sexta-feira, 10 de novembro de 2017

ESTAMOS NOS EMBRUTECENDO


Estamos nos embrutecendo.

Enquanto os corações endurecem, as bocas se amargam, e a raiva e a inveja e o ódio se espalham, estamos nos embrutecendo.

Embrutecemo-nos ao acordar, quando ninguém, mas ninguém mesmo, nos deseja bom dia, quando vivemos uma existência vazia, quando até mesmo o café, antes tão forte, agora é descafeinado, aguado, minguado, solúvel.

Estamos nos embrutecendo a cada notícia mentirosa na TV, quando adolescentes morrem e ninguém vê, quando crianças são estupradas e ninguém sabe, quando velhos morrem sozinhos em vasos sanitários sujos.

Estamos nos embrutecendo.

Meio-dia testemunha uma briga louca no trânsito, um esperar eterno em salas de espera de balconistas mal-amadas, de atendentes frustrados, de gerentes obsessivamente perversos, e de crianças entorpecidas por remédios da moda.

Embrutecemo-nos a cada queda da internet, a cada direito que o governo priva, a cada imposto que se impõe pela goela, pela força, pela titânica vontade de penetrar e possuir.

Estamos nos embrutecendo.

E até mesmo ás seis da tarde, quando uma ave-maria existia, litros de álcool são derramados em gargantas profundamente secas por sapos engolidos, por mulheres que não suportam seus maridos, por homens que se acham deuses do olimpo, por ex-coroinhas, coroões, flanelinhas, ou cidadãos em situação de rua, de luas, de guetos e alcaguetes.

Estamos nos embrutecendo.

Estamos nos embrutecendo e deus não vem, porque já não falamos a língua dos anjos, porque não temos juízo, porque queimamos livros de poesia, de receitas, de pinturas e usamos esculturas como peso de papel em branco.

Estamos nos embrutecendo. Todos nós.


Poesia: Jorge Marin
Foto    : Lee Jeffries, disponível em https://br.pinterest.com/pin/39125090483543161/

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