quarta-feira, 28 de abril de 2010

EFEITO BORBOLETA



(Crônica - Jorge Marin)

Noite escura e chuvosa em São João, o vento descia a Rua do Sarmento, fazendo bater janelas e assustando uns poucos clientes que teimavam em ficar papeando no Bar Central. Do outro lado, em frente ao Correio, e até a Praça do Coronel, também não havia viva alma. Era como se o vento, passando veloz, houvesse varrido das ruas, todo vestígio da civilização humana. O Cebolinha era um deserto e, no Bar do Tchan, também vazio, alguém guardava uma penca de bananas debaixo do balcão.
Como os jovens gostam de andar em bando, era de se supor que ninguém saísse de casa, pois era melhor ficar assistindo à novela Locomotivas, do que se aventurar por aquelas ruas com um aguaceiro prestes a cair. Quem era louco de sair? Mas, tem sempre um. Dois no caso: Serjão Missiaggia e Jorge Marin. Os dois se encontraram ali na avenida Zeca Henriques, como sempre faziam e, a despeito do mau tempo, e do vento, e da solidão da noite, foram cumprir sua missão noturna diária.
Bons amigos, iam falando de tudo: das meninas, das garotas, das gatinhas, além do último número da revista Homem (era como se chamava a revista Playboy naquele tempo) que trazia, na página central, as gatas do programa Planeta dos Homens. Ah, finalmente, falavam também do Botafogo, aquele super-time com Osmar Guarnelli, Mendonça, Mário Sérgio, Rodrigues Neto, Nilson Dias e Paulo César Lima.
Resumindo: apesar do paisagem sinistra, com os dois amigos tudo era só alegria e muita conversa interessante. Embora o destino dos dois fosse a Praça Carlos Alves, havia um ritual a ser cumprido e ambos seguiram caminho rumo à Praça do Coronel, passaram em frente à casa do Dr. Nagib, desceram em frente à casa do Dr. Írio e assobiaram para os patos, até chegar na Rua Duque de Caxias, onde desceram rapidamente, pois já estava começando a chuviscar.
Chegando à praça, caminharam rapidamente para cumprir sua missão: o destino era a Sinuca do Pintinho. Lugar meio reservado, nos fundos da União, onde, ao contrário da Sinuca do Cida – repleta do playboyzinhos e coroas – encontravam-se os homens, homens de verdade, policiais, caminhoneiros, malandros e uns tantos pinguços que apareciam e eram enxotados pelo sempre respeitado Ronald Pinto.
Mas o que dois rapazes, como o Serjão e o Jorge faziam num lugar daqueles, onde o jogo era “a valer” e os campeões apostavam para ganhar dinheiro? Por mais de uma vez, seu Tuninho e seu Irenio chamaram os filhos para uma conversa, dizendo que aquele lugar não servia para eles, mas os dois, como bons adolescentes saindo da adolescência, eram rebeldes, tinham a sua mesa, justamente aquela na qual ninguém gostava de jogar e brincavam, simplesmente brincavam pois mal tinham dinheiro para pagar uma hora de jogo.
Naquela noite, no entanto, tudo seria diferente. Chegaram correndo, já meio molhados, e não havia ninguém, exceto o fiel dono do estabelecimento. Como não havia jogadores, foi permitido que os jovens utilizassem a mesa principal, onde os apostadores jogavam, pegaram também os melhores tacos e iniciaram a partida, sob os reflexos dos relâmpagos e o barulho cada vez maior dos trovões.
Pintinho se admirava: jamais podia imaginar que aqueles dois rapazolas jogassem de uma forma tão correta e espantosamente corajosa. Tão corajosa que uma bola dois, tacada pelo Serjão, voou da mesa e passou a centímetros do seu nariz. Serjão deu aquela tradicional limpada de garganta, foi lá, pegou a bola, e recomeçou a partida. Para compensar a lambança, deu uma sinuca no amigo Jorge. Este, inabalável, anunciou:
- Vou sair da sinuca, e ainda vou matar aquela bola cinco, lá na caçapa do fundo!
Aquilo era insano, sair da sinuca de bico talvez ele até conseguisse, mas matar a bola cinco era impensável, inatingível. Jorge pegou o taco, concentrou-se e, quando ia dar a tacada, um relâmpago iluminou a sala e um trovão explodiu: a luz se apagou. Ainda assim, guiado por seus instintos, Jorge tacou no escuro. Naquele breu, tudo o que se ouviu foi o barulho da bola tocando na tabela, depois tocando outra bola, e o silêncio. Todos ficaram paralisados, inclusive o Pintinho que, instintivamente levou a mão ao rosto, temendo levar nova bolada.
O blackout durou uns dois minutos, Serjão pedia ao Jorge que desencostasse da mesa, mas este continuava de pé, com o taco na mão.
A luz voltou, trinta e dois anos se passaram. Num dia 11 de abril de 2009, Jorge, que não tinha contato com Serjão há uns quinze ou dezesseis anos, recebe o seguinte e-mail:
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Grande Dr. Gregório! Ô home difícil de achar sô!
Abraços em todos da família.

Pra inicio de conversa, continuo reafirmando que aquela tacada na bola cinco foi vergonhosamente roubada, e que você a empurrou com a mão quando a luz se apagou. Pena que o Pintinho (proprietário) faleceu, pois era até então minha única testemunha.
Mas, deixando as diferenças do passado de lado, vamos logo ao assunto:
Não sei se terá saco pra ler, mas, sempre que puder, procure ir dando uma olhadinha nesta história que escrevi do Pitomba ( anexo).
... Contarei com a ajuda dos demais componentes.
Tenho também, na integra, a história do Disco Voador, da Bomba e da Fábrica Mal-Assombrada.
Como não poderia deixar de ser, acredito também na grande possibilidade de cada um de nós possuirmos um pequeno acervo referente ao Grupo. Ex: fotos antigas, gravações, objetos etc.etc.etc.
... quem sabe, não abriríamos um SITE do Pitomba? Não sei como a coisa funcionaria mas, se desse certo, seria uma bela página na NET com vários LINKS contendo toda nossa história.
Na verdade, esta idéia surgiu mesmo em circunstância de um sonho que tive com o Pitomba. (anexo)

Depois falaremos mais. Foi muito bom te ver

Serjão
-------------------------------------------------------------------------------------

Assim, há um ano, nascia o blog. Perguntas: e se aquela bola cinco não tivesse caído na caçapa? E se a dupla de amigos não tivesse saído naquela noite?
Segundo Edward Lorenz, em sua Teoria do Caos, o bater da asa de uma borboleta no Oceano Pacífico pode gerar um tufão do outro lado mundo.
Aqui a coisa foi mais fácil, pois uma queda de energia da Força e Luz, gerou, trinta e dois anos depois, um blog que, à semelhança do bater das asas de uma borboleta, pretende ser leve e atual, mas produzir um efeito em quem o visita: o de amar o presente porque é o resultado de uma vida muito bem vivida.
Parabéns para nós todos!

5 comentários:

  1. Jorge,
    Lembro-me como se fosse hoje do retorno daquela minha mensagem que enviei a você, onde eu dizia sobre algumas ideias que estavam surgindo em minha mente.
    Confesso que fiquei bastante assustado (no bom sentido) tal foi a sua receptividade. Isso pra não falar que já não vínhamos mantendo contatos há vários anos. Mas, seu e-mail foi tão contagiante, que me deu, naquele momento, a certeza de que a possível brincadeira teria tudo pra decolar. E não deu outra!
    Diria então, com letras maiúsculas, que o blog FOI FRUTO DE SEU ENTUSIASMO. Entende agora quando disse, certa vez, que você era o cara?
    Interessante como o tempo passou tão rápido! Hoje, após um ano, aqui estou eu novamente para lhe dar os parabéns pela programação de aniversário e pelas surpresas que proporcionou a todos nós. Por sinal, uma brincadeira em que fiquei numa posição super-privilegiada, pois, ao mesmo tempo em que vou participando com meus modestos escritos, tenho o privilégio me colocar também como leitor. Esperar cada postagem é pra mim algo muito especial.
    Cresci muito como “Aprendiz de Escritor”, ou melhor, “Contador de Causos” e porque não também como Pessoa.
    Orgulho-me muito de tê-lo como amigo e poder estar fazendo parte desta engrenagem.
    Valeu mesmo, irmão! Vinte mil ta logo ali!
    E vamo que vamo!

    Abraço forte
    serjão

    ResponderExcluir
  2. Serjão,
    Esta movimentação do blog, como já te disse, me lembra muito quando eu ia gravar as serenatas que você, o Pedrinho e o Dantinho faziam. Eu tinha o gravador, como hoje navego no blogger, mas os artistas eram vocês (eu registrava a arte, como hoje).
    No blog, os seus causos são fundamentais e você, de "aprendiz" a "contador", está mais para Pessoa, o poeta, que dizia:
    "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."
    Obrigado por fornecer a matéria-prima de que é feito este blog. Abração.

    ResponderExcluir
  3. PARABENS para o pitomba e principalmente para os entusiasmados produtores deste blog. É um grande sucesso que nos orgulha e envaidece e que, além de contar as ótimas histórias do Pitomba, divulga nossa amizade e também nossa cidade.
    Agradeço a todos que participam....

    ResponderExcluir
  4. Amigo Jorge,

    Bela desculpa essa de usar a “teoria do caos” para justificar “mão boba”, no escuro, sempre a pegar bolas a bel prazer... Conheço você há trinta anos: pintinho, caminhoneiros, “homens de verdade”, sinuca, borboletas... Hum!... Sei não!...

    Mas parabéns pelo blog Pytomba. Ótima idéia essa de reunir amigos antigos e queridos, e em torno de algo tão importante aos humanos: o exercício da criatividade.

    E pensar que o estímulo partiu de um raio, que produziu um apagão, que levou uma bola num buraco impossível, e que provocou um redemoinho de lembranças na cabeça dos integrantes do grupo... (É, reconheço, justificável a teoria do caos).

    Um abraço a todos os pytombenses.

    César Brandão

    ResponderExcluir
  5. Alô Serjão , Jorjão e Pytombenses!
    É só uma idéia..........
    Por que vocês não marcam uma data e fazem uma "(re)APARIÇÃO" MUSICADA e FALADA". Numa granja fechada,um churrasquinho onde cada participante,(escolhidos por vocês) contribuiria com uma certa quantia e aí rolaria a festa, onde vocês se apresentariam com um repertório, ainda que pouca coisa, entremeado por CAUSOS, com participações de outros cantores e músicos após vocês para prencherem e com a galera cantando junto. Seria coisa simples, sem cobranças de erros e/ou acertos, só mesmo a título de reunir e relembrar ao vivo, ter contato o que seria mais um assunto a ser relatado no blog Pytombense.
    Conforme já havia dito, tenho uma aparelhagem
    e caso queiram amadurecer a idéia é só entrarem em contato .
    No mais , um abraço a todos e tá valendo, continua muito bom. Continuo acompanhando.
    MAZOLA

    ResponderExcluir

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL