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Carnaval acabou e as pessoas já começam a se mover, a se deslocar para buscar a
felicidade em outros locais. Parece que, de um certo tempo para cá, não dá pra
ser feliz sem agitação, barulho e juventude. Este conceito que, aliás, é antigo
(pois é de Pascal no século XVII), atingiu nos nossos dias uma verdadeira
conotação moral, como se imoral, hoje, fosse ser triste.
No meu
tempo de criança, não havia essa preocupação com a busca incessante da
felicidade. Também pudera: tínhamos a mais absoluta certeza de que, se
levássemos uma vida bem chinfrim, bem desprovida de prazeres, teríamos,
automaticamente, assegurado o nosso ingresso no paraíso, que nos era descrito
como uma espécie de spa onde poderíamos experimentar a verdadeira felicidade,
e, não apenas por um tempo, mas por toda a eternidade!
Aquela crença
nos dava um conforto danado, pois sabíamos que, se não fôssemos felizes nesta
vida, e justamente por não ser feliz nesta vida, estaríamos assegurando uma
outra vida, esta sim plena de alegrias.
Pois bem,
hoje uma grande parte da população, aí incluído o Papa Francisco, não acredita
nessa coisa de céu e inferno. No entanto, e isso é o que me chama mais a
atenção, quase a totalidade desses descrentes acredita numa “felicidade eterna”,
que deve ser vivida diariamente, durante 24 horas, aqui nesta nossa vida atual.
Ora, isso
tem causado dois fenômenos: primeiro, uma multidão de seres que tenta fazer
isso. Trabalham como loucos para ter um happy
hour, tomam todas, namoram o maior número de pessoas possível, consomem
tudo o que surge pela frente em quantidades absurdas, viajam para lugares
paradisíacos, e não deixam nenhum minuto de descanso passar em branco, para
participar de algum evento. São conceituados, nos meios de comunicação que
vendem toda essa parafernália, como “normais”.
Por outro
lado, há aquelas pessoas que, ou por não ter grana para financiar a trip da felicidade, ou por não ter saco
para cumprir todos esses rituais, ou por não gostar de barulho e multidões,
preferem ficar quietas, ou sozinhas, ou simplesmente vivendo a vida
descompromissadamente. São chamadas, pelos experts
da indústria farmacêutica, como “depressivos”.
Entre os
depressivos, há três tipos de indivíduos: os que são depressivos mesmo, não
conseguem conduzir suas vidas e devem, sim, tomar medicamentos. Existem também aqueles
culpados de não serem felizes e, por não conseguirem atingir os paradigmas dos
vencedores, buscam todo o tipo de conforto, de drogas (receitadas ou não por
médicos) a terapias, de religiões a retiros, de dicas de programas televisivos
a simpatias e florais. Vejam que este segundo grupo, quanto ao consumo, pode
ser definido como “normal”.
Finalmente,
há aqueles que não estão nem aí para a felicidade. Acordam mal quase todos os
dias (vocês conhecem alguém que acorda superbem?), tomam um café, vão viver a
vida. Se tiver sol, tudo bem. Se não tiver, também. À medida em que vão vivendo
o seu dia, alegram-se, fazem o que querem, ficam nervosos, xingam, brincam, se
entristecem, choram até. E, à noite, depois de um dia de emoções variadas,
dormem. Tô nessa!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.biography.com/people/charlie-chaplin-9244327
Esta tal de felicidade é algo ao mesmo tempo tão próximo e tão distante...
ResponderExcluirParabéns pela ótima crônica!