sexta-feira, 23 de abril de 2010

AMIGO CAQUI DOS AMIGOS



(Crônica - Serjão Missiaggia)

Não sei por quê, mas resolvi repentinamente, falar um pouco sobre nosso pé de caqui. Este fantástico ser vegetal que, há quase vinte e cinco anos, vem nos fazendo companhia, virou mesmo um habitante ilustre de nosso terreiro.
Na verdade, um grande amigo que já fazia por merecer, há muito tempo, um pequeno espaço em minhas linhas.
Não bastasse, todos os anos, de janeiro a maio, religiosamente, nos presenteia com seus suculentos frutos. No inverno, época em que mais precisamos de sol simplesmente, desnuda-se, deixando cair toda suas folhas. No verão, quando mais procuramos por sombra, sua copa se veste de uma densa folhagem, proporcionando-nos assim, um frescor sem igual.
E, para completar, o coitado acabou virando pé direito de nosso galinheiro. Além de já ter exercido inúmeras funções nas mais diversas oportunidades: suporte para rede, varal e bebedouro de beija-flor e muitos outros. Serviu até de mastro, em memoráveis jogos decisivos do Brasileirão e Copa do Mundo quando, na oportunidade, fiz tremular, por várias vezes, minhas bandeiras do Botafogo e do Brasil.
Até numa colorida árvore natalina, por sinal super-decorada e iluminada, transformou-se certa vez.
Por último, não poderia me esquecer que, juntamente com o muro que nos faz divisa com o Geraldo Luiz, teria sido meu local predileto onde, nas saudosas festas de fim de ano, detonava meus tão esperados fogos de artifícios.

Falemos, então, um pouco de seu nascimento.
Tudo teria começado numa daquelas muitas viagens que Vô Tuninho e Vó Venina faziam, vez ou outra, a Belo Horizonte. Numa dessas viagens, momentos antes de retornarem a São João, dona Venina, após visualizar uma linda fruta exposta numa daquelas barraquinhas de rua, pede ao Vô Tuninho para comprá-la. Porém, há controvérsias.
Já numa segunda versão, possivelmente a mais confiável, alguns historiadores afirmam categoricamente que teria, na realidade, sido a Vó Venina presenteada por tia Carmen, com uma dessas frutas e que, como na primeira versão, tal fato teria ocorrido momentos antes de retornarem a São João. Nesta segunda versão, consta que Vó Venina teria embrulhado uma de suas sementes num papel guardanapo, pois sua vontade era de poder plantá-la tão logo chegasse de viagem. De qualquer forma, segundo suas próprias palavras, ela nunca havia provado uma fruta tão suculenta e saborosa.
Sô Tuninho, na verdade, não era nem um pouco a favor. Vivia alegando que o referido fruto seria de uma árvore um tanto grande para o tamanho do terreiro.
Assim, por vários dias, reinou a dúvida: planta? Não planta? Planta? Não Planta?
Até que, finalmente, dona Venina se daria por vencida pois, afinal de contas, mais uma vez, falaria mais alto a opinião do velho chefe.
Puro engano!
Numa bela manhã, ao acordar mais cedo, dona Venina, despistadamente, sem que ninguém percebesse, simplesmente foi sorrateiramente ao terreiro e, após fazer uma pequena cova, semeou aquela sementinha na parte mais nobre do canteiro.
E o tempo passou...
Numa tarde, enquanto sô Tuninho regava suas verduras, eis que se depara com uma pequena mudinha. Uma delicada muda que começava surgir imponente entre os pés de couve e alface.
Num primeiro impulso, ainda sem saber do que se tratava, foi logo arrancando.
Os dias se passaram e eis que, mais uma vez, no mesmo lugar, aparece novamente aquela insistente mudinha. E assim, como na vez anterior, simplesmente, foi arrancada.
Ao se repetir, pela terceira vez, o mesmo fenômeno, e já desconfiado e um tanto intrigado, comentou:
- Venina! Tem aparecido de uns tempos para cá uma mudinha no canteiro. Por sinal, danada de forte! Já a arranquei por três vezes e a danadinha sempre volta a brotar – concluiu.
Dona Venina, de antemão, já sabendo do que se tratava, ficou bem quieta. Somente mais tarde é que viria a contar-lhe a verdadeira historia. Mal sabia ela que, há muito, ele já havia descoberto e ficava se fazendo de bobo.
Enfim, ante tanta insistência, daquela ainda frágil mudinha e dos apelos incansáveis de dona Venina, sô Tuninho resolveu, num belo ato ecológico, dar uma chance àquele pequeno ser. Assim, dirigindo-se mais uma vez à dona a Venina, disse:
- Tudo bem! Você venceu!
E o tempo passou... Passou... E uma linda e frondosa árvore veio a se desenvolver.
Agora... Que a danadinha dá trabalho, ah! isto dá. Principalmente quando sua folhagem começa a cair. Diariamente, tenho que, durante uns três meses, ficar a varrer o terreiro e a encher sacos e mais sacos com suas folhas. Haja saco!
Não posso esquecer também de podar seus galhos. Ano sim, outro não. E tem que ser na “Primeira Lua Nova de Agosto”.
Mas... Tudo isso vale a pena. E como!
Na verdade, aqui em casa, somente a Dorinha saboreia seus lindos frutos. Paulinha e Matheus não ligam muito. De minha parte, infelizmente, procuro manter certa distância devido à instabilidade financeira, digo emocional, do meu intestino.
Por outro lado, pássaros de várias espécies nos visitam diariamente. Até canários e sabiás têm aparecido por estas bandas. Uma verdadeira sinfonia que, no despertar de cada alvorecer, parece querer nos dar um recado de que, apesar dos pesares, ainda vale à pena viver no interior.
Tenho uma lista de parentes e colegas que, prazerosamente, a cada colheita anual, são presenteados com algumas dezenas de seus frutos. Vinte e uma no total. O ano que esqueço de alguém é um Deus nos acuda. Razão pela qual, carinhosamente, apelidei a árvore de Caqui dos Amigos.
Várias pessoas já tentaram, de todas as formas, possíveis e impossíveis, plantar uma de suas sementes. Inúmeros também foram os métodos e locais experimentados. Cruzamentos, enxertos etc.etc.etc. Tudo em vão!
Não tenho conhecimento da existência de um pé sequer de caqui dessa espécie em São Jõao ou mesmo na região. Não sei qual a razão, mas é a pura verdade.
Muriqui, um velho amigo meu, por sinal pessoa um tanto metida a filósofo, apresentou certa vez a seguinte teoria: Titica de Galinha, ou seja, adubação natural devido à presença do galinheiro ao seu redor.
Entre tantas teorias malucas e infundadas, resolvi ficar mesmo com esta. Dei-me por convencido! Pelo menos, é a mais ecológica e de fácil compreensão.
E, por falar em Muriqui, nunca o havia visto lendo jornal. Acho até mesmo que mal sabe ler. Mas eu juro que vi: estava ele na calçada, numa daquelas imensas filas de campanha municipal para prevenção de doenças masculinas. Com um jornal aberto, na frente do nariz, aguardava ansiosamente sua vez para fazer exame de próstata.
Mas isso é uma outra história que, ficará para uma outra oportunidade.

De momentos, a gente fi... caqui!

4 comentários:

  1. É a mais pura verdade! Sou da mesma opinião! Coisas assim é que nos faz sentir que morar no interior ainda vale a apena! É tudo de bom!

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  2. Literalmente um "PÉ QUENTE"
    Coincidência ou não justamente, na semana em que decidimos fazer esta postagem, la estava eu, mais uma vez, fazendo tremular a bandeira Alvinegra sobre a folhagem de nosso pé de Caqui!

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  3. Quando estava procurando uma ilustração para o post, descobri que o nome científico do caqui é Dyospiro, palavra grega que significa alimento de Zeus (o chefão dos deuses).
    Mas o mais importante mesmo é esta lição de como deve funcionar uma família, e de como esta união dá bons frutos (em todos os sentidos). No filme Casamento Grego, a esposa lembra: "o homem é a cabeça da casa, mas a mulher é o pescoço". Ficou provado.

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  4. Serjão, tenho um vídei lindo do pé de caqui carregadinho de frutos. O vídeo ficou lindo. Feito pelo Hélcio. Vejamos como fazê-lo chegar até você, pois pelo que me falou seu computador não comporta, não é isto? Quem sabe envio pra Edna?
    Beijos

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