De uma
forma ou de outra, a Copa nos mobiliza. Política, corrupção, arte e religião
ficam para um segundo momento, para nos deliciarmos com os detalhes, os lances,
as maravilhas da Copa.
Uma
coisa, no entanto, não sai de cena, e, pelo que vejo, não sairá jamais: a
preocupação com a vida alheia. Quando não é a cor da calcinha do biquíni da
esposa do jogador da Holanda, é o processo contra a revista masculina que
pretende publicar as fotos de uma moça que “ficou” com o nosso craque maior.
A coisa
é tão descarada, e tão ridícula, que, acompanhando a última entrevista coletiva
do representante da seleção alemã, antes do jogo contra os Estados Unidos,
fiquei pensando tratar-se de uma daquelas cenas do programa Casseta e Planeta
ou mesmo de uma pegadinha desses programas grosseiros.
O entrevistado
era o jogador Mesut Özil, meia da seleção
da Alemanha e jogador do Arsenal de Londres. As perguntas sempre buscaram
explorar as possíveis fraquezas e contradições da vida pessoal do atleta, nunca
o futebol.
A primeira pergunta era sobre a sua insatisfação de jogar na
ponta direita na seleção, posição diferente da qual joga na sua equipe. O craque não caiu no ardil da pergunta e disse que, embora goste de jogar no meio
de campo, jogaria, de bom grado, onde o técnico alemão o escalasse, pois era um
profissional.
A segunda pergunta não poderia ser mais pessoal: por que você
tatuou um leão em seu corpo? O jogador respondeu que estava ali para falar de
futebol e, como considerasse essa uma questão fora do contexto, não iria
responder.
Finalmente, uma provocação: como você vai fazer para jejuar
no sábado quando tem início o Ramadã? (o jogador é muçulmano). A resposta do
jogador não poderia ser mais clara: “eu estou trabalhando e não vou participar”.
Ou seja, como o trabalho dele implica na necessidade de muitas calorias, ele
não pode fazer jejum até o final da Copa.
No dia seguinte, o repórter publica a seguinte manchete: "Özil dá 'patada', veta Ramadã e diz que prefere papel de armador". Pode? Melhor deixar pra lá, e ficar quietinho no Facebook.
Crônica: Jorge Marin
Foto: Daily Mail
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