Seria
uma baita injustiça de minha parte se, ao descer desta minha missão fotográfica
no adro da igreja do Rosário e ao passar ao lado dessa incrível casa, não
fizesse também uma reverência e um breve comentário sobre ela. Infinitas
histórias eu teria pra contar, sendo que algumas delas já foram aqui mesmo
narradas no inicio blog (A Casa da Tia Irinéa).
Então,
aproveitando a interessante coincidência de que há trinta e dois anos estávamos
nesta mesma época vivendo eufórica e intensamente aquela inesquecível Copa na
Espanha, irei novamente fazer este comentário.
Era
junho de 1982 e, pra variar, não haveria melhor lugar para nos reunirmos e
assistir aos jogos da COPA que não fosse o famoso TERRAÇO da Tia Irinéa.
Enquanto
as ruas da cidade já se encontravam totalmente decoradas nas cores verde e
amarela, de maneira absolutamente apaixonante e até mesmo um tanto doentia
(talvez em circunstância daquele fantástico time de Zico e companhia), que
subíamos para o referido terraço tomados por uma forte emoção de patriotismo.
Vivíamos
numa época em que a situação política do país, pelo menos aos nossos olhos,
parecia bastante análoga aos dias atuais, principalmente pelo simples fato de
que o mundial estaria sendo disputada do outro lado do Atlântico. Ao contrário
dos dias de hoje, o fato de centenas de quilômetros nos separarem daquela COPA,
também distanciava nossa atenção de tristes realidades (CORRUPÇÃO, GASTOS
EXORBITANTES DO DINHEIRO PÚBLICO, SUPERFATURAMENTOS EM OBRAS ETC).
Mas,
voltando ao terraço da Tia Irinéa, parecia mesmo que estávamos indo para uma
verdadeira guerra, tal era o poderio de nossa pesada artilharia de fogos e
foguetes. Muitas bandeiras, instrumentos musicais, velas, filtro solar e muita
adrenalina faziam daquela laje uma verdadeira arquibancada, pra não dizer campo
de batalha.
Sinceramente,
não saberia dizer o que mais VIBRAVA, principalmente na hora do gol, ou seja,
se realmente seríamos nós ou a velha laje da Tia Irinéa. Mas... Que o lugar
tremia pra caramba, não tenho a menor dúvida.
Hoje,
diante de tamanha tecnologia a nos trazer imagens fantásticas recheadas de
detalhes (já cheguei a ver um pequeno inseto na bola), fico a recordar de nossa
mega televisão de 14 polegadas em preto e branco que, em pleno sol, permanecia
com uma imensa bucha de palha de aço na antena no intuito de se tentar melhorar
um pouco mais a imagem. Isso para não dizer que era expressamente proibido
passar próximo à tela pra evitar as famosas interferências.
Na
verdade, não estávamos nem aí pra essas e outras dificuldades, pois tudo isso
servia apenas pra apimentar ainda mais aqueles encontros e nossa contagiante
alegria. Pulos em cima, promessas em baixo.
Trinta
e dois anos se passaram e, apesar dos pesares, me recuso a aceitar que esses e
outros fatos venham também me roubar um pouco daquele velho entusiasmo de estar
vivendo, com alegria e emoção, mais uma COPA DO MUNDO.
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia
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