sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

COMO QUEM CANTAROLAVA NUM CARNAVAL QUE NÃO LEMBRO MAIS


Não consigo mais pensar em mim
Como eu era nos carnavais como eu era nas missas dominicais
Não consigo mais pensar do jeito que os outros pensavam pra mim
Guardo comigo bem dentro um rancor
Que não sei se é benfazejo ou só um desejo
De não ter que resistir a pressões
Ou desrespeitar sermões ou só ser o que penso que sou.

Minha inteligência com o passar do tempo
Já não tem sido cerebral mas cardíaca pulsátil animal
Dialogo como quem cantarola
A marola do tempo já não me causa
E na ponta dos dedos gastos com inutilidades
Cultivo unhas garras cimitarras alfanjes falanges terçados.

Quem me via amar como um pingo d’água
Não reconheceria o rio que jorra lento hoje do meu coração
E que no entanto transborda recorda antigas cachoeiras
Espalha-se espraia-se e perene inunda leitos em cursos naturalmente límpidos.

Meu corpo depois de tanto tempo
Encontra-se preparado para ventos anseio ventos
Sei de cochichos que acompanham os ares
Percebo sussurros que dizendo-se vozes de espíritos
São na verdade ecos de cigarras gaguejos de passarinhos
E eu suspiro respiro... transpiro vida leve.

Meu dente da frente é branco!
Meu café da manhã é passarada!

Poesia: Jorge Marin
Foto    : Ruiz Poeta, disponível em https://c2.staticflickr.com/6/5130/5252038725_5962329576.jpg

Um comentário:

  1. Jorge,
    "De pingo d'água a rio que jorra lento no coração. Lento, mas que transborda em antigas cachoeiras. Espraia perene e inunda leitos límpidos."
    Adorei.
    Poesia é isso: toca ou não toca nosso coração.

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