Não consigo
mais pensar em mim
Como eu
era nos carnavais como eu era nas missas dominicais
Não consigo
mais pensar do jeito que os outros pensavam pra mim
Guardo comigo
bem dentro um rancor
Que não
sei se é benfazejo ou só um desejo
De não
ter que resistir a pressões
Ou desrespeitar
sermões ou só ser o que penso que sou.
Minha inteligência
com o passar do tempo
Já não
tem sido cerebral mas cardíaca pulsátil animal
Dialogo como
quem cantarola
A marola
do tempo já não me causa
E na
ponta dos dedos gastos com inutilidades
Cultivo unhas
garras cimitarras alfanjes falanges terçados.
Quem me
via amar como um pingo d’água
Não reconheceria
o rio que jorra lento hoje do meu coração
E que no
entanto transborda recorda antigas cachoeiras
Espalha-se
espraia-se e perene inunda leitos em cursos naturalmente límpidos.
Meu corpo
depois de tanto tempo
Encontra-se
preparado para ventos anseio ventos
Sei de
cochichos que acompanham os ares
Percebo sussurros
que dizendo-se vozes de espíritos
São na
verdade ecos de cigarras gaguejos de passarinhos
E eu
suspiro respiro... transpiro vida leve.
Meu dente
da frente é branco!
Meu café
da manhã é passarada!
Poesia:
Jorge Marin
Foto : Ruiz Poeta, disponível em https://c2.staticflickr.com/6/5130/5252038725_5962329576.jpg
Foto : Ruiz Poeta, disponível em https://c2.staticflickr.com/6/5130/5252038725_5962329576.jpg
Jorge,
ResponderExcluir"De pingo d'água a rio que jorra lento no coração. Lento, mas que transborda em antigas cachoeiras. Espraia perene e inunda leitos límpidos."
Adorei.
Poesia é isso: toca ou não toca nosso coração.