sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

EU NÃO QUERO COMER GOJI BERRY!


Quando terminarem de ler esta crônica, talvez pensem (da mesma que a minha mulher) que eu entrei numa tremenda roubada. Mas aconteceu, e eu não resisto em contar tudo pra vocês.

Convidado por uma antiga colega de ginásio a ir lanchar com ela numa lanchonete fitness, passei um dos maiores apertos da minha vida. Eu nunca havia entrado num lugar daqueles que, em tudo, parecia uma lanchonete comum, exceto pelo fato de estar cheia de pessoas com essas malhas apertadinhas de ginástica.

Pedimos o cardápio “clorofit” e minha amiga se sentiu muito à vontade para pedir uma castanha-do-pará e um damasco seco recheado com uma noz. Não muito acostumado com aqueles nomes do cardápio, pedi uma sugestão à garçonete e ela, com uma cara de quem conversava com um E.T., disse gentil:
- Percebi que o senhor é novato aqui. Por isso, acho que deveríamos começar com uma coisa menos radical como uma xícara de café de semente de abóbora (ou girassol se o senhor preferir), junto com uma colher de sopa de linhaça dourada triturada.

Achei aquilo tudo muito parecido com a comida que eu dava pra uma arara que eu tive (quando se podia ter arara) e, meio sem graça, recusei. Aí me propôs a coisa mais pedida pelo pessoal e que, segundo ela, eu não iria resistir:
- Já sei – disse – que tal uma tapioca coberta com uma banana amassada, canela e uma colher de sobremesa de amaranto em flocos?

Vendo minha cara de nojo, minha amiga, que já estava na metade do seu damasco, perdeu a paciência e falou:
- Ele é do interior. Não tá acostumado. Traz um goji berry que ele vai gostar. – E, enquanto a garçonete saía sorridente, perguntei:
- O que é esse trem? – e a minha amiga me explicou que era uma frutinha do Tibet, rica em vitamina C, parecida com um tomatinho cereja, mas com gosto de figo.

A garçonete demorou bastante (teria ido colher a fruta lá no pé?) e, quando retornou, me entregou um envelopinho e um copo de água gelada. Misturei aquele pozinho e falei todo alegre:
- Isso eu conheço. É quissuco de groselha! – E, só de sacanagem, ainda tentaram me dar uma geleia, que mais parecia uma meleca, chamada ágar-ágar. Saí correndo.

Quando cheguei em casa, minha mulher me explicou que essa obsessão por alimentos supostamente naturais (como se torresmo não fosse), é uma doença chamada ORTOREXIA. Nervoso, e bastante abalado com aquela experiência, perguntei à amada o que tinha para o almoço, e ela respondeu:
- Taioba! – e, na mesma hora, eu falei, com toda sinceridade do mundo:
- Eu te amo!

Crônica: Jorge Marin

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