Frame do filme Para Wong Foo, obrigada por tudo, Julie Newmar!
Gente,
envelheci! E foi de repente, assim como
quando saímos na rua, de terno (isso já aconteceu comigo) e, de uma construção,
cai uma lata de cal na nossa cabeça. Mas
a minha constatação não foi pelos raros cabelos brancos: a velhice súbita
ocorreu numa área que a maioria das pessoas prefere nem tocar no assunto, foi na
sexualidade.
E
aconteceu ontem. Vejam só: estava eu,
com a família, assistindo à estreia do reality show A Fazenda e o apresentador
anunciou que, dali a pouco, seriam conhecidas as gatas do show. Velho assanhado, fiz aquele comentário hipócrita
(“vamos ver essa pouca vergonha”) e arregalei os zoião, não sem antes dar
aquela limpada semanal nas lentes.
Aí,
apareceu a primeira “gata”, a câmera mostrou um sapato de salto bem alto (deve
ser para não atolar na lama, pensei) e foi, sensualmente, subindo pelas pernas
da tal modelo ou sei lá o quê. Cara, a
mulher devia ter uns 90 centímetros de coxa!
Mas, ao ver aqueles atributos, estranhamente, comecei a achar que era,
na verdade, o Anderson Silva de minissaia, tal a quantidade de músculos. Ou seja, a única coisa que senti ao ver
aquele corpão foi um certo mal estar.
Pensei: bom, mas ainda vêm mais umas sete por aí.
A coisa
continuou e, depois de uns cantores jovens (quando eu era jovem), veio outra “gatona”. De longe, deu para ver que ela usava um
shortinho bem curto. Me animei por uns
instantes, mas, quando a câmera deu um close, pensei: agora é o Minotauro,
porque a coxa do Vítor Belfort é mais bonita. Decidi, então, dar mais uma chance
e continuei assistindo. Não querendo me
enganar, olhei mais uma figura feminina com um certo desdém e, com conhecimento
de causa, falei:
- Esse
aí deve ser o tal travesti do qual falaram, né?
Minha
mulher e minha comadre olharam pra mim com cara de poucos amigos e me
detonaram:
- Essa
aí é a Gretchen! Não lembra mais?
- “Aquela”
Gretchen? – ainda perguntei, mas não obtive resposta.
Quando,
finalmente, surgiu uma lourinha que mais parecia uma fada: não era muito
peituda, nem tinha coxas de lutador de UFC e, para minha surpresa, era a única
que sabia caminhar de salto alto. Meio
reticente, perguntei para as minhas assessoras:
- Quem
é essa moça, gente? É alguma ex-atriz da
Malhação?
Aí a indignação
deu lugar à risaiada. Meu filho
explicou:
- Essa
mocinha é o Léo Áquila, pai. Não sabe
mais a diferença?
Pirei. Jamais podia imaginar que isso pudesse acontecer
comigo um dia. Porque, pior do que não
poder ficar com uma mulher, é não reconhecer a feminilidade ou, quando
reconhecer, tratar-se de outra coisa.
Abracei
com força minha mulher e pedi:
- Por
favor, gente, será que poderíamos assistir um filme antigo? De repente, me deu vontade de assistir um
filme com a Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e até mesmo com a Bette Davis.
Agora,
falando sério, será que foi a senilidade que caiu de repente, ou esse novo
padrão feminino está um pouco schwarzenegger pro gosto masculino tradicional?
(Crônica:
Jorge Marin)