Estamos nos
embrutecendo.
Enquanto os
corações endurecem, as bocas se amargam, e a raiva e a inveja e o ódio se
espalham, estamos nos embrutecendo.
Embrutecemo-nos
ao acordar, quando ninguém, mas ninguém mesmo, nos deseja bom dia, quando
vivemos uma existência vazia, quando até mesmo o café, antes tão forte, agora é
descafeinado, aguado, minguado, solúvel.
Estamos
nos embrutecendo a cada notícia mentirosa na TV, quando adolescentes morrem e
ninguém vê, quando crianças são estupradas e ninguém sabe, quando velhos morrem
sozinhos em vasos sanitários sujos.
Estamos
nos embrutecendo.
Meio-dia testemunha
uma briga louca no trânsito, um esperar eterno em salas de espera de
balconistas mal-amadas, de atendentes frustrados, de gerentes obsessivamente
perversos, e de crianças entorpecidas por remédios da moda.
Embrutecemo-nos
a cada queda da internet, a cada direito que o governo priva, a cada imposto
que se impõe pela goela, pela força, pela titânica vontade de penetrar e
possuir.
Estamos
nos embrutecendo.
E até
mesmo ás seis da tarde, quando uma ave-maria existia, litros de álcool são
derramados em gargantas profundamente secas por sapos engolidos, por mulheres
que não suportam seus maridos, por homens que se acham deuses do olimpo, por
ex-coroinhas, coroões, flanelinhas, ou cidadãos em situação de rua, de luas, de
guetos e alcaguetes.
Estamos
nos embrutecendo.
Estamos
nos embrutecendo e deus não vem, porque já não falamos a língua dos anjos,
porque não temos juízo, porque queimamos livros de poesia, de receitas, de
pinturas e usamos esculturas como peso de papel em branco.
Estamos
nos embrutecendo. Todos nós.
Poesia:
Jorge Marin
Foto : Lee Jeffries, disponível em https://br.pinterest.com/pin/39125090483543161/
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