Quando terminarem de ler esta crônica, talvez pensem (da mesma que a minha
mulher) que eu entrei numa tremenda roubada. Mas aconteceu, e eu não resisto em
contar tudo pra vocês.
Convidado
por uma antiga colega de ginásio a ir lanchar com ela numa lanchonete fitness, passei um dos maiores apertos
da minha vida. Eu nunca havia entrado num lugar daqueles que, em tudo, parecia
uma lanchonete comum, exceto pelo fato de estar cheia de pessoas com essas
malhas apertadinhas de ginástica.
Pedimos o
cardápio “clorofit” e minha amiga se sentiu muito à vontade para pedir uma
castanha-do-pará e um damasco seco recheado com uma noz. Não muito acostumado
com aqueles nomes do cardápio, pedi uma sugestão à garçonete e ela, com uma
cara de quem conversava com um E.T., disse gentil:
- Percebi
que o senhor é novato aqui. Por isso, acho que deveríamos começar com uma coisa
menos radical como uma xícara de café de semente de abóbora (ou girassol se o
senhor preferir), junto com uma colher de sopa de linhaça dourada triturada.
Achei
aquilo tudo muito parecido com a comida que eu dava pra uma arara que eu tive
(quando se podia ter arara) e, meio sem graça, recusei. Aí me propôs a coisa
mais pedida pelo pessoal e que, segundo ela, eu não iria resistir:
- Já sei –
disse – que tal uma tapioca coberta com uma banana amassada, canela e uma
colher de sobremesa de amaranto em flocos?
Vendo
minha cara de nojo, minha amiga, que já estava na metade do seu damasco, perdeu
a paciência e falou:
- Ele é
do interior. Não tá acostumado. Traz um goji
berry que ele vai gostar. – E, enquanto a garçonete saía sorridente, perguntei:
- O que é
esse trem? – e a minha amiga me explicou que era uma frutinha do Tibet, rica em
vitamina C, parecida com um tomatinho cereja, mas com gosto de figo.
A
garçonete demorou bastante (teria ido colher a fruta lá no pé?) e, quando
retornou, me entregou um envelopinho e um copo de água gelada. Misturei aquele
pozinho e falei todo alegre:
- Isso eu
conheço. É quissuco de groselha! – E, só de sacanagem, ainda tentaram me dar
uma geleia, que mais parecia uma meleca, chamada ágar-ágar. Saí correndo.
Quando
cheguei em casa, minha mulher me explicou que essa obsessão por alimentos supostamente
naturais (como se torresmo não fosse), é uma doença chamada ORTOREXIA. Nervoso,
e bastante abalado com aquela experiência, perguntei à amada o que tinha para o
almoço, e ela respondeu:
- Taioba!
– e, na mesma hora, eu falei, com toda sinceridade do mundo:
- Eu te
amo!
Crônica:
Jorge Marin
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