sexta-feira, 27 de junho de 2014

A COPA E A VIDA ALHEIA


De uma forma ou de outra, a Copa nos mobiliza. Política, corrupção, arte e religião ficam para um segundo momento, para nos deliciarmos com os detalhes, os lances, as maravilhas da Copa.

Uma coisa, no entanto, não sai de cena, e, pelo que vejo, não sairá jamais: a preocupação com a vida alheia. Quando não é a cor da calcinha do biquíni da esposa do jogador da Holanda, é o processo contra a revista masculina que pretende publicar as fotos de uma moça que “ficou” com o nosso craque maior.

A coisa é tão descarada, e tão ridícula, que, acompanhando a última entrevista coletiva do representante da seleção alemã, antes do jogo contra os Estados Unidos, fiquei pensando tratar-se de uma daquelas cenas do programa Casseta e Planeta ou mesmo de uma pegadinha desses programas grosseiros.

O entrevistado era o jogador Mesut Özil, meia da seleção da Alemanha e jogador do Arsenal de Londres. As perguntas sempre buscaram explorar as possíveis fraquezas e contradições da vida pessoal do atleta, nunca o futebol.

A primeira pergunta era sobre a sua insatisfação de jogar na ponta direita na seleção, posição diferente da qual joga na sua equipe. O craque não caiu no ardil da pergunta e disse que, embora goste de jogar no meio de campo, jogaria, de bom grado, onde o técnico alemão o escalasse, pois era um profissional.

A segunda pergunta não poderia ser mais pessoal: por que você tatuou um leão em seu corpo? O jogador respondeu que estava ali para falar de futebol e, como considerasse essa uma questão fora do contexto, não iria responder.

Finalmente, uma provocação: como você vai fazer para jejuar no sábado quando tem início o Ramadã? (o jogador é muçulmano). A resposta do jogador não poderia ser mais clara: “eu estou trabalhando e não vou participar”. Ou seja, como o trabalho dele implica na necessidade de muitas calorias, ele não pode fazer jejum até o final da Copa.

No dia seguinte, o repórter publica a seguinte manchete: "Özil dá 'patada', veta Ramadã e diz que prefere papel de armador". Pode? Melhor deixar pra lá, e ficar quietinho no Facebook.

Crônica: Jorge Marin
Foto:  Daily Mail

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL