quarta-feira, 14 de abril de 2010

ESCRITA



Poesia - Jorge Marin

A escrita automática vem do fato de o olfato não ser capaz de captar, vem da obsolescência da ciência em pautar o visto dos olhados de acordo com os acórdãos estabelecidos. Criar não vem a ser o imponderável, criar é como qualquer palito de fósforo riscado, quem não o fizer, saberá que é possível.
Na ótica dos caóticos, quem tem falo fala mais que o que se submete aos mentecaptos. Incapaz de decifrar as frases feitas, os virtuaróglifos, recorrem a receitas bombásticas de aparatos nucleares, na verdade tudo não passa de artesanatos sem atos autenticados.
Ulisses sabia de cor os signos e capitalizava luares como qualquer moderno entrepaneur. Descia aos infernos com Aligueri e, de uma forma absolutamente sincera, derramava lágrimas que, coloridas, jamais seríamos capazes de produzir em sã consciência.
Os espíritos saíam de seus casulos e empreendiam recitais de tal dismorfia que os pensamentos congelavam e caíam, um a um, no chão, despencados, ou despensados, numa tsunami desumana que juntava restos de comida a ofídios insidiosos e a largas porções de fluoxetina fresca.
A escrita autofálica vem do hálito gélido de correntes intravenosas. Títeres manipulados por cordões umbilicais jamais poderiam explicar os dogmas pragmáticos da vontade. A filosofia dos stradivarius é tão tensa que viola as linhas autóctones dos apóstolos de profetas iluminados (a neon?)
A escrita automágica dos evangelhos vem dos credos pressurizados das naves das catedrais dramáticas do século XIV. Jamais haverá poeta, anjo ou michelângelo com asas capazes de vivenciar passos compatíveis com as melodias de quem amadeus.
Presos aos compromissos de suas próprias presas, a escrota autofágica dos pós dos pós-modernos é certa: não se curve para degustar as iguarias dos depredados. Machucados, cegos por egos intumescidos, ei-los pelas cidades, nas escadas retrôs dos metrôs, no pátio monolítico dos estádios, ou nos reflexos dos espelhos espalhados pelas telas cristalizadas das televisões.
Enquanto isso, a chuva continua desbarracando os barracos.

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