corredor.
Esse
convite nos foi feito por nossa eterna mestra de português, dona Cinila, que na
época, era a professora apenas da referida sala. Mas, ainda antes, gostaria de
lamentar a ausência de alguns colegas nessa fotografia, entre eles o
protagonista principal destas histórias. Será que, no momento da foto, estaria
descansando naquela bela matinha do colégio, que terminava na Travessa Padre
Condé? Mas, isso já é outro assunto.
Convite feito,
convite aceito, e pra lá nos dirigimos, pasmem, sem um ensaio sequer! Seria barbada,
pensávamos nós. Afinal de contas, não haveria o que se preocupar e muito menos
ficar ensaiando, pois era uma apresentação pra garotada de primeiro grau, e
iríamos, com nossa “vasta” experiência, dar aquele show. E foi justamente aí que nos estreparíamos
mais uma vez!
Quando
chegamos, e ainda do lado de fora, percebemos, antes de entrar, que a coisa era
bem mais solene do que imaginávamos, e que outras séries e professores haviam também
sido convidados. O clima de seriedade reinante não estava nada favorável, principalmente,
diante da expectativa de uma bela apresentação daqueles que já estariam na
terceira série. Nós, claro!
Quando a
mestra nos viu, foi de imediato anunciando nossa presença e nos convidando a
entrar. Fazendo nossa apresentação, solicitou a todos que permanecessem em
absoluto silêncio e prestassem bastante atenção, pois iriam assistir a uma
verdadeira aula de clube de leituras. Para completar, disse que aquela seria
uma ótima oportunidade para que pudessem aprender com os mais tarimbados.
”Tamo” lascado, alguém sussurrou no meu ouvido! Pior, é que estávamos mesmo!
Pra
variar, não havia até o presente momento, nada ou quase nada programado e muito
menos um santo roteiro em minhas mãos. Como iria me orientar, ou simplesmente,
dar início à reunião? Só não poderia perder a pose, pois, como “chefe de
estado” eleito democraticamente por maioria dos votos mais um, minha obrigação
seria a de conduzir serenamente a turma. E foi o que eu fiz, ou pelo menos,
tentei fazer.
Silêncio
total e, sob uma imensa expectativa da meninada e demais convidados, lá fui eu
sentar mais uma vez à mesa. Até então, única certeza que tinha era soltar, em
alto e bom som aquela velha e celebre frase: ESTÁ ABERTA A SESSÃO. E assim foi.
Diante de
salva de palmas, alguém sorrateiramente aproveitou o momento, e me passou um
papel por debaixo da mesa. Fui tomado de certo alivio, pois sabia que, possivelmente,
seria o roteiro que teria que seguir.
Gelei de
vez ao perceber que nossa última atração seria, nada mais nada menos, do que
Lelé Bellini contando piadas. Meu Deus! Isso
é nitroglicerina pura! E se ele resolver contar novamente aquela da CANDINHA SAFADINHA?
Pior que eu já havia tomado lugar à mesa, e não haveria como interceptá-lo.
Enquanto algumas
atrações iam rolando normalmente, eu ficava tentado com bastante sutileza me
comunicar com ele. Pra piorar ainda mais a situação, sentou-se justamente na última
carteira e, com a cabeça baixa, possivelmente ensaiando a Candinha, pouco
atinava para meus dramáticos apelos. Candinha safadinha não! Candinha safadinha
não! Tentava em vão alertá-lo com gestos e sinais, toda vez que olhava pra mim.
Não teve
jeito mesmo e, após anunciá-la como última atração, pensei comigo: seja o que Deus
quiser. Afinal de contas, uma Candinha a mais, uma Candinha a menos, não fará
diferença mesmo. Foi quando, pra minha sorte, ao passar frente à mesa, num último
e dramático apelo, sussurrei ventricularmente em sua direção: “Candinha não!
Candinha não!” E assim fui salvo na última volta do ponteiro.
Ainda pra
terminar, teríamos que ficar e assistir à apresentação da meninada. Não diria
que aprendemos com eles, mas foi um verdadeiro passeio, pra não dizer, um humilhante
show de bola. Antes tivesse liberado a Candinha!
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : acervo do autor