sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NOSSO MUNDÃO E NADA MAIS

Foto publicada no blog ra-bugio.blogspot.com

Na semana passada, falávamos de amebas. E de como eu, ao executar uma manobra radical, acabei caindo de boca no córrego. O córrego, apesar de toda aquela catinga da qual certamente todos se lembram, exercia na criançada um fascínio que, hoje, eu não consigo entender mas que, naquele tempo, era fantástico. De tempos em tempos, um senhor que fazia colchões, vizinho da casa do Jorge, chamado sr. Lau, represava o córrego lá em cima, antes da ponte do campo do Mangueira, para dar uma limpeza. Não entendo bem que limpeza era aquela porque, depois da limpeza, o cocô continuava caindo lá dentro. Mas que ele fazia a limpeza, isto fazia. No dia em que a limpeza era feita, a molecada ficava toda de plantão: primeiro, porque, assim que o homem represava, as margens praticamente secavam e ia todo mundo “andar dentro do córrego”. Só que a coisa não secava na realidade: ficava uma lama mole e mal cheirosa e aqueles resíduos mais pesados iam todos para o fundo, e a garotada às vezes encontrava alguma bota, pneus de bicicleta e até uma vara de pescar, com anzol e tudo, foi encontrada.
Mas, e aí é que vem a segunda parte da festa: enquanto aquele bando de leitões ficava andando no córrego, uma outra turma ficava fazendo barquinhos. E eram barcos de todos os tipos. Cada um fazia o seu, do jeito que soubesse, uns eram de papel, principalmente aquele papel amarelo que embrulhava manteiga na leiteria, mas havia uns do tipo jangada, feitos com talo de mamona e forrados com folha de taioba.
E aí, tcham tcham tcham tcham... Quando o seu Lau abria a água, aquela corrente vinha forte, subia e ficávamos, cada um jogando o seu barco e analisando o desempenho.
Quem passasse por ali, e fosse acompanhando aquela arruaça, pensaria se tratar de algum tipo de festival ou coisa parecida.

Mas, e à noite? Esperávamos ansiosos escurecer o dia, para que, com nossas lanternas, pudéssemos procurar rãs. Certa vez, ao fazermos uma caçada, conseguimos pegar algumas dezenas delas. E foi somente no outro dia que ficaríamos sabendo que eram todas sapos.
Imaginam que nosso o saudoso colega Beto conseguiu a difícil façanha de cair dentro do córrego?
Ao questioná-lo sobre o que o teria levado a despencar daquela altura, simplesmente me deu a seguinte explicação:
- Fui tentar brincar de andar com olhos fechado em sua beirada! E Bloofet!

Sem que percebêssemos, éramos sempre monitorados pelos nossos pais.
Havia uma distância territorial a ser respeitada e, quase sempre, o quarteirão era o limite. Muitas vezes, diante daquele típico impulso infantil, tínhamos, como uma de nossas artes preferidas, simplesmente ousar na distância e afastar um pouco mais de casa.
Um dos lugares prediletos onde sempre íamos era a subida pro largo da matriz pela Rua Galdino Furtado de Mendonça.
Na época, o referido local ainda não passava de uma estrada, e por sinal, bem deserta. Se não estou enganado, somente existia ali a casa do Sr. Rômulo Manzo, além, é claro, de muitas árvores. Pés de mamonas é que não faltavam e, com suas sementes, travávamos verdadeiras batalhas enquanto caminhávamos. Chegamos, certa vez, por incrível que pareça, até o inicio da antiga estrada de acesso a Roça Grande onde hoje funciona a marmoaria. Ali existia uma bela fazenda e, entre umas e outras coisas, ficávamos vendo as vacas serem ordenhadas e remanejadas de um lado ao outro. Encarávamos este passeio como uma verdadeira façanha. Para nós, uma autêntica aventura ao fim de mundo, que, se descoberta pelos nossos pais, seria um Deus nos acuda. Alguns castigos e umas boas palmadas, com certeza, iriam acontecer.
Semana que vem, não percam, o capítulo final, com cabaninhas, tanajuras, e aquele famoso caminhão de cana!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Ah! a estrada onde morava a família Manzo!...
    Anos antes, brinquei,ali, também. Acredito que todas as crianças que moravam ali por perto, chegaram a brincar naquela estrada. Subíamos nos barrancos para escorregar, para procurar tesouros, para desbravar "terrenos nunca antes desbravados" - assim pensávamos- para fazer túneis, procurar flores etc. Antes de chegar ao final da estrada,na curva que dá para a Igreja e desvia para o lado da Gruta dos Trombeteiros, havia uma casa ou um sítio, com uma porteira e um pé de jatobá. Íamos até lá pegar a fruta, quebrávamos com pedra e depois comíamos. Era um farelo só. Ficávamos engasgadas e os dentes grudados daquele farelo amarelo. Bom demais!...
    Mas antes de chegar a esta casa, havia uma passagem comprida, em forma de trilha e toda em morro; ela saía desta estrada e terminava lá perto do pontilhão que dava para o bairro Santa Rita. Esta trilha nos assustava um pouco, era um tanto misteriosa e, passar por ela poderia ser um risco. Diziam, para nós meninas, que poderíamos encontrar algum maluco e que ele iria nos agarrar. Morríamos de medo, mas a trilha nos fascinava. Queríamos passar por aquelas árvores, achar flores novas e descobrir tesouros... Fomos poucas vezes lá e, quando íamos, nos protegíamos levando mais algumas colegas, pois acreditávamos que com um maior número de meninas poderíamos nos defender de qualquer ataque. Cada uma levava,inclusive, uma vara na mão, era nossa arma de defesa, caso algum louco ou um cachorro aparecesse.
    Segui, muitas vezes, também, pela estrada que vai para a fazenda dos Matos. Brinquei muito lá. Era amiga da Márcia Matos. Íamos pela estrada, subíamos na Gruta dos Trombeteiros , que por sinal era linda e depois passávamos o dia todo na fazenda. Márcia era uma grande amiga. Ela nos levava ao pomar (maravilhoso), subíamos nos pés de frutas, brincávamos, íamos ao engenho, nadávamos numa cachoeirinha perto da casa dela.
    Sabe quem ia sempre comigo? A Narcisa , grande amiga, irmã do Nilsom,Nemark , Nelio e Nádia. A mãe dela não gostava que ela se aventurasse tanto, mas acabava permitindo.Eu, você deve até estar assustado, pois meninas não aprontavam tanto naquela época, mas eu havia acabado de chegar na cidade vindo de uma fazenda,portanto, aquele era o meu mundo; sabia lidar com o mato e minha mãe também não tinha medo de roça.
    Recordações boas eu também tenho dos mesmos lugares onde você com seus amigos alguns anos depois também brincaram.
    Que outras crinças, hoje, ainda tenham algum espaço para tantas aventuras. Terão? Saberão?
    Mika

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  2. Havia também a famosa e claro, também extinta
    " MATINHA " , no final da Rua NOVA subindo o morro que vai para a TORRE onde se não me engano moram os pais da Dorinha.
    Como dizia o Sô Ubi : êta SAN JAN
    MAZOLA.

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