sexta-feira, 6 de junho de 2014

EU QUERO DAR UMAS PALMADAS


Gente, eu tenho uma paranoia particular que me diz que, quando chega a minha vez de usufruir de uma coisa legal, este direito me é cassado. Isso aconteceu comigo várias vezes: quando fui para a escola, época legal às pampas como diziam, fizeram uma tal revolução que obrigava todo mundo a ficar em “ordem unida” e “murchar a orelha” como dizia meu pai.

A coisa continuou nos anos 70: lá eles faziam o Woodstock e nós, aos 12-15 anos, achando que iríamos ser hippies, dávamos de cara com o Bolote. No Contador, achava que poderia bancar o Bruce Lee, e encontrava um cara mais poderoso: o sô Bi.

Nos anos oitenta, o início da independência profissional chegou (oba!) com o auge da liberação sexual, mas também com a... AIDS. Mais recentemente, ao tentar aposentar-me aos trinta anos de serviço, junto com um bando de amigos, tive as asinhas cortadas pelo FHC, e cumpri mais cinco anos de prisão.

Agora, eu, que já levei umas tantas palmadas, e até mesmo umas lambadas de corrião, estou sendo privado do meu sagrado direito de distribuir uns tabefes na bunda do meu terceiro filho pela famigerada Lei da Palmada.

Já aprovada pelo Senado, a lei foi para sanção presidencial e está esperando Tia Dilma, conhecida por distribuir umas bordoadas quando necessárias, decidir se a palmada será permitida ou proibida.

Para mim, a tal lei é uma besteira descabida e é o mesmo que criar uma lei proibindo soltar pum debaixo do cobertor para proteger a camada de ozônio. Explico: sou totalmente contra qualquer tipo de violência, doméstica então nem se fala (mesmo com palavras) e abomino desrespeito às crianças. Mas me pergunto: qual é a utilidade de um diploma legal para reger um assunto puramente privado, ou seja, fora da competência do Estado, no qual os abusos (crimes) já estão previstos no Código Penal e também no Estatuto da Criança e do Adolescente?

E como a lei vai funcionar na prática? Lasco um tapa no popô do meu filho: aí ele vai chorando até uma delegacia e me denuncia, ou algum vizinho denuncia. Será que ele vai ter que se submeter a exame corpo de delito? Já foi dito que não haverá prisão, mas aqueles famosos programas socioeducativos “pra inglês ver” como aqueles cursos de primeiros socorros nos exames para carteira de motorista.

Finalmente, vamos combinar, se o que se requer é diminuir a violência através da educação, que tal aprovar uma lei coibindo a violência contra os professores dentro das escolas?

Crônica: Jorge Marin
Foto: disponível em http://ven1.blogspot.com.br/2014/05/lei-da-palmada-e-aprovada-na-ccj-da.html

2 comentários:

  1. Concordo e aplausos para Jorge, muito boa crônica.

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  2. Lembro que muito tempo atrás li um artigo que comentava que a Inglaterra tem uma quantidade pequena de leis porque grande parte dos comportamentos sociais era regulado pela educação e valores morais transmitidos dentro das famílias, de geração para geração. Sendo assim, não era necessário regulamentar no papel o que o senso comum já fazia de forma espontânea.
    Acredito, portanto, que a quantidade de leis de um povo é inversamente proporcional à sua educação social.

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