Nesta
altura do campeonato, muitos já deverão estar admirados com o descuido
gramatical que vem acompanhando o titulo desta croniqueta, mas, antes de
jogarem “preda”, deixem-me explicar.
Propositalmente
fiz essa brincadeira em circunstância de um clique de memória que tive no exato
momento em que fui tentar fotografar aquela plaquinha da Voz de São João e não
mais tê-la encontrado. Sinceramente,
tinha a impressão de que ainda permanecia numa parede ao lado de onde sempre
existiu, ou seja, que continuava afixada no antigo prédio da Papelaria Moderna. Um verdadeiro patrimônio cultural, a indicar
o lugar conhecido por todos nós, como A PEDRA DA TIPOGRAFIA (Mural da Voz de
São João). Por sinal, patrimônio cultural este que, por muitas décadas, veio a
fazer parte do cotidiano sanjoanense e da vida de varias gerações.
Mas o
que teria tudo isso a ver com a PREDA? Presto aí uma singela homenagem a um
grande amigo de infância e adolescência, que se chamava Roberto Paula,
carinhosamente conhecido por todos nós por Beto Preto. Enquanto criança, era
desta forma que ele se referia ao local, sendo que teria sido justamente uma
dessas referências que ficaria gravada para
sempre em minha memória.
Foi
quando, num belo dia em que estávamos brincando de descer o morro da Matriz de
carrinho de rolimã, ele, todo entusiasmado, chegou dizendo que havia visto um
papel na PREDA DA TIPOGRAFIA e que este papel dizia que iria chegar um circo na
cidade. Se realmente chegou o tal circo, confesso que não me lembro, mas sua
frase, com certeza, se eternizaria em meu inconsciente.
Muito
comum também era escutar meus pais, ao chegarem da rua, dizerem que numa tal
PEDRA estaria escrito isso ou aquilo. Eu ficava intrigadíssimo, e ainda pior
que meu saudoso amigo Beto Preto, imaginava que havia uma estranha PEDRA na
calçada, onde as pessoas visualizavam os acontecimentos.
Mas,
voltando à PREDA, digo à PEDRA DA TIPOGRAFIA, ideia genial criada pela família
Rocha ainda no início do século, acredito que não haverá uma santa pessoa na cidade
que não se recorda de alguma nota marcante que ali um dia teria lido. Muitas das
quais boas, outras até ruins, como aquelas que vinham escritas nos famosos
panfletos de falecimento. No meu caso, ficou marcado uma bela homenagem a John
Lennon, deixada pelo nosso saudoso amigo Paulinho Cri-Cri.
Mas
todas elas de imensurável utilidade publica, principalmente numa época em que a
tecnologia das comunicações, se comparada aos dias atuais, ainda engatinhava,
deixando as noticias bem mais distantes.
Interessante
que, mesmo ainda hoje, ao passar pelo calçadão, muitos de nós, mesmo que de
forma inconsciente, não deixamos de dar uma olhadinha básica para aquele local.
Somente depois constatamos que, infelizmente, não mais existe uma PEDRA no caminho,
e que, no caminho, não mais existe uma PEDRA.
Crônica e foto:
Serjão Missiaggia
Aquela pedra ficou na memória de todos nós e também na história. Ela era tudo de bom. Só São João mesmo, êta povo criativo. Tenho saudades.
ResponderExcluirMika
Enquanto não é possível ressuscitar a PEDRA, o negócio é ir registrando tudo nesta PREDA virtual que são os nossos Blogues.
ExcluirNas minhas andanças pelas Gerais vi algumas poucas cidades que ainda usam murais públicos, onde as pessoas deixam seus recados. Penso ser este um hábito saudável e democrático, incentivando a troca de informações e treinando o respeito recíproco na utilização do espaço. Além disso, tem um charme muito legal ver, dividindo o espaço destes murais, papéis impressos em gráficas misturados com recados feitos à mão em folhas de caderno, poemas e desenhos. Já vi protesto político, convite para namoro, propaganda de linguiça do açougue tal, anúncio de nascimento e missa de 7º dia num mesmo local e eu, transitório viajante motoqueiro, com pouco tempo na cidade fiquei sabendo da cultura, comércio e desejos da população local. Imaginem como esses murais podem ser úteis para definir e fortalecer a identidade cultural entre os moradores de uma cidade...
ResponderExcluirEstas “predas” e murais populares são um patrimônio cultural dos locais que ainda têm a perseverança e delicadeza de mantê-los! Das cidades que visitei, a maior que ainda preserva este simpático hábito é São João del-Rei, onde vi três destes murais distribuídos no centro histórico, todos repletos de recados; num sinal que os moradores ainda tem algo a dizer e ler deste modo.
Infelizmente faz tempo que não vejo em Juiz de Fora estes espaços de manifestação popular e artesanal. Os antigos moradores devem achar isso um “mico” e os novos desconhecem ou acham coisa ultrapassada. Em tempo de conectividade virtual instantânea e constante, não há prática mais atual e usual, só que exercida através dos celulares e computadores. No modernismo massificado, perde-se a personalidade e o charme da individualidade da produção artesanal, preferindo a comodidade digital.
Se houver ainda em São João Nepomuceno um pequeno grupo de pessoas dispostas a preservar esta tradição dos murais públicos, reúnam-se e ressuscitem a “Pedra da Tipografia” (mesmo que seja em outro local), ficando algumas pessoas – previamente combinadas – encarregadas de fiscalizar e retirar os avisos sem noção e educação. Melhor ainda será se conseguirem criar novos murais destes em locais chaves (estação rodoviária, antiga estação ferroviária, prefeitura, no entorno de uma praça...).
Uma iniciativa útil é procurar um ou mais vereadores e apresentar a eles um projeto que tombe estes murais como patrimônio imaterial municipal, associada a uma campanha de divulgação nas escolas municipais para incentivar a valorização e perpetuação, entre as novas gerações, dessa forma de participação popular e cidadã.
Se o poder público não abraçar a causa, basta encontrar uns poucos comerciantes da velha guarda interessados em manter vivo este hábito e combinar com eles a prática. Convenhamos que, uma vez disponibilizado o espaço em um local público, dentro ou fora de um estabelecimento comercial, é pequeno o investimento material para criar um mural. Fica depois o empenho na divulgação e manutenção do mesmo.
Por fim, se o público e o comercial não se interessarem, resta ainda a possibilidade doméstica de alguns moradores, previamente organizados, criarem novos murais populares nas fachadas de suas casas ou postes de iluminação próximos e divulgarem o fato na vizinhança, chamando os moradores para uma saudável participação nos recados e na divulgação boca a boca. Dá até para batizar cada mural, acima ou abaixo do local para recados, com nomes simpáticos ou pomposos do tipo “Mural do Zé”, “A voz do populacho” ou “Individual coletivo”. É questão de ver a identidade do local e dos participantes do mural. Acredito sinceramente ser possível resgatar e multiplicar as “predas” onde se alicerçam o produtivo e charmoso hábito de compartilhar ideias e arte nos papéis.
Menos saudosismo e mais ação para alcançar resultados! Vou procurar aqui em JF pessoas e locais para tentar parir um destes distantes parentes dos jornais populares. Se conseguir resultados, aviso aqui no blog.