quarta-feira, 7 de abril de 2010

SOBRE A VAIDADE



Crônica - Jorge Marin

Na semana passada, na matéria sobre a infância, falei sobre a chamada “vaidade boa”, como se tal comportamento pudesse ser assim considerado. Ontem, assistindo ao filme “Chico Xavier – o filme”, descubro que até o velho Chico, quem diria, também ele, era vítima deste mesmo pecado, a vaidade. Machado de Assis dizia que “a vaidade é um princípio de corrupção.”
O fato é que, para o DSM IV, que o é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, estamos falando do Transtorno de Personalidade Narcísica, uma doença portanto, que é definida como: um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos.
Se é uma doença, não deve poder ser “boa”. Mas, logicamente, as pessoas vaidosas tendem a afirmar que exibir as próprias conquistas, seja no campo profissional, amoroso ou esportivo, é algo legítimo, pois o mundo atual é muito competitivo e que tudo não passa de marketing pessoal. Porém, uma coisa é reconhecer, para si, o seu sucesso. Outra, completamente diferente, é ser dependente do “julgamento” dos outros. E fazer qualquer coisa para obter esta aprovação.
Como resultado, um grande número de pessoas vive se comparando com outras e, como na maioria das vezes, se sente inferiorizado, principalmente devido aos altos padrões impostos pelas mídias vigentes, se sentem perdedores. Cada qual se sente humilhado no reality show do exibicionismo, no qual se transformou nossa vida cotidiana.
Como se não bastasse o mundo de aparências em que vivemos enredados, achando que somos assim ou assado, estamos conseguindo nos escravizar também em relação às opiniões alheias, tanto reais como virtuais. É comum em qualquer programa de televisão, ou na maioria das revistas, a citação da “dieta” como uma instituição universal, ou seja, estamos todos obesos e o prazer de comer um ovo de Páscoa veio, na maioria das matérias, com a recomendação de não se descuidar dos exercícios, para compensar os excessos.
A pessoa que mencionou a expressão “vaidade boa”, citada por mim na quarta-feira passada, era a mãe de uma garotinha de 9 anos, levada a um spa para, nas palavras da criança, “perder um quilo”, baseada em não sei que estatística. A mãe apoiava a tese da filha que, no luxuoso estabelecimento, submeteu-se, sob orientação de nutricionistas, a uma dieta, pasmem, de 800 calorias.
Em Juiz de Fora, e imagino que nas cidades vizinhas, têm aparecido médicos, normalmente de outras especializações, fazendo cirurgias plásticas, abdomnoplastias, lipoaspirações e outras, por preços reduzidos, já que não se trata de um cirurgião plástico. O que é curioso é que os pacientes, normalmente mulheres jovens, se submetem a estas intervenções, mesmo sabendo que o profissional não é um cirurgião regularmente habilitado e mesmo que tenha acontecido algum tipo de problema com outras pacientes anteriores.
O curioso é que estes novos dotes físicos, mais do que um aperfeiçoamento estético, são usados como um tipo de “vingança” contra o sistema, passando os operados a exibi-los como arma para seduzir e conseguir atingir, a qualquer preço, seu objetivos narcísicos.
A sexualidade passa, então, a ter uma conotação exclusivamente de competição. No último reality show exibido, as tão decantadas diversidades sexuais transformaram-se em gritos de guerra entre tribos, que se retalhavam via Twitter.
No lugar do carinho, o que se vê é exibicionismo; no lugar do desfrute, a performance e, no lugar do amor, só a vaidade e a competição, como se o mais importante fossem as qualidades que alguns – os mais fortes, ou os mais belos – podem ter. Ao invés de nos transformarmos no homo pós-sapiens, com padrões mais evoluídos de disciplina, caráter e maturidade emocional, estamos retornando à condição de dinossauros, gigantes, majestosos, fortes e, ao mesmo tempo, a um passo da extinção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL