Enquanto deitado confortavelmente no velho sofá de minha casa, com um controle remoto nas mãos, fiquei a imaginar como seria hilário se, no tempo daqueles televisores antigos, já existissem os famosos suportes de girovisão. E que dificuldade seria para acessá-las, haja vista que muitos aparelhos, como o que tenho em meu quarto, encontra-se quase no teto. Por sinal, muitos entendidos dizem que essa ociosidade diante da parafernália dos eletrônicos em muito vem contribuindo com a obesidade. Mas isso é já outro assunto.
Voltando então
a lembrar das velhas e românticas televisões a válvula (quase sempre Philco ou
Phillips), quem não se lembra do trabalho físico que éramos submetidos para poder
controlá-las? Em muitas casas, e na minha não seria diferente, havia até um revezamento
pré-combinado para que não cansasse apenas uma só pessoa. Disputar no par ou ímpar
era também muito comum entre os membros da família, principalmente para ver quem,
naquela noite, seria o contemplado pra levantar menos vezes.
E como
éramos pacientes naquela época, não? Ao
ligar a TV, obrigatoriamente, tínhamos que esperar que aquecessem suas válvulas
por pelos menos dois a três minutos para que assim começasse a aparecer som e
imagem. Naquela época, havia também os que diziam que seria prudente, depois de
duas horas de funcionamento ininterrupto, desligar os televisores por, pelo
menos, dez minutos, para que, dessa forma, dessem uma boa esfriada em suas
válvulas, e não viessem a queimar.
Logo depois
de aquecidas, uma primeira levantada do sofá, de imediato, sempre acontecia, e
isso se dava em razão da necessidade de se fazer, os primeiros ajustes na
sintonia fina. Geralmente, esse procedimento era realizado ao se girar uma daquelas
imensas “rodelas” que, quase sempre, vinham sobre o seletor de canais. O negócio
era girar pra esquerda, girar pra direita, até que, finalmente melhorasse
aquele incômodo chuvisco.
Épocas em
que a energia elétrica variava muito, fazendo com que as faixas de
convergências nos tirassem muitas vezes do sofá, e do sério também! E, para
aquelas residências que não possuíam os enormes estabilizadores de energia, é
que a coisa ficava ainda mais cansativa. Lá em casa, corrigir o vertical era
minha responsabilidade, enquanto o horizontal sempre ficava por conta de minha
irmã.
Uma
levantadinha básica pra se ajustar o volume sempre acontecia, sendo que quase
nunca para se mexer no brilho e contraste. Se um vento forte nos pegasse de
surpresa, o negócio era dar uma pequena torcedela no cano externo da antena pra
redirecioná-la melhor com a torre. Chuva com relâmpagos então era um deus nos
acuda, pois, provavelmente, ficaria tudo fora do ar por pelo menos três dias.
Subir naquelas montanhas, num período em que nem estrada existia direito, não
era fácil não. Sr João com seu famoso jipe e Sr Tavinho que o digam!
Sorte
nossa que, naquele tempo, somente o sinal de dois canais de televisão chegava à
cidade, sendo um deles a TV Tupi e outro a TV Rio, mas, mesmo assim, tínhamos
obrigatoriamente que nos levantar para girar uma pequena chaveta, que, quase
sempre afixada na parede, era usada para inverter as antenas e com isso
sintonizar o outro canal.
Ô vida
cansativa ver televisão naquele tempo, sô! Pelo menos, tudo isso acontecia em
meio expediente, pois, na maioria das casas, os televisores eram ligados
somente depois das dezoito horas.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : disponível em http://y101radio.com/september-7-a-big-day-in-tv-history/
Foto : disponível em http://y101radio.com/september-7-a-big-day-in-tv-history/
Bem me lembro, Serjão, bem me lembro ...
ResponderExcluirE assim vai a vida correndo...
E a sala da casa da Nozinha, lembra-se?
Lembro dessa rotina que fazia do ato de assistir a TV uma atividade digna de artesão, com requintes de estilo e persistência.
ResponderExcluirQue lembrança inexplicavelmente saudosa e legal... em tempos de TV HD 24 horas com mais de 100 canais, sinto saudade desta simplicidade e da disponibilidade de tempo para ver TV desta forma.
Lembro que quando tinha meus 11 anos, lá pelos idos de 1971, achava o máximo quando estava de férias e assistia TV até a programação sair do ar. Quando isso acontecia me achava já praticamente um adulto, com capacidade para ver até o fim o que a TV podia oferecer.
A rapidez e excesso de opções de hoje na TV ao mesmo tempo informam e entediam com maior eficiência!