quarta-feira, 30 de maio de 2012

AS GATAS DA FAZENDA


Frame do filme Para Wong Foo, obrigada por tudo, Julie Newmar! 

Gente, envelheci!  E foi de repente, assim como quando saímos na rua, de terno (isso já aconteceu comigo) e, de uma construção, cai uma lata de cal na nossa cabeça.  Mas a minha constatação não foi pelos raros cabelos brancos: a velhice súbita ocorreu numa área que a maioria das pessoas prefere nem tocar no assunto, foi na sexualidade.
E aconteceu ontem.  Vejam só: estava eu, com a família, assistindo à estreia do reality show A Fazenda e o apresentador anunciou que, dali a pouco, seriam conhecidas as gatas do show.  Velho assanhado, fiz aquele comentário hipócrita (“vamos ver essa pouca vergonha”) e arregalei os zoião, não sem antes dar aquela limpada semanal nas lentes.
Aí, apareceu a primeira “gata”, a câmera mostrou um sapato de salto bem alto (deve ser para não atolar na lama, pensei) e foi, sensualmente, subindo pelas pernas da tal modelo ou sei lá o quê.  Cara, a mulher devia ter uns 90 centímetros de coxa!  Mas, ao ver aqueles atributos, estranhamente, comecei a achar que era, na verdade, o Anderson Silva de minissaia, tal a quantidade de músculos.  Ou seja, a única coisa que senti ao ver aquele corpão foi um certo mal estar.  Pensei: bom, mas ainda vêm mais umas sete por aí.
A coisa continuou e, depois de uns cantores jovens (quando eu era jovem), veio outra “gatona”.  De longe, deu para ver que ela usava um shortinho bem curto.  Me animei por uns instantes, mas, quando a câmera deu um close, pensei: agora é o Minotauro, porque a coxa do Vítor Belfort é mais bonita. Decidi, então, dar mais uma chance e continuei assistindo.  Não querendo me enganar, olhei mais uma figura feminina com um certo desdém e, com conhecimento de causa, falei:
- Esse aí deve ser o tal travesti do qual falaram, né?
Minha mulher e minha comadre olharam pra mim com cara de poucos amigos e me detonaram:
- Essa aí é a Gretchen!  Não lembra mais?
- “Aquela” Gretchen? – ainda perguntei, mas não obtive resposta.
Quando, finalmente, surgiu uma lourinha que mais parecia uma fada: não era muito peituda, nem tinha coxas de lutador de UFC e, para minha surpresa, era a única que sabia caminhar de salto alto.  Meio reticente, perguntei para as minhas assessoras:
- Quem é essa moça, gente?  É alguma ex-atriz da Malhação?
Aí a indignação deu lugar à risaiada.  Meu filho explicou:
- Essa mocinha é o Léo Áquila, pai.  Não sabe mais a diferença?
Pirei.  Jamais podia imaginar que isso pudesse acontecer comigo um dia.  Porque, pior do que não poder ficar com uma mulher, é não reconhecer a feminilidade ou, quando reconhecer, tratar-se de outra coisa.
Abracei com força minha mulher e pedi:
- Por favor, gente, será que poderíamos assistir um filme antigo?  De repente, me deu vontade de assistir um filme com a Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e até mesmo com a Bette Davis.
Agora, falando sério, será que foi a senilidade que caiu de repente, ou esse novo padrão feminino está um pouco schwarzenegger pro gosto masculino tradicional?

(Crônica: Jorge Marin)  

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O DISCO VOADOR IV - os cientistas


NO CAPÍTULO ANTERIOR DO DISCO, os van helsings de ETs chegaram na casa de seu amigo Jesse, chamaram, mas tiveram o cuidado de manter o motor da poderosa Vemaguete ligado (just in case).  Jesse chegou à janela, com o rosto todo branco de uma pomada para espinhas, parecendo, ele próprio, um ET.  Em seguida, falou sua frase favorita:
- Qualé, gente?
Informado da APARIÇÃO, pulou rapidamente o murinho da varanda da casa e, ainda com aquela pomada na cara, entrou direto na Vemaguete. 

Saíram e passaram novamente na praça, ante o olhar curioso das pessoas que não entendiam o que estava acontecendo, e subiram o Caxangá, velozes e furiosos, operação... trevo! 

O medo do desconhecido, a ansiedade asfixiante, mais aquele punhado de poeira que não parava de entrar no veículo transformavam a situação numa experiência perturbadora.  Chegaram ao trevo, onde a ocorrência continuava a mesma.
Jesse Marcel, muito impressionado com A VISÃO, começou a liderar, como se comandasse uma verdadeira operação de guerra. Ordenou, imediatamente, ao Sílvio Heleno, que subisse com o carro no canteiro e, com a frente virada para cima, apontasse os faróis em direção ao morro.  Enquanto nos ministrava o que parecia ser um pequeno curso de etiqueta intergalático, pedia insistentemente ao Sílvio que, como bons anfitriões, devíamos piscar as luzes em ritmos alternados. Todos se perguntavam se aquilo seria um código ou alguma senha secreta que somente o Jesse e os ET’s conheciam.  Nosso amigo não parava de falar:

- Vou perguntar sobre o teorema de Fermat.  Será que eles sabem?  Podemos pedir para eles nos mostrarem um gráviton.  Vai ser um barato... 

Ouvindo aquelas coisas, todos perceberam que a aventura começou a ficar cada vez mais séria.  No entanto, A COISA NÃO SE MOVIA...  Jesse decretou:
- Eles devem ser Greys.  Temos que chamar o meu pai! Ele conhece o comportamento zeta reticuli.

E dessa forma, foi convocado um profissional de respeito, um verdadeiro cientista! 

Com cerca de 80 anos, ouvindo mal e andando com dificuldades, o Professor Marcos poderia, com sua imensa experiência e sabedoria, ajudar bastante. Isto sem falar que, quando exercia suas atividades no Rio de Janeiro, era considerado uma grande autoridade na matéria, com muitos trabalhos publicados e reconhecimento da comunidade científica.
E lá foram chamá-lo, voltando novamente, mais velozes e muito mais curiosos, com o motor da Vemaguete meio que resfolegando. 
Algumas pessoas, que ainda estavam na praça, só faltavam se jogar na frente do carro, tamanha a curiosidade.  Duas horas já haviam se passado e, num verdadeiro rally TENSO E INSANO, chegaram novamente à residência do velho mestre.   Para surpresa geral, eis que o mesmo surge na varanda.  De pijamas, toquinha na cabeça, foi logo dizendo de imediato:
- EU VOU, MAS, SE NÃO FOR NADA, VOCÊS ME PAGAM! NÃO GOSTO DE PERDER MINHA NOVELA!!!!  Novela? À meia noite??? Mais um fato estranho, mas... De qualquer forma, o negócio era levar o homem de qualquer jeito.

NÃO DEIXEM DE LER, NA PRÓXIMA SEMANA, o cerco ao objeto não identificado: finalmente, uma luz no meio do pasto!

(Crônica original: Serjão Missiaggia – Adaptação/releitura: Jorge Marin)

NOTA: Utilizamos nomes fictícios para as pessoas sérias, honestas e trabalhadoras que nós, simplesmente, incomodamos, chateamos e trouxemos para esta aventura maluca. Pedimos desculpas pelo incômodo causado na época e, se for vontade de tais pessoas a exposição de seus nomes, basta nos comunicar, que teremos grande prazer e alegria em divulgar. Registramos nosso agradecimento a esses profissionais!


quarta-feira, 23 de maio de 2012

ZERG RUSH, DEVORADOS PELA INFORMAÇÃO

Arte fractal por Zephir Analea

No domingo passado, após a vitória do Botafogo sobre o São Paulo, causou estardalhaço a decisão do jogador Herrera, autor de três gols, de não pedir uma música para o Fantástico.  Por um lado, os “contestadores” apoiavam a atitude do jogador que teria ousado desafiar a hegemonia da Rede Globo, enquanto outros o julgavam “um babaca que queria aparecer; afinal, todo mundo pede”.
Na mesma edição do festejado programa dominical, outra notícia catalogada pela mídia como “explosiva”: a revelação de abuso sexual feita pela apresentadora Xuxa.
Num e noutro caso, sem entrar no mérito das questões envolvidas, uma tendência se revela: a confusão, muito comum em tempos de bebebês e fazendas, em confundir o que é da esfera pública e da privada.  E notem que a privada aqui pode até ser substantivo!
Para que se tenha uma boa medida do que significa uma coisa e outra, acho que poderíamos iniciar perguntando ao telespectador o que é do seu interesse.  Eu, por exemplo, não tenho o menor interesse em saber de qual música o artilheiro botafoguense gosta.  Bem como, não me causa nem uma gota de curiosidade saber da vida particular da apresentadora global.
E o pior é que, se esta exposição de intimidades se limitasse à televisão, a coisa já estaria de bom tamanho.  Mas não.  Estamos caminhando pela rua e, do nada, vem uma mulher, aos berros, no celular dizendo que “eu sei que você ficou com aquela piranha e quero que você se f...”   E isso na hora em que estamos levando a criançada para o colégio, a uma tarde, em plena Avenida Rio Branco.
Antigamente, dizia-se que as pessoas se frustravam, não podiam dar vazão à intensidade dos seus desejos.  Surgia, assim, a figura do recalque, tão presente nos consultórios psicanalíticos.  Nos dias atuais, parece que o recalque foi varrido, da parte inferior dos tapetes do inconsciente, diretamente para o mural do Facebook.  Não basta mais se liberar: é preciso compartilhar, exibir, tornar público!
E essa não é uma constatação que afeta apenas a moral e os bons costumes, como se dizia nos tempos de censura.  A exposição pública elimina a figura do outro, aquela outra pessoa com a qual era comum compartilhar os momentos íntimos.  Ao eliminar a figura daquele outro que, de certa maneira, nos julgava, ou melhor dizendo, ao deletar aquela instância individual da qual recebíamos mensagens, ficamos à mercê da apreciação pública que, na falta de um modelo unificado, acaba sendo a mídia.  Por isso, o assujeitamento às regras do fantástico, aí nos dois sentidos.
A coisa se torna tão séria ao ponto de uma atriz, que se orgulha do fato de não expor sua intimidade, de forma alguma, ao desfrute público, ter roubadas fotos íntimas, para, justamente, serem divulgadas na grande rede.  Os comentários são absurdos: “bem feito, não quis se exibir na revista, agora está aparecendo de graça.”  Como se, depois do advento do zoológico humano, todos tivessem a obrigação se mostrar.
E rimos, damos gargalhadas, esquecendo que tudo isso é uma tremenda violência, pois, tanto as fotos roubadas da atriz, quanto o depoimento dito bombástico da apresentadora, e até mesmo a não-música do jogador, recebem o mesmo peso, a mesma medida.  São mercadorias, negociadas, patrocinadas e exibidas nesse fantástico show das vendas.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

RELEITURAS: O DISCO VOADOR III - primeira aproximação

Foto de Caroline Quirk
NA SEMANA PASSADA, como bem recordam, encontramos nossos intrépidos exploradores pitombenses subindo pelo morro dos Marimbondos, DE OLHO naquelas janelinhas iluminadas e misteriosas, que ficavam a brilhar lá no alto. 
Em volta, a ESCURIDÃO era TOTAL pois, naquela época, era tudo bem mais deserto, e o movimento de carros ocorria só uma vez ou outra. Não havia uma única casa no meio do caminho e muito menos uma santa alma, que pudesse descontrair e compartilhar com os garotos aquele momento decisivo. 
A Dkw Vemaguete mais parecia uma peneira furada, pois, enquanto subia engasgando morro acima, aspirava a poeira, que sufocava e pintava todo mundo de amarelo. 
Quando lá chegaram, viram que pouca coisa havia mudado, e que a visão do OBJETO continuava a mesma. 
E dessa forma, só na tocaia e observando ao longe, ficaram por um bom tempo. Como se fosse um campo de batalha, de um lado a expedição Pitomba e, na outra extremidade, a COISA. 
Foi aí, neste exato momento, que começaram a perceber, não sem um certo incômodo, que, para ver melhor, a única solução seria uma APROXIMAÇÃO mais arriscada... 
Já não havia conversa entre os rapazes, ninguém àquela altura era contra ou a favor de coisa alguma.  O que havia era um sentimento, forte e profundo, de que uma força sobrenatural E IRRESISTÍVEL, os conduzia a seguir, mais e mais em frente. E foi o que fizeram. 
Sílvio Heleno achou por bem fazer a aproximação de traseira, isto é, de marcha ré. Segundo ele, tratava-se de uma tática evasiva, na qual teriam mais agilidade no caso de uma possível fuga de emergência. 
E assim o veículo foi acionado: enquanto, passo a passo, faziam a aproximação, a adrenalina de todos ia a mil e os corações batiam descompassadamente. 
Após percorrerem mais ou menos uns 50 metros, Sílvio Heleno, ameaçando um pequeno descontrole emocional, não suportou toda aquela tensão, soltou um grito: AAAAAAAHHH! e pisou fundo no acelerador. 
O que ocorreu foi que a Vemaguete descreveu uma inacreditável curva de traseira e virou num ângulo de quase 180 graus, por pouco não caindo barranco abaixo, bem em cima da antiga sede do Tiro de Guerra. 
Saíram numa velocidade que só Deus sabe e que, diga-se de passagem, somente foi conseguida porque o carro estava de morro a baixo. 
Uma nuvem de poeira, naquele momento, tomou conta de todo o interior do carro. Pareciam envoltos em uma espessa neblina.  A cabeleira afro do Zé se destacava ainda mais no escuro, parecendo um turbante amarelo. 
Descendo de lá feito um foguete, passaram pelo centro da cidade, sob os olhares curiosos de algumas pessoas que ainda se encontravam na praça. A partir daquele momento, a população já começava a ficar com a pulga atrás da orelha, pois já deveriam ser umas onze horas da noite e, nessa época, as coisas eram bem diferentes, sendo que, qualquer zunzunzum naquele horário, era motivo para despertar uma baita atenção.  Além disso, a lembrança da bomba explodida ainda estava na memória, e no imaginário, popular.
- Gente! Vamos pedir ajuda ao Jesse? – sugeriu o Sílvio Heleno.

Jesse Marcel, amigo da galera, estudava Astronomia, seguindo os passos do pai, que igualmente era astrônomo no Rio de Janeiro.
Para lá se dirigiram...  A expedição passaria a ter embasamento científico.

Aguardem...

(Crônica original: Serjão Missiaggia / Adaptação e releitura: Jorge Marin)


quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESSE MENINO, O CABRAL...


 Cabral marcando Serjão, sob o olhar de Marcus Dadalti
Cabral, Jorge Marin, Sílvio Heleno e Serjão

Naqueles anos 70 vivíamos o auge de nossa juventude e as histórias aqui no blog não me deixam mentir que, a cada ano que passava, tínhamos motivo para dizer que “este é o melhor ano de nossas vidas”.  Rock, futebol, jornal, teatro, pagode, botequim e azaração eram nossas atividades frenéticas.
Em 1976, tínhamos um tipo de confraria, que funcionava no Bar do Augustinho, em frente ao Cine Brasil: eu, Nilson Baptista, Marcus e Luís Augusto Dadalti, Júlio e Geraldo Lima, Veroaldinho Soares, Heleno Porquinho, Antônio José Albertoni, Camilo Pontes e mais um tanto de habitués que compunham uma fauna eclética, política e artística.
Mas não vou falar das nossas glórias esportivas, com o nosso clube, o Pingão, nem do comprometimento político que ajudou a fundar o MDB sanjoanense e nem do bloco carnavalesco Os Espantalhos.  O assunto é outro: quando começamos a aprender a tocar nossos instrumentos para a bateria do bloco, precisávamos de alguém para o surdo mas, desastrados e completamente sem ritmo, precisávamos de uma pessoa para fazer a marcação.
E tinha esse menino, o Cabral, mais jovem do que nós, mas que insistia em nos acompanhar.  Menino na idade, mas bem mais alto do que todos nós, e bem mais forte, costumava catar algum dos confrades etilicamente prejudicado, jogar nas costas e entregar em domicílio.  E ainda ouvir uma esculhambação da mãe do bebum.
Cabral não era de falar muito, escutava pacientemente a doutrinação do Nilson e do Júlio, carregava aquele surdo pesado pelo morro do Ginásio do Sô Bi acima, onde nos sentávamos, no sábado à tarde para ensaiar. Ignorando aquela bateção de latas e aquela irritante falta de ritmo, Cabral tocava o seu instrumento com precisão, como se fosse uma extensão do seu coração. Sabia de cor o repertório, aprendia de primeira as paródias que eu fazia e, se pintasse alguma confusão, era o nosso leão de chácara.
A verdade é que o tempo passou e, como todos sabemos, até bem rápido: cada um foi cuidar de sua vida, empregos, filhos, essas coisas, contribuindo, como dizia o Raul, para o nosso belo quadro social.
Não o Cabral!  O Cabral continuou em São João, na dele, como se o tempo não tivesse passado.  Vinham lhe falar de uma realidade urgente, pesada, necessária, mas ele dava de ombros.  Andava pelas ruas, às vezes com um olhar perdido, como se o sonho não tivesse acabado (e notem que o sonho não acabou).  Ficava sentado no beco da União, conversava com as pessoas e, de vez em quando, ficava lendo uns papéis que pegava na Internet, segundo ele importantes pesquisas que só interessava às pessoas inteligentes.
Nós, na nossa corrida infinita para fazer um monte de coisas, ganhar um monte de dinheiro e viver um monte de experiências, segundo os padrões globais, maravilhosas, acabamos nos esquecendo do Cabral.  Vocês pensam que ele se importava?  De jeito nenhum.  O Cabral não cobrava nada de ninguém.  E foi ficando cada vez mais calado.  Às vezes, se lembrava do seu time de coração, e urrava apaixonadamente: Flumineeeeeense!  E voltava à sua introversão.
Pois é, o Cabral, esse ser humano extraordinário, que não escreveu um livro, nem gravou um disco e nem ficou rico, deixou, sem avisar ninguém, de viver esta vida no sábado passado.  E ficamos nós aqui, sem a sua marcação cardíaca, dispersos, desastrados e completamente sem ritmo.

(Crônica: Jorge Marin) 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

RELEITURAS: O DISCO VOADOR II


1974 - RELATÓRIO ENVIADO AO DIRETOR DO DOPS pelo Delegado Hermínio José Theodoro: “28 de abril de 1974.  Guarantã (423 km a noroeste de São Paulo) foi abalada pela notícia de que o indivíduo Onilson Patero foi sequestrado por um DISCO VOADOR a 12 quilômetros desta cidade.”
17/07/1974 – JORNAL FOLHA DA TARDE – “Pescadores da praia de São Miguel, distante 15 quilômetros de Florianópolis, afirmam ter visto um disco voador cair no mar, no último dia 13 de julho.”
09/08/1974 – JORNAL NOTÍCIAS POPULARES – “Um Disco Voador desceu na primeira semana de agosto de 1974, na fazenda do Recanto, município de Moselândia, pequena cidade distante 400 quilômetros de Goiás.
1974 – SÃO JOÃO NEPOMUCENO – Sílvio Heleno tenta, desesperadamente, fazer decolar a Dkw Vemaguete, mas a danada nem ia pra frente e nem pra trás, enquanto o Dalminho conseguia finalmente, completar sua frase: DOR, ele disse (DISCO VOA... DOR).
- Sai aí e empurra, pessoal! – comandava o Sílvio.  Prontamente, ninguém saiu.
- Pessoal, dá licença que eu vou ter que dar um pulim ali, na fazenda do Tio Gabi.  Amanhã a gente se fala – disse o Serjão.  Depois, lembrando dos cachorros da Fazenda Santa Fé, também travou dentro do carro.
Até que alguns saíram mas, ao invés de empurrar o carro, esconderam atrás daqueles canteiros (na época, novinhos) e até debaixo dos bancos.
Zé Nely, imponente com seu cabelo afro foi taxativo:
- Ô gente, vamo a pé mesmo, porque eu não gosto “dessas coisas” não.
A discussão esquentou:
- Vamos chegar mais perto! A gente faz a Istrumbiguete pegar e fica com os vidros fechados!
- Tá doido, Silveleno?  Diz que um trem desses derrubou um Mig semana passada.  E, além disso, os vidros não estão fechando!
- É mesmo.  E se acontecer alguma coisa com a gente?  O lugar público mais próximo aqui é a zona e, mesmo assim, com essa friagem, já deve estar fechada!
- Zona não fecha por causa de frio não, moço! 
- Ah é!  E o que é que você entende de zona?
- Vão parar, gente.  As luzes tão piscando de novo.
A situação de pânico generalizado sempre foi muito comum na história do Pitomba e, nesta hora, não poderia ser diferente: muito grito, muita reclamação, muita histeria, até se começar a tomar uma atitude... respirar fundo, unir todos os medos e encarar a crise de frente.
Tentaram um pacto de lealdade.  Sílvio tentava motivar a galera:
- Pensa bem, pessoal.  A gente pode entrar para a história.  Já pensou, na semana que vem o O Cruzeiro e a Manchete, com a gente na capa e umas letras garrafais assim: Primeiro Contato Imediato, documentado e fotografado do Brasil.
- Fotografar como, Silveleno?  Só se for com o isqueiro. 
Enquanto isso, o objeto permanecia imóvel, passivo, parecendo sempre estar observando o carro e seus ocupantes. Foi então resolvido, numa breve reunião (sem unanimidade), dar uma ida até lá em cima e checar, do outro lado do campo, do que realmente se tratava.                        (continua)

(Crônica original: Serjão Missiaggia. Adaptação e releitura: Jorge Marin)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CENÁRIO


Foto publicada no Facebook (Mural de Ivan K. Ferreira)
Tenho vivido com a nítida sensação de que tudo vai aos poucos se desfazendo.
Como se um imenso e mágico cenário que teria sido montado no palco de nossa infância e juventude fosse sorrateiramente sendo desmontado.

Desmontado a cada árvore que morre ou que é sacrificada,
Desmontado quando um ente querido vai embora,
Desmontado a cada casarão que tomba ou que é jogado ao chão,
Desmontado numa nascente que seca,
Desmontado naquele espaço que vira concreto,
Desmontado no puro ar que vai aos poucos se transformando em poluição,
Desmontado a cada amigo que parte, levando de nós um pedacinho da canção.

E tudo vai se desfazendo.
As luzes se apagando,
As cortinas se fechando,
Até que, um belo dia,
Tenhamos que também sair de cena.

Mas, quem verá a cena do que já não somos?
Quem lerá os pergaminhos deixados nas gavetas
As partituras inacabadas
As telas semipintadas?
Aonde a arte sem a carne
O verbo sem a fala
E a lira sem o dedo?

Um medo.
Um nada que apaga
E, no entanto,
Mesmo num vale sem luz
Ou na desconstrução das realidades
Fica, sempre e sempre, um acordo
A corda um acorde
Um solo de plenitude
Esta atitude de crer reler reapresentar.
Paulinho, vá com Deus!
Não é você que vive
Mas isto vive em você:
A arte
Lembrar-te
Celebrar-te
Eternizar-te.

(Poesia: Serjão Missiaggia / Jorge Marin)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

RELEITURAS: O DISCO VOADOR

Foto de Marcus Martins em www.galeriamm.com (com interferência)


Ao iniciar a narração de mais uma aventura, vamos abrir um pequeno parêntese, para fazer uma reverência especial a todos e a cada um dos componentes do grupo Pitomba. Isto porque o grande diferencial do grupo sempre foi a sincera amizade que nos unia. Esta característica já foi citada aqui no blog e sempre foi a nossa marca registrada. Fosse onde fosse: no colégio, nos esportes, em viagens, por trás de alguma experiência maluca ou, simplesmente, para testar alguma nova invenção. Era dia, era noite, no palco ou fora dele, lá estávamos nós, com aquela alegria e muito humor que, por sinal, era outra característica fundamental.

OS FATOS QUE AQUI SERÃO NARRADOS OCORRERAM EM 1974... e, para as pessoas que não viveram esta data possam ter uma ideia do que acontecia na época, basta consultar na Internet qualquer site de ufologia para saber que, no referido ano, registraram-se MILHARES de aparições, combates entre OVNIs e caças Mig na Rússia, captura de um OVNI pelo exército mexicano, posteriormente raptado pelo exército americano e outras tantas narrativas, fartamente noticiadas pela revista O Cruzeiro. Foi neste ano que teve início a parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho, iniciada, segundo Raul, enquanto UM DISCO VOADOR SOBREVOAVA A BARRA DA TIJUCA.
Enquanto isto, em São João Nepomuceno, era uma noite FRIA daquele ano fatídico e um grupo de amigos saía para um passeio, sem saber que fatos interessantes, MISTERIOSOS e, por que não dizer, cômicos, aconteceriam.
Eram 21 horas de um dia de semana comum, e Dalminho, Zé Nely, Sílvio Heleno e Serjão combinaram sair, a passeio, com a velha Vemaguette, veículo emblemático, protagonista de muitos casos já contados aqui.  Após percorrerem, por várias vezes, os mesmos lugares da cidade e, já cansados da rotina, resolveram voltar para casa. Foi quando alguém teve a ideia inusitada de ir até o TREVO para tentar curtir um pouco mais daquela noite até então totalmente sem graça.  E assim foram...
Logo que chegaram, Sílvio Heleno foi estacionando aquela supermáquina debaixo de uma árvore. Num canto privilegiado do lugar, enquanto ligavam o toca-fitas, iam abrindo as portas da Vemaguette, para liberar para a atmosfera o terrível odor de óleo queimado, que o motor do veículo constantemente exalava.
Era uma noite linda, apesar de um pouco escura, pois não havia lua naquele momento. Vagalumes passeavam ao lado do carro estacionado e todos admiravam o céu intensamente estrelado e calmo.
De repente, quando ninguém estava esperando, o Dalminho, que estava sentado no banco traseiro, dá um tremendo pulo para frente e começa a entrar em desespero. Olhando justamente para o lado do campo de aviação, num misto de confusão e pânico, apontava o dedo para aquele local e falava aos berros, quase gritando:
- HAHAHALÁ!!! HAHAHALÁ...
- QUE QUE É AQUILO LÁ EM CIMA???
- É... É... É... UM DISCO VOA...
Antes que terminasse a frase, Sílvio Heleno, mais apavorado com a emoção do Dalminho do que com o que poderia estar acontecendo, foi tentando dar a partida na bendita Vemaguette. Mas, para variar, aquela coisa velha não ligava de jeito nenhum, e TRAVOU...

(continua)

Crônica original: Serjão Missiaggia – Adaptação/releitura: Jorge Marin

NA SOMBRA DO AMANHÃ


Foto de Alex Campos

Num acalanto, noite, vem buscar meu canto,
Pois procuro afora um canto, pra poder cantar,
Levar o canto, que fere e consola,
Na solidão que vai embora, vendo a ilusão chegar.

Com meus versos, sobre rimas me arremesso,
Solto a voz a cada gesto, onde há resto de um luar,
Nesta andança de um errante violeiro,
Sou um simples seresteiro, a procura de um lugar.

Passo faceiro, levando andar de andeiro,
Das estrelas sou parceiro, do vagar faço canção,
Com o silêncio que invade meus desejos,
Busco paz de lugarejos, onde há inspiração.

A cada esquina, num instante que fascina,
O acaso me ensina, qual rumo a tomar,
Levo cantigas e lembranças de um tempo,
Esperanças de momentos que possam voltar.

Já madrugada, esperando na calçada,
Sentindo a alvorada... Quase amanheceu,
Vendo a lua, dando a vez ao novo dia,
Vou deixando a fantasia, que existiu num sonho meu.

E o manto negro, que envolveu a noite fria,
Foi levando melodias, poesias de amor,
E num lamento, que o tempo ignora,
Vou guardando minha viola, deixo aurora sem cantor.

Letra e música: Serjão Missiaggia (1994).

Essa música recebeu uma “roupagem” e arranjos do Caquinho e do Emmerson Nogueira que a defendeu nos festivais de Goianá, Cataguases e Canta Minas, todos muito concorridos, com inscrições vindas de todo Brasil. Esta letra foi defendida também em São João, no Festimsan, pela Joseme, Pororó, Flavinho Araújo e Ronaldo Magg.

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL