Certa vez,
cismamos em tocar no terreiro da casa de nosso contrabaixista Belásquez. Por
sinal, uma tarefa nada fácil haja vista a topografia do lugar, que não nos era
muito favorável. Na verdade, era totalmente desfavorável em função do acentuado
declive do terreno.
Foi quando, em
função desse detalhe, tivemos a infeliz ideia de montar o palco com o velho tablado
da mãe de nosso guitarrista. O objetivo seria tentar nivelar o pequeno lugar em
que ficaríamos juntamente com os instrumentos, mas, naquela pressa, esquecemos de
apoiá-lo direito no chão. O palco se transformou numa verdadeira balança, onde
ninguém poderia mexer. Se tal acontecesse, a turma que estivesse na linha de frente,
de imediato subia, e os que estivessem na retaguarda, simultaneamente desciam e
vice-versa. Pra alguns, já meio etílicos
saturados, foi um sobe e desce de causar vertigem.
Modéstia à
parte, aquela noite foi uma sensação e motivo de comentário por muitas semanas.
Tudo foi superorganizado, apesar do nosso descuido em deixar que os cachorros
nadassem na bacia dos copos. Imaginem vocês que, enquanto era servida a batida
de limão sobre a mesa, o cãozinho da casa e sua família se esbaldavam embaixo
dela. Mas, naquela atura do campeonato, prevaleceu mesmo a velha máxima que
dizia: “o que os olhos não veem o coração, digo, o paladar, não sente”.
Mas, voltando
ao baile, chegamos até a adaptar vários spotlights nas árvores, deixando o
terreiro todo colorido e o ambiente num belo visual. O lugar ficou lotado e, se
tivéssemos cobrado ingressos naquela noite, teríamos faturado uma boa grana.
Veio gente de tudo enquanto lugar e até um barzinho foi improvisado pouco
abaixo do pé de ameixa.
Mesmo
reconhecendo que fizemos uma tremenda “baruiada”, e que a batida de limão tava mais
do que “braba”, entre vivos e desfalecidos, todos se salvaram.
Semana que vem,
terminarei esta série de postagens, contando aquela que teria sido a
brincadeiras das brincadeiras ou, pelo menos, o pouco que existiu dela.
O indigitado tablado
nunca mais foi devolvido e a coisa ficou feia pro nosso lado. Contarei numa
outra oportunidade.
Crônica: Serjão
Missiaggia
Foto : acervo do autor
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