sexta-feira, 28 de agosto de 2015

REVENDO O PEQUENO PRÍNCIPE


Acho que, como sempre, o meu filho tem razão. Constrangido por assistir a um filme não compatível com a sua idade (10 anos), recusou-se a ir comigo ao cinema ver O Pequeno Príncipe, filme francês dirigido pelo americano Mark Osborne. Realmente, o desenho animado não é para crianças.

Ambientado num bairro de uma cidade americana, o filme conta o drama de uma mãe (dublada pela atriz Rachel McAdams) obcecada, como o são grande parte das mães atuais, em colocar a sua filhinha (Mackenzie Foy) numa escola de elite, daquele tipo que “dá para passar direto no vestibular” como se diz no Brasil.

Administradora de empresa, a mãe estabelece um rigoroso fluxograma de estudos para a filha seguir durante as férias de verão com o objetivo de atingir a sua meta considerada, pela mãe, como “essencial”. Mas, o essencial, como sabemos nós, leitores do Pequeno Príncipe original, é invisível aos olhos.

Assim, vizinho à casa da menina, um velho aviador (Jeff Bridges) vai subverter toda aquela ordem e organização, introduzindo o lúdico na vida da menina. Porque ocorre que aquele velho, descobrimos quando tenta decolar no seu antigo avião estacionado no jardim, é aquele mesmo aviador que viveu as aventuras com o Pequeno Príncipe no deserto do Sahara.

À medida que o aviador vai se fazendo presente na vida da garotinha, o filme adquire um tom extremamente poético, pois a animação, até então do tipo 3D gerada em computador, transforma-se num tipo de stop motion em que as aquarelas originais de Antoine de Saint-Exupéry adquirem uma projeção em massinhas de modelar com as cores características do livro que lemos quando crianças. Os movimentos da Raposa (James Franco) são impressionantes.

Quando, na segunda metade do filme, a menininha resolve viajar até o asteroide B612, em busca do Pequeno Príncipe, as duas “realidades” se misturam e enxergamos o que há de mais triste do mundo dos adultos mostrado no livro, confrontado pelo que (ainda) há de belo no nosso mundo.

E o que há de belo em nosso mundo de reis, exibicionistas e apegados ao dinheiro, pode ser: um riso de criança ao longe, tratar nossos filhos como crianças e não como adultos (como era feito até o século XIX), cativar pessoas a quem não conhecemos, ou, simplesmente, chorar no cinema.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : frame do filme O Pequeno Príncipe  

Um comentário:

  1. Depois de uma descrição como essa fica impossível não querer conhecer o filme!
    Como convém à 7ª arte, mais do que um crítico cinematográfico, o amigo Jorge é um pintor cinematográfico, colorindo com a aquarela da sua percepção os significados e sentimentos das cenas.
    Se eu fosse dono de uma revista, você já estaria contratado para escrever uma coluna sobre os filmes, pois o amigo sabe, com maestria, captar e projetar na tela do externo a rica e contínua dinâmica do interno, enriquecendo os detalhes da película da vida.

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