Acho que,
como sempre, o meu filho tem razão. Constrangido por assistir a um filme não
compatível com a sua idade (10 anos), recusou-se a ir comigo ao cinema ver O Pequeno
Príncipe, filme francês dirigido pelo americano Mark Osborne. Realmente, o
desenho animado não é para crianças.
Ambientado
num bairro de uma cidade americana, o filme conta o drama de uma mãe (dublada
pela atriz Rachel McAdams) obcecada, como o são grande parte das mães atuais,
em colocar a sua filhinha (Mackenzie Foy) numa escola de elite, daquele tipo
que “dá para passar direto no vestibular” como se diz no Brasil.
Administradora
de empresa, a mãe estabelece um rigoroso fluxograma de estudos para a filha
seguir durante as férias de verão com o objetivo de atingir a sua meta
considerada, pela mãe, como “essencial”. Mas, o essencial, como sabemos nós,
leitores do Pequeno Príncipe original, é invisível aos olhos.
Assim,
vizinho à casa da menina, um velho aviador (Jeff Bridges) vai subverter toda
aquela ordem e organização, introduzindo o lúdico na vida da menina. Porque
ocorre que aquele velho, descobrimos quando tenta decolar no seu antigo avião
estacionado no jardim, é aquele mesmo aviador que viveu as aventuras com o
Pequeno Príncipe no deserto do Sahara.
À medida
que o aviador vai se fazendo presente na vida da garotinha, o filme adquire um
tom extremamente poético, pois a animação, até então do tipo 3D gerada em
computador, transforma-se num tipo de stop
motion em que as aquarelas originais de Antoine de Saint-Exupéry adquirem
uma projeção em massinhas de modelar com as cores características do livro que
lemos quando crianças. Os movimentos da Raposa (James Franco) são
impressionantes.
Quando,
na segunda metade do filme, a menininha resolve viajar até o asteroide B612, em
busca do Pequeno Príncipe, as duas “realidades” se misturam e enxergamos o que
há de mais triste do mundo dos adultos mostrado no livro, confrontado pelo que
(ainda) há de belo no nosso mundo.
E o que
há de belo em nosso mundo de reis, exibicionistas e apegados ao dinheiro, pode
ser: um riso de criança ao longe, tratar nossos filhos como crianças e não como
adultos (como era feito até o século XIX), cativar pessoas a quem não
conhecemos, ou, simplesmente, chorar no cinema.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : frame do filme O Pequeno Príncipe
Depois de uma descrição como essa fica impossível não querer conhecer o filme!
ResponderExcluirComo convém à 7ª arte, mais do que um crítico cinematográfico, o amigo Jorge é um pintor cinematográfico, colorindo com a aquarela da sua percepção os significados e sentimentos das cenas.
Se eu fosse dono de uma revista, você já estaria contratado para escrever uma coluna sobre os filmes, pois o amigo sabe, com maestria, captar e projetar na tela do externo a rica e contínua dinâmica do interno, enriquecendo os detalhes da película da vida.